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11 de outubro de 2024

Jovens e o álcool: o perfil do universitário brasileiro


Por Talita Inaba Publicado 02/09/2013 às 03h00 Atualizado 08/11/2022 às 23h31
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álcoolDe acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os padrões de consumo de álcool mais nocivos, como o “beber para embriagar-se” e o beber pesado episódico (também chamado de heavy episodic drinking, correspondente ao consumo de 4/5 ou mais doses em uma ocasião), estão fortemente associados aos comportamentos de risco (dirigir alcoolizado, violência, sexo desprotegido, entre outros) e são padrões de consumo frequentes entre os adolescentes e adultos jovens, o que merece atenção especial, sobretudo devido às funções que estes deverão exercer à sociedade e ao desenvolvimento do País.

Visando melhor compreender o comportamento do jovem brasileiro com relação ao uso de bebidas alcoólicas, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), em parceria com o Programa do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Departamento e Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Grea-FMUSP), realizou o 1º Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras. Na pesquisa é apresentado o perfil dos jovens frente ao consumo de álcool e outras drogas, as implicações do uso destas substâncias na saúde e no desempenho acadêmico, bem como os comportamentos de risco a ele associados.

Entre os principais resultados, verifica-se que o álcool é a substância mais utilizada entre os universitários, com aproximadamente 90% tendo relatado o consumo na vida. Nota-se que grande parte relatou o consumo no último ano (72%) e 60,5% beberam no mês que antecedeu a entrevista o que mostra que o consumo do álcool é um comportamento frequente e repetido entre a maioria dos estudantes. Em relação ao uso de álcool na vida e o gênero, constatou-se que praticamente não houve diferença entre os gêneros.

Outra informação interessante é que, embora a legislação brasileira proíba a venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos de idade, 79% dos jovens com idade abaixo de 18 anos relataram ter consumido bebidas alcoólicas. Verifica-se ainda que o uso entre os universitários se inicia precocemente, com metade dos jovens (54%) tendo experimentado antes dos 16 anos (20% antes dos 14 anos, 34% antes dos 15 anos, 54% antes dos 16 anos e 49% entre 14 e 16 anos). Este último dado deve ser observado com cautela, visto que a amostra estudada é de jovens e uma parcela pode ainda não ter tido contato com o álcool, além disso, um viés de recordação pode ter ocorrido entre os indivíduos mais velhos que referiram o uso na vida.

Ao analisar o consumo de risco para problemas relacionados ao álcool, verificou-se que 25% dos universitários relataram pelo menos uma ocasião de consumo pesado episódico ( heavy episodic drinking ) no mês anterior à entrevista, ou seja, um em cada quatro estudantes está frequentemente exposto a comportamentos de risco, como acidentes de trânsito, atos violentos, sexo desprotegido, entre outros. Ademais, 19% apresentaram consumo do álcool de risco moderado para o desenvolvimento de dependência e 3% de alto risco.

Em relação aos comportamentos de risco decorrentes do uso de bebidas alcoólicas, constatou-se que a chance do estudante dirigir embriagado foi quatro vezes maior entre aqueles que beberam em níveis moderados (3-4 doses) quando comparados aos que haviam consumido apenas 1 dose. Com o aumento do consumo, verificou-se também o aumento do risco de problemas: aqueles que beberam 5 ou mais doses estavam quase cinco vezes mais propensos a se envolver em um acidente de trânsito. Mesmo que pouco significativo, o aumento do consumo também esteve associado ao aumento do risco, principalmente, entre os homens, de dirigir automóveis sem o cinto de segurança, em alta velocidade, ser advertido ou brigar no trânsito. Quanto a pegar carona com um motorista alcoolizado, o risco de engajar-se nesse comportamento foi quase quatro vezes maior entre estudantes que ingeriram até 2 doses de álcool do que entre aqueles que não bebiam. A probabilidade desse comportamento ocorrer foi proporcional ao número de doses consumidas: os indivíduos apresentaram 6, 9 e até 15 vezes mais chances de engajarem-se nesse comportamento após consumir, respectivamente, 3, 4 e 5 ou mais doses de bebidas alcoólicas. Isso demonstra que, mesmo em pequenas quantidades, o uso do álcool está associado a comportamentos de risco no trânsito.

De maneira geral, a entrada na universidade inaugura um período de maior autonomia e possibilita novas experiências aos jovens; para alguns, constitui-se um momento de maior vulnerabilidade e, portanto, maior suscetibilidade ao uso de substâncias, bem como aos prejuízos decorrentes do mesmo.

Dados como os citados acima nos possibilitam compreender o perfil do universitário brasileiro e demonstram a grande exposição dos jovens ao álcool, especialmente entre as mulheres. Desta forma, cabem aos profissionais da área da saúde, academia, pais, educadores, governantes e à sociedade como um todo atentar para este público oferecendo informações de qualidade sobre os prejuízos decorrentes do uso precoce e prejudicial do álcool. Verifica-se, ainda, a necessidade de programas de prevenção com o intuito de, não apenas postergar o início do uso, mas principalmente olhar para os jovens que já consomem álcool, a fim de que o uso não evolua para um consumo de risco, e para aqueles que o fazem, oferecer apoio para que não desenvolvam problemas mais graves, como a dependência.

Arthur Guerra de Andrade é médico psiquiatra e presidente-executivo do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA)

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