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04 de novembro de 2024

Número de mortes sobre duas rodas


Por Mariana Czerwonka Publicado 07/06/2013 às 03h00 Atualizado 08/11/2022 às 23h38
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O número de mortes em acidentes de trânsito com motos no Brasil aumentou 263,5% em 10 anos, segundo dados do SIM (Sistema de Informações de Mortalidade), criado pelo Ministério da Saúde. Em 2011, foram 11.268 mortes no País, contra 3.100 usuários de motos mortos em 2001.

O governo informa que os dados de 2011 são os mais recentes disponíveis, visto que o processo de registro de óbito é demorado, levando até dois anos para contabilizar todos os casos.

O salto no número de vítimas fatais em acidentes com motos é bem maior que o aumento do número de mortos por acidentes de trânsito em geral, que envolve carros, motos, caminhões, ônibus, pedestres. Em 2011, foram 42.425 mortes contra 30.524 registradas em 2001 – alta de 39%.

No mesmo período, a frota brasileira de veículos de duas rodas aumentou 300%, segundo a Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas e Similares), com base em números divulgados pelo Denatran (Departamento Nacional de Trânsito). A quantidade de motos emplacadas no Brasil saltou de 4.611.301 unidades, em 2001, para 18.442.413, em 2011.

Fator humano

Especialistas apontam o despreparo de motociclistas e motoristas de carro como as principais causas de acidentes, apesar de não haver pesquisas mais precisas sobre seus motivos no País.

“O fator humano está presente em grande parte, além do crescimento rápido da frota. Existe também a falta de habilitação, ignorância sobre regras de segurança, não uso de equipamentos e imprudência associada com falta de políticas de transporte adequadas para o uso da motocicleta no trânsito do Brasil”, aponta Júlia Greve, coordenadora do HC em Movimento, um programa de prevenção de acidentes do Hospital das Clínicas, em São Paulo.

Segundo os médicos do hospital, a maioria das mortes de motociclistas é motivada por lesões na cabeça.

Internações

Segundo o Ministério da Saúde, em 2011 houve 155.656 internações por acidentes de trânsito, com custo de R$ 205 milhões. Os acidentes de moto corresponderam a 77.113 delas, totalizando gasto de R$ 96 milhões.

Marcelo de Rezende, médico do IOT e também coordenador do HC em Movimento, afirma que 44% dos atendimentos no pronto-socorro do HC é de motociclistas.

Segundo ele, o atendimento rápido da vítima é crucial. “Normalmente, o indivíduo chega ao local e fica esperando para fazer o tratamento, pois nem sempre existe um especialista para seu caso. A rapidez no atendimento traz menos infecção, recuperação mais rápida e menor quantidade de sequelas”, esclarece Rezende.

Para o médico, o motociclista não vê a situação de risco e 80% dos acidentados diz que não teve culpa. O médico Rezende também é motociclista, com 29 anos de experiência. “É um transporte mais perigoso, sem dúvida. Quem quiser utilizá-lo tem de praticar ‘direção defensiva’. São vários conceitos, até a velocidade que se deve andar até o local”, afirma o profissional.

Perfil dos acidentados

“A maioria dos acidentados vem de uma classe baixa economicamente, tem de 18 a 30 anos e cerca de 50% usa a moto como meio de transporte”, diz Rezende, traçando um perfil dos motociclistas atendidos no HC.

Ao divulgar os dados do primeiro trimestre deste ano para os pagamentos do seguro obrigatório (DPVAT), a Seguradora Líder, que administra o serviço, voltou a apontar as motos como primeiras colocadas no ranking nacional, chamando o dado de “preocupante”, porque esse tipo de veículo corresponde a apenas 27% da frota brasileira.

Em 2012, as motos lideraram as solicitações do DPVAT no País, com 69% do total, ficando à frente de carros (25%), caminhões (4%) e ônibus (2%).

O Nordeste foi a região com maior quantidade de pagamentos no ano passado, correspondendo a 29% do total, superando o Sul (28%) e o Sudeste (25%). O crescimento do uso de motocicletas no Nordeste é apontado como fator responsável pela alta de solicitações do DPVAT.

Polêmica do corredor

Para a médica Júlia Greve, o deslocamento de motos nos chamados “corredores”, o espaço entre duas filas de outros veículos, é agravante nos acidentes. “Principalmente na velocidade em que se anda quando os outros veículos também estão em movimento”, opina. De acordo com o Denatran, o artigo que previa a proibição de motos no corredor foi vetado em 1997 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Apesar de não ser ilegal o uso do corredor, o órgão alerta que as motocicletas devem seguir as regras de circulação geral de todos os veículos e que deixar de guardar distância de segurança, lateral ou frontal, de outro veículo pode ser interpretado com infração e o usuário pode ser multado, o que, na prática, não se observa nas ruas brasileiras. “Se o corredor for proibido vai aumentar o número de mortes de motociclistas. Sem mencionar o caos no tráfego urbano”, afirma André Garcia, instrutor de pilotagem, advogado e especialista em gestão de trânsito.

“No Brasil, o motociclista é marginalizado pelo próprio Estado. Se em países como França, Itália, Espanha a motocicleta é vista como um importante veículo para tornar eficaz a política de mobilidade, o Brasil caminha na contramão”, acrescenta.

Na Europa, apesar de algumas vias serem restritas à circulação de motos no corredor, o ato é comum na Itália, França e Espanha. Nos Estados Unidos, onde as leis de trânsito são diferentes em cada Estado, o chamado “lane splitting” é permitido apenas na Califórnia. Apesar do endurecimento americano para a circulação nos corredores, muitos Estados não obrigam todos os motociclistas a usar capacete.

Reais causas

Em busca de respostas para as causas dos acidentes de motos no Brasil, o Hospital das Clínicas de São Paulo e a Abraciclo trabalham em projeto para analisar os motivos específicos dos acidentes. A pesquisa envolve a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-SP) e as polícias Civil e Militar, com um investimento de R$ 420 mil por parte das fabricantes de motocicletas associadas.

O levantamento é feito em área da Zona Oeste de São Paulo e conta com a participação de funcionários do hospital no momento das internações. De acordo com os fabricantes de motocicletas, a pesquisa está em fase final de apuração e será divulgada até o final do ano.

A proibição para motos circularem nos corredores foi vetada em 1997, mas o Denatran diz que não manter a distância de outros veículos pode render multa.

Fonte: Tribuna do Norte

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