Velocidade na mira: a nova estratégia de fiscalização que promete reduzir sinistros
Enquanto especialistas defendem a eficácia do monitoramento por velocidade média, o Brasil ainda debate sua regulamentação em meio a um cenário alarmante de infrações.

O Brasil enfrenta um desafio persistente no combate ao excesso de velocidade nas rodovias. Dados do Registro Nacional de Infrações de Trânsito (Renainf) revelam que, apenas em novembro de 2024, mais de 2,9 milhões de motoristas foram flagrados dirigindo acima da velocidade permitida — o equivalente a mais de 4 mil infrações por hora. E mais do que o número alarmante de infrações, o que assusta mais é que o excesso de velocidade está totalmente ligado aos graves sinistros de trânsito que acontecem nas vias brasileiras.
Para enfrentar essa realidade, a fiscalização por velocidade média desponta como uma alternativa promissora. Diferente dos radares tradicionais, que registram a velocidade em pontos isolados, esse modelo monitora o comportamento do condutor ao longo de um trecho inteiro, promovendo uma condução mais constante e segura.
Essa abordagem já se mostrou eficaz em diversos países, como Reino Unido, Áustria e Noruega, onde houve o registro de uma redução de até 50% nos acidentes com vítimas fatais ou graves. No Brasil, no entanto, o sistema ainda encontra barreiras legais.
Como funciona a fiscalização por velocidade média?
A base do sistema está em um cálculo simples da física:
Velocidade média = deslocamento ÷ variação do tempo.
Na prática, dois pontos de monitoramento (com câmeras e reconhecimento de placas) registram o horário exato em que o veículo passa por cada ponto. Ao comparar o tempo gasto para percorrer a distância entre eles, o sistema calcula a velocidade média do trajeto. Se essa velocidade ultrapassar o limite permitido na via, o condutor poderá ser autuado.
De acordo com Celso Mariano, especialista e diretor do Portal do Trânsito, a grande vantagem está justamente na lógica preventiva.
“Ao exigir uma velocidade constante ao longo do percurso, o sistema dificulta a prática comum de frear apenas ao avistar um radar fixo e acelerar logo depois. O motorista precisa manter o respeito aos limites durante todo o trecho monitorado”, alerta.
E no Brasil, como está?
Apesar dos resultados positivos no exterior, o Brasil ainda não regulamentou oficialmente o uso da fiscalização por velocidade média. O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) não publicou normas específicas sobre o tema, o que impede, por ora, sua aplicação para fins de autuação.
Mesmo assim, testes vêm sendo realizados. Em São Paulo, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) iniciou, em dezembro de 2024, estudos com câmeras já instaladas para monitorar a velocidade média em determinados corredores urbanos. A proposta é levantar informações e avaliar os impactos antes de uma eventual regulamentação.
Debate nacional ganha força
O tema ganhou destaque nacional no dia 9 de maio de 2025, quando a Superintendência da Polícia Rodoviária Federal no Paraná promoveu um evento reunindo representantes dos Três Poderes, especialistas em trânsito, entidades civis e organismos internacionais. O foco foi discutir o Projeto de Lei 2789/2023, que propõe a regulamentação do modelo no país.
Além de compartilhar experiências internacionais, o encontro tratou de impactos em áreas como saúde pública, mobilidade urbana e gestão de tráfego. Para os defensores da proposta, o sistema tem potencial educativo e pode salvar vidas. Ou seja, um argumento que ganha ainda mais peso diante do cenário atual de imprudência nas estradas.
O que vem pela frente?
A expectativa é que, com a maturação dos debates e eventual regulamentação pelo Contran, o Brasil passe a integrar o grupo de países que usam a fiscalização por velocidade média como ferramenta estratégica de segurança viária. O modelo, se adotado, pode trazer benefícios não apenas para motoristas, mas também para pedestres, ciclistas e toda a sociedade.
Por enquanto, o tema continua em análise técnica, política e jurídica — mas o consenso entre especialistas é claro: reduzir a velocidade média dos veículos nas vias é um passo essencial para salvar vidas.