Artigo: Bola da vez
J. Pedro Corrêa, com toda sua experiência e conhecimento, sugere modificações e melhorias pontuais no trânsito brasileiro. Leia!
J. Pedro Corrêa*
O Brasil acompanha com interesse a aprovação pelo Congresso Nacional do novo marco legal do saneamento básico no país. Pelos debates na Câmara dos Deputados tomamos conhecimento de informações que deveriam nos envergonham sobre a situação do tratamento sanitário nas várias regiões brasileiras. Assim, é importante que o Senado aprove este projeto para que a agenda de outras prioridades nacionais possa ser atacada.
Espero que próxima pauta do Governo e Congresso seja enfrentar a penosa situação do trânsito brasileiro cujos danos são sido lembrados sistematicamente nos debates que fervilham pelo país afora. Segundo estimativas baseadas em dados do Datasus, do Ministério da Saúde, só neste século – vale dizer do ano 2000 até agora – já morreram mais de 800 mil pessoas e milhões de outras ficaram sequeladas em acidentes de trânsito. O custo material desses milhões de acidentes, neste período, ultrapassa 700 bilhões de reais.
Se é verdade que o trânsito é o primeiro cartão de visitas de um país ou de uma cidade, então estamos muito mal na foto.
Melhorar o trânsito será mais fácil (ou menos difícil) que consertar o saneamento. Diferente deste, onde investimento pesado é indispensável, no trânsito o primeiro e grande requisito é simplesmente a mudança de atitude por parte do governo. Bastará uma análise detalhada dos gargalos do nosso trânsito, promover mudanças importantes e inadiáveis no Sistema Nacional de Trânsito (SNT), montar e implementar um plano de ação de 10 anos para que resultados apareçam. Se o Governo acenar positivo, o setor privado virá junto assim como a sociedade. Afinal o tema angustia a todos pois tanto governo, como empresas, como comunidades são perdedores nesta guerra desumana e fratricida.
Haverá muito por fazer no campo da infraestrutura, com recuperação, pavimentação, duplicação de estradas, melhorias dos sistemas viários urbanos nas maiores cidades, modernização da sinalização, salto de qualidade na fiscalização, monitoramento, pesquisas e estatísticas do trânsito, enfim, a lista de pendências é grande. A grande mudança, contudo, deve acontecer no gerenciamento do SNT, cujo modelo atual não dá conta do recado. Modernizá-lo, redesenhá-lo, corrigir suas falhas, ajustá-lo aos novos tempos é imperativo. Neste sentido, o Governo Federal tem em mãos várias sugestões formuladas por instituições e técnicos da área.
Os países que hoje lideram a segurança no trânsito no mundo iniciaram seus projetos há 50, 60 anos e desde então, não pararam de aperfeiçoá-los. Aqui, com esforços conjuntos de Governo-setor privado-sociedade e o uso das novas tecnologias, é possível alcançar expressivos resultados em menos tempo – mas não muito. Se conseguirmos isto podemos dar um bom motivo de orgulho a nossos filhos e netos por havermos deixado um trânsito melhor para as futuras gerações.
Por isto, aqui gosto de usar o verbo esperançar. Esperança requer perseverança, acreditar que algo é possível mesmo quando há indicações do contrário como a tragédia diária do trânsito atual. Neste contexto, é importante lembrar a observação do Prêmio Nobel da Paz de 1952, o alemão Albert Schweitzer:
“tragédia da vida é o que morre dentro do homem enquanto ele ainda vive”.
Não podemos deixar a esperança morrer dentro de nós.
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J. Pedro Corrêa é consultor em programas de segurança no trânsito