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26 de julho de 2024

Artigo: Eleição e mortos


Por Artigo Publicado 26/10/2020 às 18h40 Atualizado 08/11/2022 às 21h40
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No dia em que vamos eleger os mandatários das cidades, vamos também reverenciar os mortos no trânsito. Isto é uma coincidência ou um alerta providencial? Leia o artigo.

J. Pedro Correa*   

Eleições e mortos no trânsitoFoto: Pixabay.com

O próximo dia 15 de novembro de 2020 poderá marcar uma coincidência histórica através de um fato inédito: será o dia em que vamos eleger os prefeitos e vereadores que vão mudar os destinos das nossas cidades, mas também será o dia em que milhares de brasileiros vão dedicar reflexões, orações e, quem sabe, ações em memória das vítimas de acidentes de trânsito. Desde 2005, sempre no terceiro domingo de novembro, o mundo todo, por orientação da ONU, deve reverenciar a memória das vítimas dos acidentes de trânsito.

Na verdade, a história começa um pouco antes.

Em 1995 organizações europeias de vítimas de acidentes de trânsito (FEVR) marcaram esta data como o dia europeu em memória às vítimas de trânsito, mas logo em seguida ONGs da África, América do Sul e Ásia juntaram-se à Europa. Em 26 de outubro de 2005 a Assembleia Geral da ONU adotou o terceiro domingo de novembro como a data apropriada para reverenciar as vítimas do trânsito e suas famílias. Desde então, ele é comemorado em todos os continentes por governos, ongs, entidades que advogam a segurança no trânsito, que querem marcar a data para refletir sobre a violência no trânsito e as várias formas de estancá-la.

O Brasil deveria saber aproveitar melhor oportunidades como esta pois tem milhares de razões para ressaltar a importância do fato. Se olharmos apenas o ano passado, tivemos mais de 30 mil mortes no trânsito brasileiro além de 200.000 internados nos hospitais de emergência pelo país. Se formos um pouco além e analisarmos apenas as perdas humanas desde 2010, estamos falando de 391.355 mortos e 1.721.905 hospitalizados pelo sistema SUS. Os dados são do Datasus.

Fui pesquisar na Internet quais as principais ações previstas para o próximo 15 de novembro e não encontrei qualquer registro. Soube que o Denatran programou um webinar para dia 13. Pode ser que aconteça mais alguma coisa aqui ou ali, mas, pelo jeito, nada de maior repercussão. Pena!

De certa forma esta inação é até sinal de coerência: afinal, se banalizamos as fatalidades no trânsito porque iríamos valorizar o dia de memória daqueles que morreram nestes eventos.

Creio que nada evidencia mais a falta de prioridade do trânsito no contexto atual brasileiro.

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Artigo: Visão Zero no Brasil 

Artigo: Década Municipal de Segurança no Trânsito

O fato, contudo, de a data coincidir com o dia das eleições municipais pode ter um significado interessante a explorar: terá sido uma mera coincidência ou pode ser um sinal de alerta para lembrar prefeitos, vereadores e, enfim, a toda classe política de que está na hora de iniciarmos uma nova era na história do trânsito brasileiro?

É inacreditável que continuemos condenados a ser o “país do futuro” também no trânsito! De verdade, nunca na história deste país, o trânsito mereceu um olhar mais cuidadoso. No entanto, o Brasil está entre as 10 mais importantes economias do mundo, temos uma indústria automobilística de ponta e, para o bem ou para o mal, temos um transporte rodoviário dos mais expressivos da terra. No entanto, temos também um registro vergonhoso de acidentes e mortes no trânsito.

O que aumenta a frustração é que praticamente temos os instrumentos para desenvolver um plano de ação para colocar o trânsito brasileiro na mão certa.

Temos gente competente para montar um planejamento para as próximas décadas, recursos não faltarão e muito menos apoio por parte da sociedade e setor privado. Não é tão fácil assim, óbvio, mas tampouco impossível.

Por isso prefiro aproveitar a coincidência da data de 15 de novembro para a eleição de prefeitos e vereadores para destacar a importância deles numa sonhada retomada da segurança no trânsito. Não é demais lembrar que o trânsito ocorre nas cidades e, portanto, é lá que deve começar a ser resolvido. Não há necessidade de planos mirabolantes nem de orçamentos inalcançáveis.

Shakespeare já dizia que “onde houver vontade, haverá um jeito”. Tudo o que se pede neste momento é de um sopro de vontade política para começar a estancar uma das maiores angústias da sociedade brasileira. Esta vontade não deverá vir apenas dos eleitos neste dia 15 mas de todas as lideranças da sociedade em geral para dar uma ressignificação ao sagrado direito de ir e vir com segurança, hoje tão arranhado no nosso país. Pode ser pedir muito pouco, mas já será o bastante!

*J. Pedro Correa é Especialista em Segurança no Trânsito

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