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13 de novembro de 2024

Como a greve dos motoristas de aplicativo e a queda dos usuários do transporte coletivo impactam na mobilidade urbana?

Além dos impactos na mobilidade urbana, há consequências econômicas e sociais. Leia a entrevista!


Por Pauline Machado Publicado 23/05/2023 às 13h30 Atualizado 26/05/2023 às 11h20
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Greve dos motoristas de aplicativo
Quanto menos pessoas utilizam o transporte coletivo, há uma série de consequências negativas. Foto: Depositphotos

Reivindicando uma tarifa mínima de R$ 10 e a cobrança mínima de R$ 2 por quilômetro rodado, os motoristas de aplicativos se uniram e fizeram uma greve nacional no meio do mês de maio, mais precisamente dia 15/05. Em Curitiba, por exemplo, cerca de 335 mil passageiros ficaram sem transporte por aplicativo. Além disso, devido à paralização, o montante de R$ 947 mil deixou de circular na economia de Curitiba e Região Metropolitana.

Em paralelo, a capital paranaense também sofre com a queda do uso de transporte público. De acordo com pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes, apenas 25% dos curitibanos optam pelo uso de transporte público para se deslocar.

Diante deste cenário, e pensando em nível nacional, conversamos com exclusividade com Mércia Gomes, conselheira do CETRAN/SP e MBA em Gestão Pública e Cidades Inteligentes, para saber quais os impactos desses fatores na mobilidade urbana.

De modo geral, a especialista explica que a greve dos motoristas de aplicativo afeta diretamente a disponibilidade de transporte individual, resultando em longos tempos de espera e dificuldades para encontrar um carro disponível. Isso pode levar a um aumento da demanda por transporte público, colocando pressão adicional sobre o sistema.

A queda no uso do transporte público é igualmente preocupante. Quando menos pessoas utilizam o transporte coletivo, há uma série de consequências negativas.

“As operadoras enfrentam uma redução na receita de bilhetagem, o que pode comprometer a qualidade dos serviços e levar a cortes de linhas e horários. Além disso, mais pessoas optando pelo transporte individual pode resultar em congestionamentos e tempos de viagem mais longos”, assegura.

Ela destaca, ainda, que tais eventos também têm implicações sociais e econômicas. “A paralisação dos motoristas de aplicativo afeta diretamente a renda desses profissionais. E, ao deixar de circular na economia, pode gerar impactos negativos no comércio e em outras atividades dependentes do transporte de pessoas”, acrescenta. Ela diz ainda que a pesquisa que indica apenas 25% dos curitibanos optando pelo transporte público é preocupante.

De acordo com ela, o transporte coletivo é fundamental para promover uma mobilidade sustentável, reduzir o tráfego e as emissões de poluentes. Logo, é necessário investigar as razões por trás dessa queda de uso e tomar medidas para melhorar a atratividade e a eficiência do transporte público.

“Em nível nacional, é essencial que haja diálogo entre as partes envolvidas, incluindo motoristas de aplicativo, empresas, usuários e autoridades. É preciso buscar soluções equilibradas que garantam condições justas para os motoristas e ao mesmo tempo promovam uma mobilidade urbana eficiente, sustentável e acessível para os cidadãos”, enfatiza.

Acompanhe a entrevista sobre os impactos da greve dos motoristas de aplicativo para a mobilidade na íntegra.

Portal do Trânsito – O que diz a legislação sobre as formas de cobrança das empresas de serviço de transporte por aplicativo?

Mércia Gomes – No Brasil, a legislação relacionada às formas de cobrança das empresas de serviço de transporte por aplicativo é abrangente e envolve diferentes aspectos. Algumas das principais leis e regulamentações que abordam essa questão são:

Lei Federal nº 13.640/2018  essa lei ficou conhecida como a Lei da Uber, mas é aplicável a todas as empresas de transporte por aplicativo. Ela estabelece diretrizes gerais para a regulamentação desse tipo de serviço, incluindo a permissão para que empresas privadas ofereçam transporte remunerado de passageiros, desde que cumpram determinados requisitos.

Regulamentações municipais– além da legislação federal, cada município pode ter suas próprias regulamentações específicas para os serviços de transporte por aplicativo. Essas regulamentações podem incluir requisitos para registro e licenciamento das empresas, exigência de seguro para os motoristas e estabelecimento de tarifas máximas ou critérios para a precificação dos serviços.

Estabelecimento de tarifas– a legislação não fixa um valor específico para as tarifas cobradas pelas empresas de transporte por aplicativo. Em geral, as empresas têm liberdade para definir suas próprias políticas de preços, levando em consideração a oferta e a demanda, a distância percorrida, o tempo de viagem, entre outros fatores.

Transparência nas cobranças– a legislação também exige que as empresas de transporte por aplicativo forneçam transparência nas cobranças realizadas aos passageiros. Isso inclui a apresentação prévia do valor da viagem, informações claras sobre possíveis taxas extras – como pedágios e tarifas de pico, e a emissão de comprovantes de pagamento aos usuários.

É importante ressaltar que a legislação sobre transporte por aplicativo ainda está em evolução no Brasil, e podem ocorrer alterações e novas regulamentações ao longo do tempo.

Portanto, é essencial que empresas e motoristas estejam atualizados em relação às leis e regulamentações específicas de suas respectivas cidades e cumpram as obrigações legais estabelecidas.

Portal do Trânsito – A Uber, por exemplo, é classificada como uma empresa de tecnologia e não de mobilidade urbana. De alguma forma isso interfere na forma de remuneração dos seus prestadores de serviço?

Mércia Gomes – A classificação da Uber como uma empresa de tecnologia, em vez de uma empresa de mobilidade urbana, tem implicações significativas na forma como ela remunera seus prestadores de serviços. Existem alguns motivos para isso.

Modelo de negócio- a Uber opera como uma plataforma digital que conecta motoristas e passageiros. Ela fornece a infraestrutura tecnológica que permite a solicitação e o acompanhamento das viagens, além de facilitar os pagamentos. Nesse modelo, a Uber não se considera um empregador direto dos motoristas, mas sim uma facilitadora do serviço.

Prestadores de serviços independentes– a Uber classifica os motoristas como prestadores de serviços independentes, em vez de funcionários. Essa classificação tem implicações legais e trabalhistas, já que os motoristas não são considerados empregados, mas sim parceiros de negócios que utilizam a plataforma para oferecer seus serviços.

Flexibilidade e autonomia– a Uber argumenta que a classificação dos motoristas como prestadores de serviços independentes oferece a eles flexibilidade e autonomia para trabalhar quando e como desejarem.

Essa flexibilidade é um dos atrativos para muitos motoristas, pois podem definir seus próprios horários e decidir quando desejam aceitar corridas.

Estrutura de remuneração– como os motoristas são considerados prestadores de serviços independentes, eles não recebem salários fixos da Uber. Em vez disso, eles são remunerados com base na atividade, recebendo uma porcentagem do valor da viagem (geralmente em torno de 75 a 80%). A Uber retém uma parte como comissão e repassa o restante ao motorista. Essa estrutura de remuneração está diretamente relacionada ao modelo de negócio da empresa e à classificação dos motoristas como prestadores de serviços independentes.

No entanto, é importante ressaltar que a classificação dos motoristas como prestadores de serviços independentes tem sido objeto de debates legais em vários países. Alguns argumentam que os motoristas devem ser considerados funcionários, o que implicaria em uma série de obrigações trabalhistas e direitos adicionais.

Essas questões estão sendo discutidas em tribunais ao redor do mundo e podem levar a mudanças na forma como a Uber e outras empresas de transporte por aplicativo remuneram seus motoristas no futuro.

Portal do Trânsito – E quanto à regulamentação da atividade de motorista por aplicativo, o que temos estabelecido legalmente?

Mércia Gomes – No Brasil, a atividade de motorista por aplicativo é regulamentada principalmente pela Lei Federal nº 13.640/2018, conhecida como a “Lei da Mobilidade Urbana”, e pela Resolução nº 16/2017 da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Além disso, é importante mencionar que cada município pode ter regulamentações adicionais que se apliquem especificamente à sua área.

A Lei da Mobilidade Urbana reconhece os serviços de transporte remunerado privado individual de passageiros, como os oferecidos por empresas de transporte por aplicativo. Alguns pontos relevantes estabelecidos por essa lei são:

Categorias de transporte – a legislação estabelece duas categorias de transporte remunerado privado individual de passageiros:

a) Transporte Privado Individual (TPI): realizado por meio de plataformas digitais, como os aplicativos de transporte por aplicativo.

b) Transporte Público Individual (TPIV): realizado por meio de táxis.

Requisitos para os motoristas:

a) CNH (Carteira Nacional de Habilitação) na categoria B ou superior, com informação de que exerce atividade remunerada (EAR).

b) Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo (CRLV), que deve ser emitido em nome do motorista ou do proprietário, com a informação de que o veículo é destinado ao transporte remunerado de passageiros.

c) Contratação de seguro de Acidentes Pessoais a Passageiros (APP).

Responsabilidade das empresas de aplicativo:

a) As empresas de transporte por aplicativo devem se cadastrar e obter autorização junto às autoridades competentes.

b) Devem compartilhar informações sobre as viagens realizadas com os órgãos competentes.

c) Podem definir preços, formas de pagamento e outros critérios comerciais, desde que em conformidade com a legislação.

d) Devem manter uma política de segurança e privacidade das informações dos usuários.

A Resolução nº 16/2017 da ANTT estabelece diretrizes específicas para o transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros. Ela define as obrigações das empresas de transporte por aplicativo que atuam nesse segmento e estabelece requisitos para os motoristas e os veículos utilizados.

Vale ressaltar que a regulamentação pode variar entre os estados e municípios brasileiros, e algumas cidades podem ter legislações específicas para regulamentar o transporte por aplicativo. Portanto, é sempre importante verificar as leis e regulamentos locais para obter informações atualizadas e específicas da sua região.

Portal do Trânsito – E quanto à manifestação dos motoristas, é plausível?

Mércia Gomes – Conforme Art. 1º da Constituição Federal, é livre o direito de manifestação, in verbis: “É livre a manifestação do pensamento e a procura, o recebimento e a difusão de informações ou ideias, por qualquer meio, e sem dependência de censura, respondendo cada um, nos termos da lei, pelos abusos que cometer.”

A plausibilidade de uma manifestação dos motoristas depende de vários fatores, incluindo as demandas e preocupações específicas dos motoristas, as condições do setor de transporte por aplicativo, as políticas governamentais e a mobilização dos motoristas para realizar a manifestação.

A paralisação nacional foi convocada através das redes sociais por influenciadores digitais de todo o Brasil e teve adesão da FEMBRAPP – Federação dos Motoristas por Aplicativo do Brasil.

No passado, houve casos de manifestações de motoristas de aplicativos em várias partes do mundo, em resposta a questões como condições de trabalho, remuneração, direitos trabalhistas e políticas das empresas de aplicativos. Essas manifestações ocorreram como uma forma de chamar a atenção para as preocupações dos motoristas e pressionar por mudanças.

Se houver uma manifestação planejada pelos motoristas, é provável que esteja relacionada a questões específicas enfrentadas por eles no setor de transporte por aplicativo. Alguns possíveis motivos podem incluir remuneração inadequada, falta de benefícios trabalhistas, regulação governamental desfavorável, questões de segurança, entre outros.

Portal do Trânsito – Qual é o impacto desta paralisação para a nossa economia?

Mércia Gomes – O impacto de uma paralisação dos motoristas de aplicativo na economia depende de vários fatores, como a escala da paralisação, a duração e a extensão geográfica. Essa paralisação pode afetar diferentes setores e partes interessadas da economia de maneiras diversas. Aqui estão alguns possíveis impactos que podem ocorrer:

Transporte público e mobilidade: se um grande número de motoristas de aplicativo participar da paralisação, pode haver uma redução significativa da disponibilidade de transporte privado para a população.

Isso pode sobrecarregar outros meios de transporte, como táxis, transporte público e transporte particular, causando congestionamentos e dificuldades para os passageiros se deslocarem.

Economia local – as paralisações podem impactar negativamente a economia local, especialmente se durarem por um período prolongado. Com menos motoristas de aplicativo disponíveis, as pessoas podem enfrentar dificuldades para chegar ao trabalho, realizar compras e acessar serviços, o que pode reduzir a atividade econômica em determinadas áreas.

Setor de turismo– se a paralisação ocorrer em uma região turística, pode haver um impacto direto no setor do turismo. Os turistas podem enfrentar dificuldades para se locomover e visitar atrações locais, resultando em uma diminuição no número de visitantes e nas receitas relacionadas ao turismo.

Empresas de aplicativos– as paralisações podem ter impacto direto nas empresas de transporte por aplicativo, especialmente se forem prolongadas. A redução na disponibilidade de motoristas e a interrupção dos serviços podem levar a uma diminuição nas receitas das empresas, afetando seus negócios e a avaliação de mercado.

Discussões e negociações– as paralisações podem chamar a atenção para as preocupações dos motoristas de aplicativo e incentivar discussões e negociações entre as partes interessadas, como os motoristas, as empresas de aplicativos e as autoridades governamentais. Isso pode levar a mudanças nas políticas, regulamentações ou acordos entre as partes envolvidas.

É importante ressaltar que o impacto econômico específico de uma paralisação de motoristas de aplicativo pode variar dependendo do contexto e das circunstâncias locais.

Recomenda-se monitorar as notícias e as informações atualizadas sobre a paralisação em questão para entender melhor seu impacto na economia específica em consideração.

Portal do Trânsito – E para o dia a dia dos brasileiros, se para usufruírem do serviço for preciso arcar com o pagamento de tarifas acima da média?

Mércia Gomes –  Se os usuários de serviços de transporte por aplicativo tiverem que arcar com o pagamento de tarifas acima da média devido a uma paralisação dos motoristas ou a um aumento temporário na demanda, isso pode ter impacto no dia a dia dos brasileiros de algumas maneiras:

Custo de transporte– o aumento nas tarifas pode resultar em um aumento no custo total do transporte para os usuários. Se as tarifas estiverem acima da média, os usuários podem precisar gastar mais dinheiro para se deslocar, o que pode afetar seus orçamentos diários.

Acessibilidade– tarifas mais altas podem tornar o transporte por aplicativo menos acessível para algumas pessoas, especialmente aquelas com orçamentos limitados. Isso pode limitar a opção de transporte disponível para os usuários, forçando-os a procurar alternativas menos convenientes ou mais caras.

Planejamento e conveniência– tarifas mais altas podem impactar o planejamento de viagens e a conveniência para os usuários. Se as tarifas estiverem acima da média, os usuários podem ter que reconsiderar seus planos de viagem, buscar outras opções de transporte ou esperar até que as tarifas voltem ao normal para evitar custos adicionais.

Uso de serviços alternativos– o aumento nas tarifas pode levar os usuários a buscar serviços de transporte alternativos, como táxis tradicionais, transporte público ou outras opções de compartilhamento de carros. Isso pode resultar em uma mudança nos padrões de uso dos serviços de transporte e nas preferências dos usuários.

É importante ressaltar que o impacto no dia a dia dos brasileiros dependerá da duração da situação e da disponibilidade de outras opções de transporte.

Além disso, as tarifas dinâmicas também são projetadas para incentivar mais motoristas a entrar na plataforma e atender à demanda, o que pode ajudar a reduzir o impacto das tarifas mais altas ao longo do tempo.

Cabe ressaltar que cada situação é única e depende do contexto específico. Recomenda-se acompanhar as informações e as notícias atualizadas sobre a situação para entender melhor o impacto nas tarifas e nos usuários de transporte por aplicativo.

Portal do Trânsito – Neste aspecto, é aceitável legalmente a aplicação de tarifas altas? Quem e de que forma, delimita os valores máximos a serem aplicados e de que forma?

Mércia Gomes – A legalidade da aplicação de tarifas altas em serviços de transporte por aplicativo pode variar dependendo das leis e regulamentações específicas de cada país e região. No caso do Brasil, a definição dos valores máximos das tarifas não é estabelecida por lei, mas sim determinada pela própria lógica de funcionamento dos algoritmos de tarifação dinâmica utilizados pelas empresas de transporte por aplicativo.

As tarifas dinâmicas são uma prática comum nessas plataformas e são baseadas na oferta e demanda do serviço. Quando há uma demanda maior por viagens do que a disponibilidade de motoristas, as tarifas aumentam, com o objetivo de incentivar mais motoristas a entrar na plataforma e atender à demanda.

No entanto, é importante ressaltar que as empresas de transporte por aplicativo precisam estar em conformidade com as leis e regulamentações gerais do país em que operam.

Isso inclui a necessidade de cumprir com obrigações fiscais, trabalhistas e de proteção do consumidor, por exemplo.

Em alguns países, as autoridades podem impor regulamentações específicas sobre os preços ou estabelecer mecanismos para monitorar as tarifas dinâmicas, a fim de evitar abusos ou práticas anticoncorrenciais. Por exemplo, algumas jurisdições podem exigir que as empresas de aplicativos forneçam informações sobre as tarifas praticadas e os algoritmos utilizados.

No Brasil, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) tem uma resolução específica para o transporte remunerado privado individual de passageiros. Porém, ela não estabelece um controle direto sobre as tarifas cobradas pelos serviços de transporte por aplicativo.

No entanto, as empresas de transporte por aplicativo devem operar em conformidade com as leis gerais do país e podem ser regulamentadas em nível municipal, com regras específicas estabelecidas pelas prefeituras.

Em resumo, a aplicação de tarifas altas em serviços de transporte por aplicativo é uma prática aceitável legalmente, desde que esteja em conformidade com as leis e regulamentações gerais do país em que operam. A definição dos valores máximos das tarifas geralmente é determinada pela lógica de oferta e demanda, sem um controle direto estabelecido por lei.

Portal do Trânsito – Em paralelo, as cidades sofrem com queda do número de passageiros que optam pelo transporte público. De que forma essa desvalorização do transporte coletivo afeta a economia brasileira?

Mércia Gomes – A desvalorização do transporte coletivo devido à queda no número de passageiros pode ter vários impactos na economia brasileira. Aqui estão algumas formas como isso pode afetar a economia:

1 – Receitas das empresas de transporte público– a queda no número de passageiros resulta em uma diminuição das receitas das empresas de transporte público, que dependem das tarifas pagas pelos passageiros para cobrir seus custos operacionais. Com menos passageiros, as empresas podem enfrentar dificuldades financeiras, o que pode afetar sua capacidade de manter e melhorar a qualidade do serviço.

2 – Emprego no setor de transporte público– a redução da demanda por transporte público pode levar a demissões e afetar o emprego no setor. Se as empresas de transporte público enfrentarem dificuldades financeiras devido à queda na demanda, elas podem ter que reduzir sua força de trabalho, o que pode ter um impacto negativo sobre os empregos diretos e indiretos associados ao setor.

3 – Setor automobilístico- a queda no uso do transporte público pode levar a um aumento no número de pessoas que optam por utilizar veículos particulares. Isso pode beneficiar o setor automobilístico.

As vendas de veículos novos e usados podem aumentar, impulsionando a indústria automobilística e os setores relacionados, como a produção de peças e serviços automotivos.

4 – Trânsito e congestionamento– com menos pessoas utilizando o transporte público, há uma possibilidade de aumento no número de veículos particulares nas vias. Isso pode levar a um aumento no trânsito e congestionamento. Dessa forma, afetando negativamente a eficiência e produtividade do transporte e do deslocamento de pessoas e mercadorias na economia.

5 – Meio ambiente e sustentabilidade- o aumento no uso de veículos particulares devido à desvalorização do transporte coletivo pode ter impactos negativos no meio ambiente. Além disso, na sustentabilidade. Mais veículos nas ruas resultam em maior poluição do ar, emissões de gases de efeito estufa e consumo de combustíveis fósseis, o que vai contra os esforços de combate às mudanças climáticas e à busca por soluções mais sustentáveis de transporte.

É importante destacar que o transporte público desempenha um papel importante na mobilidade urbana e na inclusão social. Dessa forma, oferecendo uma opção acessível e eficiente para muitas pessoas. A desvalorização desse sistema pode afetar negativamente a acessibilidade. Além disso, a mobilidade e a qualidade de vida da população, especialmente aqueles que dependem exclusivamente do transporte público.

Cabe ressaltar que as medidas de recuperação econômica e as políticas de transporte podem variar em cada país e região. E é importante que as autoridades considerem a importância do transporte público para a economia. Além disso, para o bem-estar da população ao tomarem decisões e implementarem políticas relacionadas ao setor.

Portal do Trânsito – E, quanto à mobilidade dessas pessoas? Que possíveis soluções poderiam ser adotadas para que o uso do transporte coletivo voltasse a ter um elevado número de usuários nas cidades?

Mércia Gomes –  Existem várias soluções que podem ser adotadas para promover o aumento do uso do transporte coletivo. Além disso, melhorar a mobilidade das pessoas nas cidades. Aqui estão algumas possíveis soluções:

Investimento em infraestrutura e qualidade do transporte público – é fundamental investir na melhoria da infraestrutura do transporte público. Dessa forma, incluindo a expansão e modernização de redes de ônibus, metrô, trem e BRT (Bus Rapid Transit). Isso envolve a construção de novas linhas. Assim como, a melhoria na frequência, a adoção de tecnologias mais eficientes e o fornecimento de estações e pontos de parada adequados. Além disso, é importante garantir a qualidade do serviço, como segurança, conforto e acessibilidade.

Tarifas acessíveis e integradas – o estabelecimento de tarifas acessíveis bem como a implementação de sistemas de bilhetagem integrada podem incentivar mais pessoas a optarem pelo transporte coletivo. Ou seja, tarifas justas e descontos para diferentes grupos, como estudantes e idosos, podem tornar o transporte público mais atrativo financeiramente. A integração de diferentes modos de transporte, como ônibus, metrô e bicicletas compartilhadas, também pode facilitar a mobilidade e incentivar seu uso.

Priorização do transporte público – a implementação de faixas exclusivas para ônibus e a priorização do transporte público em termos de espaço nas vias e semáforos podem melhorar a eficiência e a velocidade dos serviços. Assim sendo, tornando-os mais competitivos em relação ao uso de veículos particulares. Medidas como pedágios urbanos, cobrança de estacionamento e restrições de circulação de veículos em áreas congestionadas também podem incentivar as pessoas a optarem pelo transporte público.

Informação em tempo real e planejamento integrado- fornecer informações em tempo real sobre horários, rotas e atrasos do transporte público pode aumentar a confiabilidade e a conveniência do serviço. Isso pode ser feito por meio de aplicativos, painéis informativos em estações e paradas, e sistemas de comunicação eficientes. Além disso, um planejamento integrado que considere a conexão entre diferentes modos de transporte e as necessidades dos usuários pode facilitar o deslocamento. Além disso, tornar o uso do transporte coletivo mais atrativo.

Conscientização e promoção do transporte sustentável – promover uma consciência sobre os benefícios do transporte coletivo em termos de sustentabilidade ambiental, redução do trânsito assim como a melhoria da qualidade de vida pode incentivar mais pessoas a utilizarem esse meio de transporte.

Campanhas educativas, eventos de mobilidade sustentável e programas de incentivo, como descontos ou benefícios para usuários frequentes, podem ajudar a conscientizar e engajar a população.

É importante ressaltar que a implementação dessas soluções requer ações coordenadas entre governos, empresas de transporte público e demais partes interessadas, além de recursos financeiros e um comprometimento com a melhoria contínua do sistema de transporte coletivo.

Portal do Trânsito – Por fim, como a greve dos motoristas de aplicativo e a queda dos usuários do transporte coletivo impactam na mobilidade urbana?

Mércia Gomes – A greve dos motoristas de aplicativo bem como a queda no número de usuários do transporte coletivo podem ter impactos significativos na mobilidade urbana.

Vejamos como cada um desses fatores pode afetar a mobilidade nas cidades:

Greve dos motoristas de aplicativo – a greve dos motoristas de aplicativo pode resultar na redução da disponibilidade de transporte privado por meio dessas plataformas. Isso pode afetar diretamente as pessoas que dependem desses serviços para se deslocar. Dessa forma, limitando suas opções de transporte e aumentando a demanda por alternativas, como o transporte público ou táxis convencionais. A greve também pode causar congestionamentos adicionais, já que mais pessoas podem optar por usar veículos particulares.

Queda no número de usuários do transporte coletivo – a diminuição do número de usuários do transporte coletivo pode levar a várias consequências para a mobilidade urbana. Primeiramente, pode haver um aumento no número de veículos particulares nas ruas, resultando em maior congestionamento e tempos de viagem mais longos. Além disso, a queda na demanda pelo transporte coletivo pode afetar negativamente a eficiência operacional desses sistemas. Isso porque eles podem ter menos recursos para investir em melhorias e manutenção adequada.

Em conjunto, esses fatores podem levar a uma deterioração geral da mobilidade urbana, com efeitos como:

Aumento do tráfego e congestionamento – com menos pessoas utilizando o transporte coletivo e possivelmente mais veículos particulares nas ruas devido à greve dos motoristas de aplicativo, pode haver um aumento significativo no tráfego e congestionamento. Dessa forma, resultando em tempos de viagem mais longos e menor eficiência do sistema de transporte.

Impacto ambiental – o aumento no uso de veículos particulares devido à greve e à queda no transporte coletivo pode resultar em maior poluição do ar. Assim como, emissões de gases de efeito estufa. Isso é prejudicial para a qualidade do ar e contribui para as mudanças climáticas.

Desigualdade no acesso à mobilidade – aqueles que dependem exclusivamente do transporte público podem enfrentar maiores dificuldades de mobilidade devido à greve e à queda no serviço. Isso pode agravar a desigualdade de acesso à mobilidade urbana, pois as pessoas com menos recursos financeiros podem ter menos opções alternativas para se deslocar.

Prejuízos econômicos – a deterioração da mobilidade urbana pode afetar a economia local. Com impactos negativos nos negócios e no comércio devido ao aumento dos tempos de viagem e à menor acessibilidade. Além disso, empresas que dependem do transporte por aplicativo para suas operações, como serviços de entrega, também podem enfrentar desafios durante a greve.

Portal do Trânsito – Existe algo a mais que entenda como importante acrescentar sobre o assunto?

Mércia Gomes –  Um aspecto importante a se considerar é a necessidade de uma abordagem integrada e sustentável para a mobilidade urbana. Além das soluções mencionadas anteriormente, é crucial promover um sistema de transporte multimodal. Nele, diferentes modos de transporte se complementem e ofereçam opções viáveis para os deslocamentos urbanos.

Isso significa incentivar a integração entre o transporte público, compartilhamento de bicicletas, caminhadas e outras formas de transporte não motorizado.

Nesse sentido, ao promover a intermodalidade é possível proporcionar aos cidadãos opções flexíveis e eficientes de transporte. Dessa forma, levando em consideração a distância, o tempo, o custo e as preferências individuais.

Além disso, é fundamental que as políticas de mobilidade urbana alinhem-se com a busca por uma cidade mais sustentável. Assim como, com a redução das emissões de gases de efeito estufa.

Promover o transporte público, ciclovias, calçadas acessíveis bem como práticas de desenvolvimento urbano orientadas ao transporte sustentável são ações que podem contribuir para a redução da dependência de veículos particulares. E, também, com a melhoria da qualidade de vida nas cidades.

Outro aspecto relevante é o uso de tecnologias inovadoras para melhorar a mobilidade urbana. Por exemplo, o desenvolvimento de aplicativos e plataformas inteligentes pode facilitar o planejamento de viagens. Além disso, fornecer informações em tempo real sobre o transporte público e permitir o compartilhamento de veículos e rotas.

A adoção de veículos elétricos e autônomos também pode ter um impacto positivo na mobilidade, ou seja, reduzindo a poluição e melhorando a eficiência do sistema.

Por fim, é essencial que haja um diálogo contínuo entre os diversos atores envolvidos, como governos, empresas, organizações da sociedade civil e a população em geral. A participação ativa dos cidadãos na definição de políticas de mobilidade urbana e a busca por soluções inclusivas e sustentáveis são fundamentais para garantir uma mobilidade eficiente, acessível e equitativa para todos.

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