Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nossos sites, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao acessar o Portal do Trânsito, você concorda com o uso dessa tecnologia. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.

10 de dezembro de 2024

Pesquisa inédita alerta para os riscos de acidentes com moto


Por Mariana Czerwonka Publicado 09/04/2014 às 03h00 Atualizado 08/11/2022 às 23h15
Ouvir: 00:00
Pesquisa sobre motosUm levantamento feito com vítimas de acidentes com moto atendidas no Hospital João XXIII, da Rede Fhemig, em 2013, mostrou que julho foi o mês com o maior número de acidentados, e que a segunda-feira foi o dia da semana em que mais pacientes deram entrada.  E é após as 14h que o hospital registra maior número de admissões, com horário de pico entre 18h e 20h. A pesquisa ainda mostra que a maioria dos acidentados está na faixa etária de 18 a 30 anos (cerca de 60%) e é do sexo masculino (aproximadamente 80%).
A maior parte dos atendimentos foi feita a pacientes classificados como graves, cerca de 55%, e um pequeno percentual de quase 1% como de extrema gravidade, com risco iminente de morte. Do total geral de óbitos registrados no hospital em 2013 (1.050), quase 10% (101) foram de acidentados com moto.  Dos pacientes classificados como de extrema gravidade, 63,64% foram a óbito em menos de 24 horas após darem entrada na unidade. Muitos dos pacientes atendidos ficaram com sequelas irreversíveis, como paraplegia, tetraplegia ou danos neurológicos. “Muitos nem chegam a dar entrada no hospital, pois morrem no local”, comentou o cirurgião geral Paulo Roberto Carreiro.
A pesquisa inédita do Hospital João XXIII, feita para a Campanha Educativa de Prevenção de Acidentes com Motocicletas pela Rede Fhemig , aponta que os acidentes continuam acontecendo e que os casos são graves, deixando centenas de mortos e sequelados. A Campanha – cujo slogan é “Eu piloto pela vida” – tem como objetivo sensibilizar a população sobre os riscos, cuidados e prevenção desses acidentes.
Equipe multidisciplinar
Segundo a gerente assistencial do Hospital João XXIII, Tatiane Miranda, os motociclistas chegam com diversas lesões e mobilizam uma equipe multidisciplinar composta por médicos de mais de uma especialidade, enfermeiros e técnicos de enfermagem, fisioterapeuta, entre outros profissionais.  O custo social é alto, levando-se em conta o tempo de permanência no hospital, em que a vítima fica afastada do trabalho, podendo ocorrer aposentadorias precoces. Para alguns, o afastamento é definitivo.
Velocidade
A velocidade média das motocicletas no trânsito é maior do que a dos veículos em geral. “É uma guerra por espaço no trânsito e é necessária uma postura mais amigável entre os motoristas de veículos, motociclistas e pedestres, além de uma fiscalização atuante por parte das autoridades competentes e de maior prudência por parte dos condutores”, comentou Tatiane.
As sequelas são diretamente relacionadas à velocidade. Quanto maior a velocidade, mais graves são as lesões, principalmente quando batem de frente com outro veículo ou objeto fixo. A motocicleta é um veículo que não tem proteção estrutural.  O condutor fica mais exposto e frequentemente é ejetado da moto. As lesões mais frequentes envolvem membros inferiores, principalmente esmagamento e fraturas expostas.
Para as vítimas graves, o principal quadro clínico se refere ao traumatismo craniano que, quando não leva ao óbito, deixa sequelas, como limitações motoras e alteração permanente da consciência. Essas sequelas tendem a criar uma nova dinâmica familiar, pois muitas vezes a pessoa que sofreu o acidente torna-se dependente de cuidados de um familiar para sobreviver.
É importante que o motociclista use sempre os dispositivos de segurança, como capacete, calça e jaquetas de material resistente que minimizam a lesão no momento em que ele toca no solo.
Atropelamento por moto
Outro dado que preocupa é o número de vítimas atropeladas por moto, principalmente crianças e idosos, que são, por natureza, mais vulneráveis aos acidentes de trânsito.  O hospital não tem como mensurar em números, mas profissionais que trabalham na emergência, bloco cirúrgico e CTI têm observado que esses casos estão aumentando. “Frequentemente temos crianças internadas no CTI atropeladas por moto”, afirmou o pediatra intensivista Sérgio Guerra.
Persistir no risco
Para o médico cirurgião geral Marcos Lázaro, o sentimento de receber um motociclista acidentado na sala de emergência do Hospital João XXIII é de frustração, já que muitos deles não estão ali pela primeira vez. Por diversas vezes ele já atendeu motociclistas que sofreram vários acidentes. O médico lembrou-se do caso de um motociclista que perdeu uma das  pernas, comprou uma moto mais possante  e voltou a pilotar. “É deprimente constatar que nada muda. Os acidentes continuam acontecendo e, o que é pior, são ainda mais graves, pois as motos são cada vez mais velozes”, afirma.
Daniel Pereira Rodrigues, 25 anos, internado no quinto andar do Hospital João XXIII, trabalha como garçom e já sofreu 14 acidentes.  Desta vez ele teve fratura exposta na mão, mas, no acidente que considerou mais grave, ficou por uma semana em coma. Ele usa a moto como transporte para o trabalho. “Bati de frente com outro motociclista”, contou, prometendo não andar mais de moto.
Já Antônio Moreira da Silva, 22 anos, não teve a mesma sorte que Daniel. Ele ficou paraplégico em consequência de um acidente no dia 4 de fevereiro. “Bati na lateral de um carro por distração, mas não estava totalmente errado, já que o motorista do carro não deu seta para informar que ia entrar numa rua à direita”, disse. Para Antônio, moto é um dos meios de transportes mais úteis, além de ter o valor da manutenção baixo. “É só ter prudência”, alerta.  O acidente de Antônio mudou completamente a rotina de sua mãe, Célia Eunice Borges. “Parei de trabalhar para ficar ao lado dele”, contou.
A assistente social Viviane Oliveira reforça que esses acidentes impactam a rotina de toda a família da vítima. “É necessário apoiarmos os familiares para aceitar a situação, pois precisarão se reorganizar para lidar com a situação. O paciente fica dependente de cuidados domiciliares e um membro da família acaba tendo que parar de trabalhar para ficar por conta do doente. Os gastos também aumentam. O paciente passa por várias etapas para aceitar a nova realidade. Damos esse suporte não só para ele, mas para seus familiares”, relata.

Comentar

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *