18 de dezembro de 2025

Você sabe transportar uma mulher na garupa da moto?


Por Márcia Pontes Publicado 07/08/2013 às 03h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h44
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Transporte de passageiro em moto

Na maior parte dos acidentes de moto com uma pessoa na garupa quem leva a pior é quem está de carona. O corpo da mulher é mais leve e mais delicado do que o corpo dos homens e basta uma freada brusca demais ou mesmo um acidente para que o corpo seja arremessado longe e precipitado com enorme violência contra o solo ou objetos fixos.

Muitos motociclistas estão acostumados a transportar suas namoradas, esposas, irmãs, colegas de trabalho na moto, mas será que eles sabem mesmo como protegê-las como se deve?

Tem coisas que não se consegue entender quando passa por nós alguém numa moto sem a devida proteção, sem camisa, sem chinelos, sem os devidos cuidados. As novas gerações de condutores estão vivendo na era da informação em tempo real na ponta do dedo, bastando um clique no celular ou no computador. Então, porquê será que tantos motociclistas e caronas estão alheios à realidade da própria segurança?

Só entre 2000 e 2011 a frota de motocicletas aumentou 357% no Brasil e o número de acidentes cresceu 243% em 10 anos. Todos os dias muitos jovens estão indo embora cedo demais, com idades entre 18 e 34 anos.

A cada 10 acidentados de trânsito que dão entrada nas emergências de hospitais, 7 são motociclistas ou garupas das motos. Acidentes com motos são mais frequentes, graves e fatais por uma questão muito simples: o parachoque da moto é o corpo do motociclista, a moto não tem cinto de segurança, não tem a proteção da lataria do carro e num acidente o seu condutor é lançado para o alto e precipitado ao solo com enorme violência. Em muitos casos, os condutores saem ilesos e os caronas são lançados longe.

Numa queda ou acidente de moto o corpo é arrastado, mas o arrancamento de pele por abrasão é a menor das consequências diante das múltiplas fraturas, algumas expostas.

As lesões mais comuns em membros inferiores são as fraturas, muitas expostas, de falanges (dedos do pé), tornozelo, perna (tíbia e fíbula) e fêmur, que dependendo da gravidade se parte literalmente ao meio.

Nos membros superiores, as fraturas de ossos, dilaceramento do tecido da mão por falta de luvas são as mais comuns, seguidas de fraturas de punho, de rádio e ulna (braço), cotovelos, ombros, traumatismo craniano, lesão de medula que termina em paraplegia ou tetraplegia. Sem falar as fraturas pélvicas, que costumam esmigalhar os ossos da bacia. Lesões neurológicas, complicações vasculares, tromboses, amputações e arrancamentos de membros também são comuns.

Muitos motociclistas se protegem com os itens de segurança os rígidos (para distribuir melhor a força do impacto da queda) e os flexíveis (para absorver o impacto), mas esquecem do garupa. Outros, esperam o acidente ser provocado e enfrentam períodos longos e dolorosos de tratamento para, só depois, investir em segurança, o que poderia ter evitado ou diminuído as lesões e sequelas.

É fundamental que o garupa da moto também esteja vestindo um casaco e com luvas que deem proteção para evitar a abrasão do corpo no asfalto em caso de queda. Atenção ao calçado é fundamental porque os pés e as pernas são as primeiras partes do corpo que tem contato com o solo.

Muitos ignoram as diferenças óbvias de transportar mulheres na moto, mas elas geralmente usam calçados abertos, com ou sem salto, ou sandálias com detalhes vazados, o que em caso de acidente aumenta o risco de lesão.

Mulher não pode usar qualquer capacete: além de ser relativamente novo, aprovado pelo Inmetro, faixas refletivas, viseira sem riscos e antiembaçante, o tamanho tem que ser adequado para a anatomia craniana da mulher. Não adianta só colocar o capacete na cabeça: tem que afivelá-lo no queixo.

As luvas tem que ser de couro ou de material resistente, de preferência arejadas, com propriedades antitérmicas para proteger e dar conforto tanto no calor quanto no frio.

É fundamental que o casaco seja de couro ou de cordura porque oferecem melhor proteção em caso de queda ou acidente. Casaco de cordura é mais ventilado, tem proteção interna nos cotovelos, nos ombros, nas costas e ele fecha no quadril para acinturar mais, adequando-se às formas delicadas do corpo feminino.

O sapato é preferencial que tenha cano médio ou longo para proteger os tornozelos e para garantir que em caso de acidente ele não saia dos pés. É recomendável que se use um tipo de calçado para trabalhar, mas que se tenha outro na bolsa, fechado, para uma volta para casa segura de motoca.

Também há no mercado modelos de calças multifuncionais para motociclistas que, dependendo da ocasião é possível preencher os espaços nos joelhos, coxas e quadris com os dispositivos amortecedores de segurança.

Pode parecer óbvio andar de garupa na moto, mas tem uma regra que poucos caronas conhecem: em moto e cavalo se sobe só pelo lado esquerdo. Com a moto em movimento, deve-se segurar no corpo do motociclista para melhorar as condições de equilíbrio e dirigibilidade, principalmente durante as curvas, facilitando que o motociclista guie o corpo do garupa para uma entrada e saída perfeita nas curvas.

Já nas frenagens, o carona da moto deve se segurar nas barras de apoio logo abaixo do banco para evitar que o seu corpo empurre o motociclista para cima do tanque de combustível e impeça os movimentos necessários, ainda mais numa manobra de emergência.

Motoca pode ser sinônimo de liberdade, de emoção, pode ser muito bacana sentir o vento no rosto, mas autocuidados e responsabilidade para com a própria vida e a vida dos caronas é fundamental para que ainda haja muitas emoções e alegrias sob duas rodas.

Parafraseando o professor Içami Tiba: quem ama, cuida. Da própria vida e da vida dos outros no trânsito. Principalmente dirigindo ou levando uma mulher na garupa da moto.

Márcia Pontes

Meu nome é Márcia Pontes, sou educadora de trânsito em Blumenau (SC), Graduada em Segurança no Trânsito na Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) e colunista de assuntos de trânsito do Portal de Notícias Blumenews. Sou pesquisadora do medo de dirigir e dos métodos de ensino da aprendizagem veicular pelo método decomposto, desenvolvido na Suíça e difundido em autoescolas italianas.Em 2010 iniciei nas redes sociais um trabalho de Educação Para o Trânsito Online (EPTon) utilizando a força das mídias sociais (Orkut, Facebook, Blog, MSN, Twitter, Youtube) com foco no acolhimento emocional, aprendizagem significativa e dicas de direção defensiva, ética e cidadania no trânsito.Escrevo o Blog Aprendendo a Dirigir voltado para alunos em processo de habilitação nos CFC e para motoristas habilitados com dificuldades e medo de dirigir. O foco deste trabalho voluntário reconhecido internacionalmente leva acolhimento emocional, aprendizagem significativa e fundamentos de ética, cidadania e humanização do trânsito para evitar acidentes, sobretudo por imperícia.No ano de 2012 publiquei o livro digital Aprendendo a Dirigir: aprendizagem pelo método decomposto para evitar traumas e acidentes durante a (re)aprendizagem da direção veicular. Em 2013 publiquei o livro Aprendendo a Dirigir: um guia prático de exercícios para quem tem medo de dirigir.Sou apaixonada por trânsito, respiro, pesquiso cientificamente e vivo o trânsito com compromisso existencial. A principal luta da minha vida: contribuir para rever e atualizar os métodos de ensino da direção veicular no Brasil substituindo o adestramento do aluno e a memorização pela construção de conceitos e de significados sobre o ato de dirigir defensivamente.

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