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Transporte público: o mais novo jogo de azar


Por Rodrigo Vargas de Souza Publicado 20/10/2022 às 21h00
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Rodrigo Vargas comenta sobre um PL aprovado em Porto Alegre que propõe uma alternativa um tanto diferente para financiar o transporte público da cidade. Leia o post!

Jogos de azar são jogos nos quais os que têm sorte são os que ganham com o azar dos outros jogadores, devido à diferença de probabilidades entre a sorte e o azar. Como as chances da sorte são escassas, são muitos mais os que têm azar, daí que tais jogos são sustentáveis através das perdas dos jogadores que financiam os que vão ter a sorte. E o que jogo de azar tem a ver com o transporte público? Você já vai entender.

Não é nenhuma novidade que o transporte público passa por uma profunda crise. Ele vem perdendo passageiros há anos consecutivamente e precisa urgentemente de novas fontes de financiamento. Mas a notícia da aprovação do projeto de lei nº 009/22 no último dia 1º de Junho pela Câmara Municipal de Porto Alegre, confesso, me deixou um tanto preocupado com os caminhos tomados pelo executivo. O projeto em questão visa a criação de uma Loteria Municipal. Além disso, tem como objetivo incrementar receitas para a qualificação e redução dos custos do sistema de transporte coletivo.

Desde 2015, quando se aprovou a Emenda Constitucional 90, de autoria da deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP), o transporte passou a ser um direito social. Ou seja, assim como são a saúde e a educação.

No entanto, é necessário que haja a regulamentação para que a emenda comece a valer na prática. Atualmente, segundo estudo produzido pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), os usuários arcam com quase 90% da receita do sistema de transporte público urbano no Brasil.

A partir disso, fico me perguntando: quem é o maior público usuário de jogos de loteria no nosso país? De acordo com estudo recente o perfil dos apostadores de Loteria no Brasil, que apontou que 51% dos apostadores tinha renda pessoal de até R$ 2.800,00 mensais, aproximadamente. Ou seja, mais da metade dos usuários são de baixa renda.

Não é preciso refletir profundamente para perceber quem vai seguir financiando o sistema de transporte…

O que me faz lembrar de uma clássica cena do Chaves. Nela, o personagem fica incumbido por cuidar de uma banca de churros e acaba comprando dele mesmo.

Espero sinceramente estar errado, mas receio que essa proposta venha a contribuir com pouco (ou nada) para reduzir a crise do transporte público. E que, infelizmente, o transporte público parece estar longe de deixar de ser um “jogo de azar”. Nele, ao contrário dos tradicionais, poucos financiam seu próprio bolão. Mas nesse, na hora de receberem seu “prêmio”, os apostadores são deixados à própria sorte.

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