06 de dezembro de 2025

Vivendo um sonho de 15 minutos


Por Rodrigo Vargas de Souza Publicado 31/12/2021 às 16h30 Atualizado 02/11/2022 às 19h57
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Você conhece o termo “Cidades de 15 minutos”? Entenda no post de Rodrigo Vargas. 

Cidade de 15 minutosFoto: Divulgação autor.

Paris, 2015. Durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP 21, discutia-se sobre a criação de meios de transporte sustentáveis, como carros elétricos e transporte coletivo sobre trilhos. De forma muito perspicaz, o urbanista Carlos Moreno sugeriu um novo rumo à discussão:

“Talvez o problema não fosse espaço, e sim tempo. E se reduzíssemos nossos deslocamentos e as horas perdidas no trânsito?”

A partir desta reflexão, Moreno apresentou ao mundo um conceito simples, porém desafiador, ao qual nomeou de “Cidades de 15 minutos”.

Nesse sentido, o urbanista defende a ideia de que os cidadãos devem ter acesso ao essencial perto de casa. Ele resume essa “essência” em seis ações: viver, trabalhar, comprar, cuidar, educar e divertir-se. Segundo essa lógica, todo morador de Paris tem direito a mercearias, lojas, restaurantes, livrarias, parques, escolas, áreas de lazer — e, se possível, ao próprio local de trabalho — a no máximo quinze minutos a pé de sua casa.

Recentemente, seguindo essa tendência mundial, a prefeitura de Porto Alegre anunciou a criação de um Programa de Revitalização do Centro Histórico da cidade. Dentre outras propostas, o Programa visa atrair novos empreendimentos para a região, sobretudo residenciais. Ou seja, a prefeitura tem como meta dobrar o número de moradores no Centro.

Há algum tempo, em ECONOMIZAR É ‘MORAR’​ BEM!, discorri sobre como a distribuição da cidade afeta diretamente na vida das pessoas e em seus deslocamentos diários. Além disso, menciono sonhos, alguns já alcançados e outros ainda a concluir. Ainda que esse tenha sido um ano extremamente difícil, felizmente consegui alcançar outro sonho antigo. Não, ainda não me mudei para Paris… Mas, como diz aquele velho e conhecido ditado “Se a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à montanha“.

Há aproximadamente um mês mudei para um bairro da região central, há exatamente 1,5 km do meu trabalho, para o qual, além de uma infinidade imensa de linhas de ônibus, tenho a possibilidade de ir de bicicleta ou mesmo andando.

Hoje, tenho a felicidade de dizer que já vivo em uma cidade de 15 minutos. Tempo que, anteriormente, excedia só durante a espera do ônibus na parada. Não é preciso nem comentar sobre a oferta, por exemplo, de comércio, escolas, hospitais, parques e praças. Se o carro já me fazia pouca (ou nenhuma) falta antes, como mencionado em outro artigo, agora vejo ainda menos necessidade.

Espero que a revitalização da área central da cidade dê a mais pessoas a oportunidade de conhecerem esse conceito e saírem de suas cidades, não as de 15 minutos, mas as de uma hora ou de uma hora e meia…

Rodrigo Vargas de Souza

Sou formado em Psicologia pela Unisinos, atuo desde 2009 como Agente de Fiscalização de Trânsito e Transporte na EPTC, órgão Gestor do trânsito na cidade de Porto Alegre. Desde 2015, lotado na Coordenação de Educação para Mobilidade do mesmo órgão.Procuro nos meus textos colocar em discussão alguns dos processos envolvidos na relação do sujeito com o automóvel, percebendo a importância que o trânsito, espaço-tempo desse encontro, vem se tornando um problema de saúde pública. Tendo como objetivos, além de uma crítica às atuais contribuições (ou falta delas) da Psicologia para com a área do trânsito, a problematização da relação entre homem e máquina, os processos de subjetivação derivados dessa relação e suas consequências para o trânsito.Sendo assim, me parece urgente a pesquisa na área, de forma a se chegar a uma anuência metodológica e ética. Bem como a necessidade de a Psicologia do Trânsito posicionar-se de forma a abrir passagem para novas formas heterogêneas de atuação, que considerem as singularidades ao invés de servirem como mais um mecanismo de serialização das experiências humanas.

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