20 de dezembro de 2025

Tecnologia: a perfeição leva tempo?


Por Rodrigo Vargas de Souza Publicado 28/05/2020 às 03h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h03
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Veículos autônomosFoto: Divulgação Mercedes Bens.

Nessa semana, me preparava para uma palestra para uma construtora. Obviamente que, devido à atual pandemia, virtualmente. Durante os preparativos, no auge das lives que se disseminaram através da internet, refletia sobre as possibilidades que a tecnologia tem nos proporcionado nos últimos anos. Quem imaginaria, em meados dos anos 80 ou 90, que um dia teríamos a capacidade de termos uma reunião, um treinamento ou uma palestra com alguém, mesmo estando do outro lado do mundo, através de dispositivos que cabem na palma da mão? A não ser, é claro, nos filmes de ficção científica da época…

A tecnologia tem evoluído em velocidade exponencial, fazendo com que ferramentas como essa, que um dia foram imaginadas apenas no âmbito cinematográfico, tornem-se hoje realidade. Essa evolução, no que diz respeito ao trânsito, tem influência direta, sobretudo quando o assunto gira em torno de um tema que já dediquei diversos artigos: veículos autônomos.

Recentemente, tive o prazer de contatar via redes sociais o consultor Sebastião Souza, que me agraciou com um excelente material em alusão ao Maio Amarelo. Um deles, que refere-se ao uso de celular ao dirigir, toca nesse exato ponto:

Eis que, ao compartilhar o vídeo em um dos grupo que participo nas redes sociais, eu recebo o seguinte comentário de um seguidor:

É inevitável a chegada dos autônomos, mas a perfeição vai levar um bom tempo. Eu não confio hahahaha

Deixo aos amigos leitores o mesmo questionamento que fiz ao caro seguidor: será que mais tempo do que nós, seres humanos, levaremos pra chegar à perfeição? É bem provável que enfrentemos alguns percalços, que acidentes aconteçam, que vidas se percam durante esse processo de aperfeiçoamento da máquina.

O que não me parece motivo suficientemente plausível para defendermos que continuemos a perder essa quantidade exorbitante de vidas no trânsito. Pelo menos até que aconteça algo que, no meu humilde ponto de vista, se não ocorreu até o presente momento, muito provavelmente nunca irá ocorrer: evoluirmos em educação e consciência ao ponto de termos um trânsito harmônico, seguro e civilizado. Diferentemente da tecnológica, essa perfeição sim levará muito tempo.

Rodrigo Vargas de Souza

Sou formado em Psicologia pela Unisinos, atuo desde 2009 como Agente de Fiscalização de Trânsito e Transporte na EPTC, órgão Gestor do trânsito na cidade de Porto Alegre. Desde 2015, lotado na Coordenação de Educação para Mobilidade do mesmo órgão.Procuro nos meus textos colocar em discussão alguns dos processos envolvidos na relação do sujeito com o automóvel, percebendo a importância que o trânsito, espaço-tempo desse encontro, vem se tornando um problema de saúde pública. Tendo como objetivos, além de uma crítica às atuais contribuições (ou falta delas) da Psicologia para com a área do trânsito, a problematização da relação entre homem e máquina, os processos de subjetivação derivados dessa relação e suas consequências para o trânsito.Sendo assim, me parece urgente a pesquisa na área, de forma a se chegar a uma anuência metodológica e ética. Bem como a necessidade de a Psicologia do Trânsito posicionar-se de forma a abrir passagem para novas formas heterogêneas de atuação, que considerem as singularidades ao invés de servirem como mais um mecanismo de serialização das experiências humanas.

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