14 de dezembro de 2025

Carros e seus nomes humanos. Humanos e seus nomes de carro


Por Rodrigo Vargas de Souza Publicado 02/03/2020 às 03h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h05
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Carros humanosFoto: Pixabay.com

Como já abordei em outro artigo, o carro é construído como um prolongamento dos corpos dos homens. Além disso, parece ser um prolongamento de seus sentimentos, suas vontades e seus gostos. Esse prolongamento sugere um processo de transformação dos corpos que nos faz, consequentemente, retomar a nossa relação com a máquina, sobre a nossa potência a partir da máquina e sobre a máquina que agrega características humanas. Além do tuning, há várias formas de personalizar um veículo e, assim, humanizá-lo. A primeira e talvez mais corriqueira começa muito antes da sua aquisição, do seu lançamento e até mesmo antes da conclusão do projeto do modelo: a escolha do seu nome.

O “batismo” de um automóvel (por assim dizer) é um processo que ocorre durante o desenvolvimento do seu projeto e envolve equipes compostas por publicitários, executivos, desenhistas e engenheiros.

O principal desafio é encontrar o nome que reflita a personalidade do carro – como se eles de fato tivessem uma – ou seja, valores que os possíveis compradores procurem transmitir e/ou vejam em si mesmos. Esses valores podem desde expressar sentimentos como poder ou liberdade, fazerem referências a seres mitológicos, locais turísticos ou paradisíacos e até mesmo pedras raras e preciosas.

Nesse processo de humanização do automóvel, não é incomum vermos condutores que dão apelidos carinhosos aos seus “possastes”. Eu mesmo, quando adquiri meu primeiro carro, com o qual tinha uma ambígua relação de amor e ódio, a qual conto nesse artigo, apelidei-o de “Cascudo“. E assim, ele acaba se tornando praticamente um membro da família. Membro pelo qual somos capazes dos mais diversos sacrifícios, assim como experienciei em Laboratório Subjetivo.

E, em se tratando de família, não são raras as ocasiões em que, com a chegada de um novo membro, o pai, avô ou qualquer outro ente querido seja homenageado batizando-se o recém chegado membro com o mesmo nome. Mas e quando a homenagem é voltada para um membro menos usual da família? Não, não me refiro ao tio, sogro nem àquele primo distante… e quando o homenageado é o carro da família? Foi exatamente sobre isso que um artigo publicado há alguns dias no Mob1 tratava: Carros que viraram nome de Gente, é isso mesmo!

O artigo em questão trazia uma curiosa lista retirada de um site feito pelo O IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Nela é possível encontrar um número considerável de pessoas que foram batizadas com nomes como Belina, Fiorino e até Omega. É impossível ler tal matéria e não pensar no processo de mecanização que abordo em O Efeito Transformers em Trânsito

Sendo assim, caro leitor, se você está em vias de se tornar pai ou mãe, mas ainda não pensou no nome da criança, seu repertório acabou de ser ampliado. Me despeço deixando algumas sugestões que podem ser interessantes:

Se menino: Fiat BrUNO

Se menina: Ford KAtia

Rodrigo Vargas de Souza

Sou formado em Psicologia pela Unisinos, atuo desde 2009 como Agente de Fiscalização de Trânsito e Transporte na EPTC, órgão Gestor do trânsito na cidade de Porto Alegre. Desde 2015, lotado na Coordenação de Educação para Mobilidade do mesmo órgão.Procuro nos meus textos colocar em discussão alguns dos processos envolvidos na relação do sujeito com o automóvel, percebendo a importância que o trânsito, espaço-tempo desse encontro, vem se tornando um problema de saúde pública. Tendo como objetivos, além de uma crítica às atuais contribuições (ou falta delas) da Psicologia para com a área do trânsito, a problematização da relação entre homem e máquina, os processos de subjetivação derivados dessa relação e suas consequências para o trânsito.Sendo assim, me parece urgente a pesquisa na área, de forma a se chegar a uma anuência metodológica e ética. Bem como a necessidade de a Psicologia do Trânsito posicionar-se de forma a abrir passagem para novas formas heterogêneas de atuação, que considerem as singularidades ao invés de servirem como mais um mecanismo de serialização das experiências humanas.

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