07 de dezembro de 2025

Para que serve mesmo a seta?


Por Márcia Pontes Publicado 24/05/2013 às 03h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h45
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Dia desses presenciei um quase acidente em Blumenau (SC) porque um motorista que puxava a fila resolveu reduzir na subida do morro e fazer a conversão para entrar num lote lindeiro sem dar seta. O motorista que vinha atrás transportando uma idosa, que também vinha bem chutadinho, provavelmente com a justificativa de que é subida de morro e que não dá para subir sem estar no embalo, acabou desviando pela contramão para evitar uma colisão traseira.

Detalhe: subida de morro, sem visibilidade suficiente e eis a pergunta: e se viesse um ônibus, um carro, uma motocicleta trafegando em pista contrária? Certamente, teria provocado um acidente de proporções gravíssimas porque mais um senhor pateta do trânsito que se acha o dono da rua não fez o básico: avisar aos outros motoristas as suas intenções no trânsito.

Basta alguns minutos de observação do que acontece no trânsito da nossa cidade a pé ou atrás do volante para que se tenha a certeza que o art. 196 do Código Brasileiro de Trânsito (CTB) é mesmo um dos mais desrespeitados pelos motoristas que deixam de indicar com antecedência a manobra de parar o veículo, mudar de direção ou de faixa de circulação. Que aliás, é infração grave, 5 pontos negativos na carteira e causa um furo de R$ 127,69 no bolso, além de muito sofrimento às vítimas quando a negligência vira acidente.

Diariamente, no trânsito, pode-se observar que eles deixam de dar seta em praticamente todas as ruas da cidade: as de trânsito rápido, arteriais, coletoras e principalmente vias locais.

Fico pensando o que leva os motoristas que não dão seta a agirem assim, já que a função principal desse equipamento e desse fundamento de segurança no trânsito é manter a comunicação não só com os outros motoristas, mas também com os pedestres e ciclistas.

Muita gente reclama de que trechos específicos viram um caos no horário de pico, mas com certeza o caos seria menor se quem viesse trafegando por um trecho com rótula avisasse com antecedência acionando a chave de seta que vai entrar na próxima rua e não vai cruzar a rótula.

Com certeza, menos motoristas parariam o carro na entrada da rótula e se ganharia mais tempo.

Geralmente quem não dá seta tenta justificar tal egoísmo no trânsito em função da habilidade que pensa que tem, ou que a manobra é tão rápida que nem precisa dar seta. Mas o fato é que temos de rever nossos próprios conceitos sobre trânsito, sobre segurança no trânsito e sobre a importância da comunicação entre as pessoas que estão no trânsito.

Estar encapsulado na carapaça de lata dirigindo aumenta a sensação de isolamento, faz muitas pessoas se desligarem do resto do mundo e se sentirem as donas da rua. Por este motivo que questiono o nome do projeto “Se Essa Rua Fosse Minha” porque quem não dá seta acredita mesmo que a rua é toda dele e faz o que faz, incorporando bem o sentido de “dono da rua”.

Manda a direção defensiva que sinalizemos a manobra de conversão ou de mudança de faixa com, pelo menos, 100 metros de antecedência para aumentar as possibilidades de que um motorista distraído enxergue as luzes de seta piscando e avisando: “reduza que vou entrar na próxima rua.”

Outro atentado à segurança no trânsito é não manter a distância de segurança do carro da frente, assim como abusar da velocidade, andar chutado ou colado atrás do outro motorista.

Também não adianta vir chutado, frear repentinamente e dar seta só depois que a manobra está pela metade, assim como não adianta saber usar a chave de seta, mas não fazer a revisão periódica de luzes de segurança e sair por aí feito um galo cego no trânsito.

Cuidado ainda maior temos que ter com os alunos nas autoescolas, a nova geração de condutores, já que uma das faltas que mais reprova os candidatos em exames práticos de direção é não dar seta, conforme o art. 19 da Resolução 168/2004 do CONTRAN, inciso II, letra “e”, sobre as Faltas Graves e 3 pontos negativos: “e) não sinalizar com antecedência a manobra pretendida ou sinalizá-la incorretamente.”

Tem tanta gente pelas cid
ades afora que acha que dirige melhor que os outros, que xinga os outros de pitoco, meia roda e de tantas outras coisas, quando na verdade, eles estão se apresentando às pessoas em alto e em bom tom. Principalmente, quando mudam de faixa, convergem ou param o carro sem avisar o motorista que vem atrás.

Precisamos de mais respeito aos outros que estão no trânsito. Precisamos de mais colaboração, de mais cidadania e de menos motoristas ego
ístas, de menos donos da rua nesse espaço compartilhado que é o trânsito.

Márcia Pontes

Meu nome é Márcia Pontes, sou educadora de trânsito em Blumenau (SC), Graduada em Segurança no Trânsito na Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) e colunista de assuntos de trânsito do Portal de Notícias Blumenews. Sou pesquisadora do medo de dirigir e dos métodos de ensino da aprendizagem veicular pelo método decomposto, desenvolvido na Suíça e difundido em autoescolas italianas.Em 2010 iniciei nas redes sociais um trabalho de Educação Para o Trânsito Online (EPTon) utilizando a força das mídias sociais (Orkut, Facebook, Blog, MSN, Twitter, Youtube) com foco no acolhimento emocional, aprendizagem significativa e dicas de direção defensiva, ética e cidadania no trânsito.Escrevo o Blog Aprendendo a Dirigir voltado para alunos em processo de habilitação nos CFC e para motoristas habilitados com dificuldades e medo de dirigir. O foco deste trabalho voluntário reconhecido internacionalmente leva acolhimento emocional, aprendizagem significativa e fundamentos de ética, cidadania e humanização do trânsito para evitar acidentes, sobretudo por imperícia.No ano de 2012 publiquei o livro digital Aprendendo a Dirigir: aprendizagem pelo método decomposto para evitar traumas e acidentes durante a (re)aprendizagem da direção veicular. Em 2013 publiquei o livro Aprendendo a Dirigir: um guia prático de exercícios para quem tem medo de dirigir.Sou apaixonada por trânsito, respiro, pesquiso cientificamente e vivo o trânsito com compromisso existencial. A principal luta da minha vida: contribuir para rever e atualizar os métodos de ensino da direção veicular no Brasil substituindo o adestramento do aluno e a memorização pela construção de conceitos e de significados sobre o ato de dirigir defensivamente.

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