07 de dezembro de 2025

Um Código de Ética Profissional para Instrutores e Examinadores


Por Márcia Pontes Publicado 17/10/2013 às 03h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h41
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Código de Ética para instrutores

Mais do que o caráter normativo que comporta, o Código de Ética deixa bem claro quais são os direitos e deveres dos instrutores e examinadores de trânsito. Orienta todas as ações de seus profissionais, dá as diretrizes para a reflexão sobre o exercício profissional com justiça, honestidade, lisura, probidade e ética e, também, para eliminar as subjetividades na tomada de decisões.

As principais profissões e profissionais no Brasil tem código de ética: os advogados, os médicos, os psicólogos, os contadores, os jornalistas e muitos outros. Porquê os instrutores de trânsito e examinadores não podem ter o seu também?

Será que a missão de formar os novos motoristas é menos nobre que a das outras profissões?

Porquê os instrutores de trânsito, mais de 90 mil em todo o Brasil, ainda não tem o seu código de ética profissional?

Ser uma categoria desunida provavelmente explicaria isso. Por esse Brasil afora tão afeito às influências regionais tem-se sindicatos que são proativos, que tentam mobilizar os seus profissionais. Mas, também temos os sindicatos que não fazem muito por seus afiliados e, por sua vez, os afiliados não se unem.

Nas redes sociais essa semana um debate entre instrutores de trânsito mais parecia uma guerra de ironias e provocações entre os seus próprios pares, mostrando uma discordância ferrenha regada a discussões acaloradas e até ofensas. Fico imaginando como serão as aulas desses instrutores de trânsito, o modo como falam com seus alunos e como se alteram facilmente quando são contrariados em algum ponto de vista que defendem.

Num curso de formação para instrutores que ministrei num determinado estado brasileiro, depois de conhecer a realidade local e interagir com ela, levantamos alguns pontos que precisavam ser melhorados na postura prática e ética profissional de muitos instrutores.

Existe um corporativismo muito grande quando se toca em algum assunto referente à categoria e as críticas são ácidas. Parece que cada um analisa uma questão estrutural, ampla, abrangente olhando para o próprio umbigo. No melhor estilo “eu não faço isso e o problema não existe”. Mas, existe, instrutores! E não se pode acobertar as falhas de seus pares porque se for assim as coisas não vão mudar e quem trabalha certo não merece ser confundido com quem não faz o que deveria ser feito.

Muitos instrutores Brasil afora fumam, comem e ingerem algum tipo de bebida durante as aulas. Água, suco ou refrigerante que seja, isso não é certo, não é ético.

Há instrutores que usam o celular durante as aulas e se distraem conversando, enviando SMS, interagindo no Facebook e o aluno lá, com cara de pastel, ele que se vire.

Alguns dão aulas com o rádio ligado e se a música é boa, aumenta o som, distraindo ainda mais o aluno e sem ensiná-lo a ouvir e valorizar os sons do trânsito.

Outros, tem o péssimo hábito de falar mal dos outros instrutores, do CFC onde trabalha, dos donos do CFC e da própria profissão. Pior ainda é flertar e envolver-se com os(as) alunos(as); ficar irritado com aquele que deixa o carro morrer o tempo todo e passar a pisar nos pedais por ele.

Pasmem, mas há instrutores que provocam ou respondem as provocações de outros motoristas durante a aula ensinando ao aluno tudo o que não se deve fazer.

Discutir com os candidatos, impor e não propor, fazer piada e chacota com os erros e comportamentos deles, fazer comparações, isso infelizmente existe instrutores, e vocês sabem disso.

Falta de pontualidade, falta de manutenção e limpeza do veículo de aprendizagem, alterar os trajetos nas aulas para resolver assuntos pessoais e deixar o aluno esperando, não cumprir com a carga horária das aulas, ser irônico, ríspido, debochado, fazer cara feia e gritar com o aluno não importa se são mais novos e até senhoras.

Essas são questões denunciadas e comentadas por muitos alunos desses instrutores e por outros profissionais da categoria que não admitem esse tipo de postura e atitudes que envergonham o profissional e a profissão.

A profissão de instrutor de trânsito é linda, é nobre, tem muito valor para quem descobre, reconhece e a exerce como deve ser: com respeito ao aluno, com respeito a seus pares, com amor, com paixão pelo que faz.

Ninguém entra numa profissão em que se passa a maior parte do dia sentado, tomando sol na cara, no braço, exposto a problemas circulatórios de saúde como varizes, trombose, complicações de próstata, ganhando pouco na maioria dos casos e em meio a um trânsito estressante para ficar rico. Isso não.

Reconheço que tem um algo mais em quem está nessa profissão. Existe um quê de paixão, de entrega, de vontade de mudar as coisas para muito melhor.

Tenho amigos instrutores e examinadores de trânsito que são capazes de dar a vida pela profissão, que doaram e continuando doando a vida pela profissão.

Conheço profissionais com 20, 30, 40 anos de lida que não se contentam só com a experiência achando que sabem tudo e procuram aprender cada vez mais, se atualizar, melhorar, aprender sempre.

É neste ponto que defendo um Código de Ética para Instrutores e Examinadores.

Porque a profissão é linda, é nobre, merece reconhecimento, respeito e valorização, mas para isso tem que começar se reconhecendo, se respeitando, se valorizando a si próprio e aos demais colegas.

Conquistas como o reconhecimento legal da profissão podem ter vindo tarde. Mas, nunca é tarde para começar a se pensar num código de ética que seja reconhecido, respeitado e posto em prática por toda a categoria.

Fica a sugestão para se repensar nesse momento histórico em que estamos vivendo no que se refere à formação de condutores no Brasil.

Márcia Pontes

Meu nome é Márcia Pontes, sou educadora de trânsito em Blumenau (SC), Graduada em Segurança no Trânsito na Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) e colunista de assuntos de trânsito do Portal de Notícias Blumenews. Sou pesquisadora do medo de dirigir e dos métodos de ensino da aprendizagem veicular pelo método decomposto, desenvolvido na Suíça e difundido em autoescolas italianas.Em 2010 iniciei nas redes sociais um trabalho de Educação Para o Trânsito Online (EPTon) utilizando a força das mídias sociais (Orkut, Facebook, Blog, MSN, Twitter, Youtube) com foco no acolhimento emocional, aprendizagem significativa e dicas de direção defensiva, ética e cidadania no trânsito.Escrevo o Blog Aprendendo a Dirigir voltado para alunos em processo de habilitação nos CFC e para motoristas habilitados com dificuldades e medo de dirigir. O foco deste trabalho voluntário reconhecido internacionalmente leva acolhimento emocional, aprendizagem significativa e fundamentos de ética, cidadania e humanização do trânsito para evitar acidentes, sobretudo por imperícia.No ano de 2012 publiquei o livro digital Aprendendo a Dirigir: aprendizagem pelo método decomposto para evitar traumas e acidentes durante a (re)aprendizagem da direção veicular. Em 2013 publiquei o livro Aprendendo a Dirigir: um guia prático de exercícios para quem tem medo de dirigir.Sou apaixonada por trânsito, respiro, pesquiso cientificamente e vivo o trânsito com compromisso existencial. A principal luta da minha vida: contribuir para rever e atualizar os métodos de ensino da direção veicular no Brasil substituindo o adestramento do aluno e a memorização pela construção de conceitos e de significados sobre o ato de dirigir defensivamente.

3 comentários

  • Danilo
    03/03/2023 às 16:18

    Boa tarde, estou bastante interessado nessa questão e gostaria de saber se existe algum código de conduta para instrutores de CFC, e se há alguma proibição de envolvimento de instrutores (as) com alunos (as).

  • PAULO HENRIQUE SILVA E SOUZA
    13/03/2024 às 08:20

    Excelente artigo! Muito grato pelos esclarecimentos. Parabéns!

  • VERA LUCIA PEREIRA
    26/04/2024 às 10:22

    Otimo artigo, gostaria de receber o código de ética para os instrutores. Trabalho em uma Controladoria de transito e acho muito importante abordar e repassar aos diretores durante as aulas o código de ética.

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