05 de dezembro de 2025

A 3ª Guerra Mundial começou. Você conhece o inimigo?


Por Rodrigo Vargas de Souza Publicado 03/05/2018 às 03h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h15
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Guerra no trânsitoFoto: Pixabay.com

Parece algo obvio, mas para que haja uma guerra é necessário que exista um adversário e que esse seja conhecido. Esse é um pressuposto básico. Assim como o de que algumas vidas eventualmente serão perdidas… Bem, vamos aos fatos:

A Primeira Guerra Mundial matou em um período de quatro anos 10 milhões de pessoas . A Segunda Guerra, mais 50 milhões em seis anos. Alguns analistas e historiadores sugerem que a Guerra Fria seja considerada a Terceira Guerra Mundial, pois foi um conflito em escala global protagonizado por Estados Unidos e OTAN, de um lado, contra a União Soviética e o Pacto de Varsóvia, do outro e que matou em 46 anos outros 20 milhões.

Entretanto, fatos recentes fizeram ressurgir o temor de uma nova grande guerra mundial. Primeiramente, os ameaçadores testes com armas nucleares realizados pela Coreia do Norte e, mais recentemente, os ataques norte-americanos à Síria. A guerra na Síria começou em 2011 e, desde então, o número de mortos já ultrapassa a casa dos 500 mil, cerca de 70 mil pessoas mortas por ano, em média.

Com a velocidade com que se disseminam as notícias, somos “bombardeados” diariamente, quase que em tempo real, com notícias sobre a situação das guerras que assolam nações inteiras, mesmo elas estando a milhares de quilômetros de nós. No entanto, no mesmo ano de 2011, começou uma guerra que poucas pessoas têm conhecimento e outras tantas fingem não ver. Uma guerra silenciosa, porém tão violenta quanto as outras e que mata não só na Síria, nos Estados Unidos, mas também aí na frente da sua casa! Que mata no mundo todo: O TRÂNSITO.

Por isso, em 2010 a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), declarou a década de 2011-2020 a “Década de Ação para Segurança Viária” com o objetivo de estabilizar e reduzir em 50% a mortalidade mundial, prevista para cerca de 1,9 milhões de mortes por acidentes de trânsito em 2020. Segundo dados da OMS, a cada ano se perdem em todo o mundo aproximadamente 1,25 milhões de vidas no trânsito, enquanto ocorrem 600 mil óbitos por homicídios e 300 mil em guerras. Somente no Brasil os números ultrapassam a casa das 40 mil mortes ao ano.

Passados três anos do início da Década, em 2014 nasce no Brasil o Movimento Maio Amarelo, criado pelo Observatório Nacional de Segurança Viária, uma instituição social sem fins lucrativos, dedicada a desenvolver ações que contribuam de maneira efetiva para a diminuição dos índices de acidentes no trânsito do nosso país, mesmo objetivo do movimento.

E cá estamos, no ano de 2018, quase no fim da Década, iniciando mais um mês de maio. Mais um Maio Amarelo. E, muito provavelmente, você, caro amigo leitor, a essa altura esteja experimentando um misto de constrangimento e espanto pelo fato de nunca sequer ter ouvido menção ao tal movimento nem tão pouco à “famosa” Década… Não sinta isso, pois, tirando os nobres colegas que trabalham incansavelmente pela causa do trânsito, a grande maioria da população está no mesmo barco que você. Constato isso quase que diariamente, a cada escola que visito e vejo a surpresa no rosto das professoras ao me referir à tal campanha; cada empresa na qual palestro e vejo algumas poucas mãos levantarem (quando levantam) assim que pergunto se alguém conhece a tal Década; bem como nos cursos que ministro, quando, com o olhar vazio, os cursandos se entreolham buscando subsídio à pergunta no colega ao lado. E as mortes seguem crescendo.

Mas como diria Sun Tzu em A arte da guerra:

Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas…

Enquanto você pensar que o inimigo está no carro ao lado, essa guerra, infelizmente, não terá fim…

Rodrigo Vargas de Souza

Sou formado em Psicologia pela Unisinos, atuo desde 2009 como Agente de Fiscalização de Trânsito e Transporte na EPTC, órgão Gestor do trânsito na cidade de Porto Alegre. Desde 2015, lotado na Coordenação de Educação para Mobilidade do mesmo órgão.Procuro nos meus textos colocar em discussão alguns dos processos envolvidos na relação do sujeito com o automóvel, percebendo a importância que o trânsito, espaço-tempo desse encontro, vem se tornando um problema de saúde pública. Tendo como objetivos, além de uma crítica às atuais contribuições (ou falta delas) da Psicologia para com a área do trânsito, a problematização da relação entre homem e máquina, os processos de subjetivação derivados dessa relação e suas consequências para o trânsito.Sendo assim, me parece urgente a pesquisa na área, de forma a se chegar a uma anuência metodológica e ética. Bem como a necessidade de a Psicologia do Trânsito posicionar-se de forma a abrir passagem para novas formas heterogêneas de atuação, que considerem as singularidades ao invés de servirem como mais um mecanismo de serialização das experiências humanas.

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