20 de dezembro de 2025

Facelift: a beleza está no para-brisa de quem vê


Por Rodrigo Vargas de Souza Publicado 15/07/2020 às 20h30 Atualizado 02/11/2022 às 20h02
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O processo de humanização do automóvel é um tema recorrente no artigos de Rodrigo V. de Souza. Veja o que o facelift tem a ver com estética dos veículos. 

Foto: Divulgação Autor.

O mercado da beleza, sobretudo com a evolução tecnológica e financeira, tem movimentado cada vez mais dinheiro. Conforme dados da Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos), em 2018 a área movimentou R$ 47,5 bilhões. A indústria da beleza cresceu 10% e movimenta mais de R$ 101 bilhões ao ano, desde 2001. No entanto, em um país onde, segundo o Ministério da Economia, o setor automotivo representa 22% do seu PIB industrial, os cuidados com a beleza não poderiam ficar apenas no âmbito da estética humana.

Coincidentemente, há pouco tempo postei essa imagem nas redes sociais:

Essa imagem me remete a uma pequena história que se passou com uma colega de trabalho há alguns meses. Com o início da pandemia do Covid-19, por estar sem carro, a colega em questão pegou o carro do pai emprestado para vir trabalhar diariamente e não correr riscos de contaminação no transporte público. Ocorre que, certo dia, no intuito de desinfectar o veículo, ela passou álcool gel no painel do mesmo. Muito provavelmente, em contato com o plástico do painel, o álcool deve ter reagido e desbotado a superfície cinza chumbo, deixando uma mancha esbranquiçada bem acima da direção do carro.

Ela, apavorada com a possível reação do pai ao descobrir a mancha, após alguns dias lembrou de uma amiga que tinha uma estética automotiva. Após algumas horas de “tratamento” e diversos “produtos de beleza” diferentes, felizmente foi possível remover a mancha, trazendo quase que por completo a cor original do painel.

Processo de humanização do veículo

O processo de humanização do automóvel é um tema recorrente nos meus artigos. Já mencionei em outro artigo como eu divertia-me fazendo caretas e tentando imitar a “cara” dos carros que passavam pela rua quando era criança. Bem como sua transformação em astro até mesmo nas telas de cinema, em CARRO, NASCIDO EM BERÇO ESPLÊNDIDO. Entretanto, essa semana pensava sobre um aspecto que nunca havia refletido: o facelift. Pela tradução literal, face (rosto) + lift (erguer), podemos inferir o sentido da expressão. No campo da beleza, refere-se a um processo cirúrgico de rejuvenescimento facial. No automotivo, a um processo utilizado por todos os fabricantes de automóveis, o facelift ajuda a dar uma “cara” mais moderna aos carros.

É bem verdade que eventualmente, em ambos os casos, o facelift acaba gerando um resultado visualmente não muito agradável. Mas, como já dito no título do artigo, a beleza está nos olhos… ou melhor, no para-brisa de quem vê.

Afinal de contas no mundo automotivo, muitas vezes, quem vê cara não vê manutenção.

Rodrigo Vargas de Souza

Sou formado em Psicologia pela Unisinos, atuo desde 2009 como Agente de Fiscalização de Trânsito e Transporte na EPTC, órgão Gestor do trânsito na cidade de Porto Alegre. Desde 2015, lotado na Coordenação de Educação para Mobilidade do mesmo órgão.Procuro nos meus textos colocar em discussão alguns dos processos envolvidos na relação do sujeito com o automóvel, percebendo a importância que o trânsito, espaço-tempo desse encontro, vem se tornando um problema de saúde pública. Tendo como objetivos, além de uma crítica às atuais contribuições (ou falta delas) da Psicologia para com a área do trânsito, a problematização da relação entre homem e máquina, os processos de subjetivação derivados dessa relação e suas consequências para o trânsito.Sendo assim, me parece urgente a pesquisa na área, de forma a se chegar a uma anuência metodológica e ética. Bem como a necessidade de a Psicologia do Trânsito posicionar-se de forma a abrir passagem para novas formas heterogêneas de atuação, que considerem as singularidades ao invés de servirem como mais um mecanismo de serialização das experiências humanas.

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