21 de dezembro de 2025

Transporte público: de quem é essa conta?


Por Rodrigo Vargas de Souza Publicado 18/02/2020 às 03h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h06
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Transporte públicoFoto: Pixabay.com

Recentemente, o prefeito de Porto Alegre, Sr. Nelson Marchezan Júnior (PSDB), enviou para apreciação da Câmara de Vereadores da cidade um pacote de medidas que visavam o incentivo ao uso transporte público, o qual ficou conhecido como “Projeto Transporte Cidadão” (saiba mais). Embora tais medidas não sejam inéditas, pois diversas outras cidades pelo mundo já fazem uso de alguma(s) dela(s), o pacote se mostrou não só inovador, pelo conjunto de medidas que sugeria, como muito polêmico, pois transferia a outros modais a responsabilidade de ajudar a custear o sistema de ônibus da capital gaúcha.

Essa é uma lógica não tão bem compreendida e tão pouco aceita por todos. Foi o que pude constatar durante um debate acalorado em um grupo de whatsapp, o qual se propõe a discutir a mobilidade local. Ainda que estivesse de férias, tentei acompanhar a discussão por ter interesse no assunto. E despido de qualquer interesse partidário, me pus a debater acerca dos possíveis benefícios do tal pacote.

No intuito de elucidar meu ponto de vista a um participante do grupo que se mostrava irredutível, utilizei a seguinte analogia:

Como já mencionei em outro artigo, durante dois anos fui síndico do condomínio onde moro. Essa breve experiência me proporcionou um aprendizado enorme no que diz respeito à gestão. Agora, imaginemos que o condomínio seja uma cidade e o síndico seja seu prefeito. Nesse condomínio, existem áreas comuns e equipamentos, como playground, piscina e elevadores, que demandam custos de operação e manutenção que todos devem pagar. Esses custos vêm diluídos na cota condominial de cada morador, mesmo que ele não tenha filhos para utilizar o playground, que ele não utilize a piscina e mesmo que ele more no térreo ou no segundo andar e, por isso, não compense esperar pelo elevador e ele acabe utilizando as escadas mesmo.

Entretanto, quando não temos condições para (ou simplesmente não queremos) manter esses custos, simplesmente procuramos um condomínio que não tenha playground, piscina ou elevadores. É obvio que, em se tratando de uma cidade, a situação não é tão simples, pois nem todos tem condições de mudar pra uma outra cidade onde o custo de vida seja menor… não sejamos tão extremos! Mas reflitamos juntos: por que será que pagar por certas “comodidades” no nosso condomínio não nos incomoda tanto quanto pagarmos por comodidades na nossa cidade? Gerir um condomínio, assim como uma cidade, é beneficiar o coletivo em detrimento aos interesses pessoais.

Rodrigo Vargas de Souza

Sou formado em Psicologia pela Unisinos, atuo desde 2009 como Agente de Fiscalização de Trânsito e Transporte na EPTC, órgão Gestor do trânsito na cidade de Porto Alegre. Desde 2015, lotado na Coordenação de Educação para Mobilidade do mesmo órgão.Procuro nos meus textos colocar em discussão alguns dos processos envolvidos na relação do sujeito com o automóvel, percebendo a importância que o trânsito, espaço-tempo desse encontro, vem se tornando um problema de saúde pública. Tendo como objetivos, além de uma crítica às atuais contribuições (ou falta delas) da Psicologia para com a área do trânsito, a problematização da relação entre homem e máquina, os processos de subjetivação derivados dessa relação e suas consequências para o trânsito.Sendo assim, me parece urgente a pesquisa na área, de forma a se chegar a uma anuência metodológica e ética. Bem como a necessidade de a Psicologia do Trânsito posicionar-se de forma a abrir passagem para novas formas heterogêneas de atuação, que considerem as singularidades ao invés de servirem como mais um mecanismo de serialização das experiências humanas.

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