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Artigo – Recife, ano 2037


Por Artigo Publicado 01/09/2021 às 21h30 Atualizado 08/11/2022 às 21h23
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J. Pedro Corrêa aborda o grande esforço feito pela cidade de Recife em se tornar uma referência nacional em mobilidade e segurança no trânsito.

*J. Pedro Corrêa

“Eu vi o mundo… ele começava no Recife”! A frase é de um painel do pernambucano Cícero Dias, pintor, desenhista e ilustrador, grande representante da pintura modernista do Brasil, nascido em 1907 e morto em Paris, em 2003.

Imagino a surpresa de Cícero Dias se pudesse reencontrar a capital pernambucana nos dias de hoje. Entre vários choques, teria um prazer inesperado ao se dar conta da metamorfose ocorrida no trânsito da cidade e, mais ainda, ao constatar o comportamento dos conterrâneos pernambucanos.

Os números falam por si.

Morando em Curitiba, estive em Recife várias vezes, a maioria delas com eventos ligados ao trânsito. Em nenhum momento como atualmente, senti a cidade tão empenhada em ajustar o seu sistema de tráfego. E principalmente em dar-lhe uma roupagem moderna, digna e principalmente segura.

Desde o início da segunda década mundial de trânsito, Recife esboça um esforço raro para resgatar um modelo de trânsito e mobilidade que nunca teve.

Até onde sei, este empenho ficou mais evidente quando Geraldo Júlio assume a prefeitura local com a firme intenção de vestir o trânsito recifense de roupa nova. Dá poderes e recursos à CTTU, Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife, e à Secretaria de Política Urbana e Licenciamento. O objetivo é desenhar um modelo que busque aproximação com o mundo avançado e que coloque a cidade em evidência no contexto brasileiro.

Conversei recentemente com Taciana Ferreira, presidente da CTTU desde 2013 e com Gustavo Sales, Coordenador da Iniciativa Bloomberg cuja assessoria e aconselhamentos têm sido vitais para o sucesso do projeto recifense. Depois de oferecer uma bela contribuição à prefeitura de Fortaleza, a Bloomberg está oferecendo atualmente seus serviços à Recife e Salvador e… fazendo a diferença. Afinal, são muitos anos de conhecimento acumulado ajudando prefeituras em mais de dez países ao redor do mundo.

No caso de Recife, entre seus objetivos principais de segurança no trânsito estão melhorias no gerenciamento de dados, desenho urbano (infraestrutura), fiscalização e comunicação.

“Um desafio e tanto”, me conta Taciana. Ela própria uma servidora pública de carreira, convencida de que a mobilidade e a segurança no trânsito devem priorizar a todos e não apenas os automóveis, como tem sido o caso há muitas décadas.

Trocar o carro pelas pessoas é importante. Porém, não tão simples assim. Além disso, exige muita comunicação e diálogo. E estas habilidades toda a equipe CTTU teve de desenvolver para convencer a população recifense de que o trânsito da cidade estava tomando novas direções. Para isso, porém, era preciso que todos fossem juntos. Gustavo Sales diz que sem boa gestão de dados é impossível provocar as mudanças básicas necessárias. E que para chegar a um padrão confiável foi necessário envolver outras instituições locais que se tornaram parceiras importantes do programa.

Taciana afirma que as experiências e ganhos com o redesenho urbano, as mudanças na infraestrutura, no urbanismo tático, na adoção do conceito de trânsito calmo, da requalificação das vias entre outros, tiveram impacto importante no comportamento do cidadão local. Este, enfim, se deu conta do quanto todo aquele conjunto de ações tinha como beneficiário ele próprio, o usuário.

É claro que para poder desenvolver um trabalho tão amplo e tão efetivo, Recife precisava contar com ações de capacitação. Não apenas dos agentes de trânsito da cidade mas de toda a equipe da Prefeitura que tinha relação com o plano de segurança e mobilidade.

Cursos específicos foram dados por técnicos internacionais para capacitar agentes pernambucanos para que pudessem entender as mudanças. E, assim, melhor desempenhar suas funções a partir das benfeitorias implantadas. Não perguntei, mas imagino que o discurso da “indústria da multa” deve ter sofrido um forte choque.

Na metade deste ano, o prefeito João Campos, se comprometeu com o movimento “Ruas pela Vida”, das Nações Unidas para fomentar desenhos urbanos onde a velocidade máxima não ultrapassasse 30 km/h. O objetivo é  reduzir as mortes no trânsito. Enfrentar o desafio da velocidade é um dos maiores problemas para os gestores municipais e no Recife ele assume também características muito forte.

Meses antes, cerca de 300 técnicos do Recife e de diversos países da América Latina participaram de seminário organizado pela Nacto, (Associação Nacional de Oficiais de Transporte Municipal) dos Estados Unidos, sobre mobilidade ativa e segurança no trânsito. O evento foi organizado sob a coordenação da Bloomberg. Na ocasião, os participantes debateram temas como o conceito sueco da Visão Zero, que busca implantar políticas públicas de mobilidade para reduzir a zero os sinistro fatais de trânsito. Além disso, trabalharam com exemplos de cidades como Fortaleza, que fez uso do urbanismo tático para aumentar o espaço das pessoas e redesenhar as ruas, tornando-as mais seguras. Isto tudo ajuda a dar uma ideia da importância da troca de informações entre aqueles que trabalham pelo trânsito em diferentes cidades, com cultura bastante diversa.

Uma das ferramentas que Recife tem utilizado de forma intensa e efetiva é a comunicação. Sem o que, o projeto teria muito mais dificuldades em decolar.

É impressionante o número de informações públicas divulgadas pelo serviço de comunicação social da prefeitura através da mídia e dos seus próprios canais de comunicação. O que permite ao grande público perceber (e apoiar) a metamorfose do trânsito recifense.

Como é que se consegue tudo isto em, relativamente, pouco tempo? Foi a pergunta que fiz à Taciana Ferreira, da CTTU. “Quanto o trânsito passa a ser uma prioridade para as lideranças da cidade as soluções vão aparecendo e a gente vai se esforçando para desenvolver”, me responde e acrescenta: um dos maiores “torcedores” do programa de mobilidade e trânsito seguros é o prefeito, Joao Campos. Com ele à frente, nosso papel é segui-lo.

Atualmente, a capital pernambucana trabalha no seu projeto Recife, ano 2037, quando comemorará 500 anos de fundação. Este é o novo horizonte do grande trabalho iniciado em 2013. Resta torcer para que as novas lideranças da cidade que assumirão nas próximas gestões possam continuar as ações e dizer o mesmo que o pintor Cícero Dias: “Eu vi o mundo… ele começava no Recife”!

*J. Pedro Corrêa é Consultor em Programas de Segurança no Trânsito

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