Abramet e SBGG alertam para a vulnerabilidade do pedestre idoso
Entidades alertam para a crescente vulnerabilidade dos pedestres idosos nas vias brasileiras.
A Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (ABRAMET) e a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) lançaram nesta semana um alerta sobre a crescente vulnerabilidade dos pedestres idosos nas vias brasileiras.
A campanha vem em alusão ao Dia Mundial em Memória das Vítimas do Trânsito, que ocorreu em 19 de novembro, data dedicada à reflexão sobre a perda de vidas no trânsito. Além disso, à busca por soluções para reduzir acidentes e a importância de proteger os grupos mais suscetíveis.
Embora, desde 2015, os pedestres tenham sido ultrapassados pelos motociclistas como as principais vítimas do trânsito no Brasil, a Abramet destaca que a situação dos idosos demanda atenção especial. E, por isso, este ano, as entidades focam na preocupante tendência de aumento nas internações por atropelamentos entre a população acima de 60 anos.
Dados
Dados do levantamento realizado pelas entidades médicas sobre internações hospitalares no Sistema Único de Saúde (SUS) mostram que, somente no período entre janeiro de 2013 e setembro de 2023, foram registradas mais de 370 mil internações de pedestres traumatizados em sinistros de trânsito, com 14,5 mil destes casos resultando em óbito, o que representa uma taxa de letalidade global de 3,9%.
Diante dos dados, o diretor científico da Abramet, Flavio Adura, enfatiza que o reaquecimento da economia pós-pandemia de COVID-19 resultou em um aumento no uso das vias por diferentes grupos, incluindo automóveis, pedestres, ciclistas e, principalmente, motociclistas, e que o comportamento de risco, como o uso de celulares durante a locomoção, tanto por condutores quanto por pedestres, tem contribuído para essa tendência.
“Nos últimos anos, o Brasil tem apresentado um panorama em que a mortalidade e a fecundidade se mostraram em declínio, fazendo com que a esperança de vida e, por consequência, a proporção de pessoas idosas aumentassem sensivelmente. Além disso, o ritmo de crescimento da população idosa, associado a uma forma de vida saudável e ativa, expõe as pessoas dessa faixa etária a risco maior de atropelamentos. Isso sugere que os idosos estão entre os mais vulneráveis a sinistros de trânsito e que mais atenção deve ser dada à segurança dos pedestres nesta faixa etária”, avalia.
Chance de sobreviver
De acordo com os dados levantados pela Abramet, enquanto a taxa de letalidade média para a população entre 20 e 59 anos internadas por atropelamento situa-se em torno de 3%, para os idosos maiores de 60 anos, este índice sobe para 8,93%, o que indica que, após um atropelamento, a chance de um idoso não sobreviver é três vezes maior em comparação com indivíduos mais jovens, ressalta Adura. “Devido à sua fragilidade física, os pedestres idosos são mais propensos a ferimentos com lesões graves e até fatais. Quando vítimas de atropelamentos apresentam particularidades que necessitam ser consideradas por ocasião do atendimento médico. A pessoa idosa, frequentemente, é incapaz de responder ao aumento nas demandas fisiológicas impostas pelo trauma, tendo em vista a baixa reserva funcional de diversos órgãos”, explica o diretor científico da Abramet.
Ainda segundo o especialista, a redução do nível de atenção em virtude de déficits cognitivos é o principal fator de risco para o atropelamento.
Considerando sua velocidade de locomoção (0,7 metro/segundo ou 2,5km por hora, em média), em relação ao adulto jovem e à velocidade do mundo do automóvel e da pressa, o idoso torna-se alvo para as máquinas em movimento e estará mais sujeito a atropelamentos. “As pessoas em idade avançada não devem enfrentar desacompanhadas o agressivo trânsito dos dias de hoje”, alerta.
Medidas para impedir os atropelamentos, especialmente, de idosos:
- Caminhar, sempre que possível, por lugares conhecidos
- Ter cuidado com pisos escorregadios e usar sapatos adequados
- Atravessar a rua sempre nas faixas de segurança para pedestres
- Nunca iniciar a travessia da rua no sinal vermelho para pedestres
- Iniciar a travessia imediatamente ao sinal verde para pedestres, pois terá mais tempo para atravessar a rua
- Em faixas de pedestre que não disponham de semáforo, esperar para cruzar quando outras pessoas estiverem atravessando para acompanhá-lo
- Ao atravessar a via, olhar para todos os lados
- Só iniciar a travessia da rua quando tiver certeza que o motorista parou o veículo
- Usar roupas facilmente visíveis
- Nunca parar no meio do cruzamento e atravessar em linha reta
- Ao caminhar nas calçadas, andar longe do meio-fio
- Ao sair do veículo, escolher o lado da calçada para desembarcar
- Ter atenção com saídas de garagens, estacionamentos e postos de gasolina
- Ter cuidado com veículos em marcha ré
- Não utilizar celular para não desviar a atenção
Fonte: Abramet
Campanhas educativas e medidas de prevenção
Além das medidas acima, a especialista em gerontologia, representante da SBGG, Isabela Azevedo, salienta a necessidade de envolver os próprios idosos e suas famílias em práticas de prevenção. Ela sugere medidas como a conscientização sobre o uso de faixas de travessia, assistência para aqueles com limitações de mobilidade ou cognitivas. E, também, a prática regular de exercícios para fortalecer músculos e equilíbrio. Dessa forma, reduzindo o risco de quedas e a severidade de traumas em atropelamentos.
Os especialistas também destacam a importância de campanhas educativas contínuas. Assim como políticas públicas que abordem tanto a infraestrutura quanto a educação no trânsito, visando uma coexistência mais segura entre veículos e pedestres. “Com o envelhecimento da população brasileira, torna-se ainda mais relevante implementar estratégias de longo prazo para a proteção dos idosos nas vias públicas”, continua e finaliza. “É necessário olhar para o envelhecimento da população a fim de garantir o direito de ir e vir com segurança. Para qualquer pessoa idosa é muito importante manter a sua participação ativa na sociedade, movimentando-se livremente como pedestre. A independência e a autonomia são indispensáveis para manter a qualidade de vida”, completa.