20 de junho de 2025

Pedestres invisíveis: os esquecidos das políticas de segurança no trânsito

Mesmo sendo os mais vulneráveis, pedestres continuam fora das prioridades no planejamento urbano e na fiscalização viária.


Por Mariana Czerwonka Publicado 22/05/2025 às 08h15
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pedestre no trânsito
Pessoas idosas, com deficiência ou mobilidade reduzida são as mais afetadas pela falta de infraestrutura adequada. Foto:
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Durante o Maio Amarelo, campanha anual de conscientização para a redução de acidentes, um dado segue chamando a atenção: pedestres estão entre as maiores vítimas fatais no trânsito brasileiro, mas continuam invisíveis nas políticas públicas. A infraestrutura urbana ainda privilegia veículos motorizados, e a segurança de quem caminha pelas cidades permanece negligenciada.

Conforme dados do Ministério da Saúde, em torno de 6 mil pedestres morrem por ano no Brasil vítimas de atropelamentos. Muitas dessas ocorrências estão relacionadas à falta de calçadas adequadas, travessias seguras, iluminação eficiente e fiscalização efetiva. Ainda assim, os investimentos em segurança viária raramente contemplam soluções para quem anda a pé.

Caminhar virou risco urbano

Em muitos centros urbanos, caminhar virou um ato de coragem. Calçadas esburacadas, ausência de faixas de pedestres, semáforos mal posicionados e sinalizações apagadas são apenas alguns dos obstáculos enfrentados diariamente por milhões de brasileiros. Além disso, o desrespeito às regras de trânsito por parte dos condutores, como excesso de velocidade e avanço de sinal, agrava ainda mais o cenário.

De acordo com Celso Mariano, especialista e diretor do Portal do Trânsito, essa realidade contrasta com o que está previsto no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que estabelece uma hierarquia de proteção no trânsito, dando prioridade aos mais vulneráveis.

“Em teoria, o pedestre deveria ser o protagonista das políticas de segurança viária, mas na prática, segue como o elo mais frágil e desprotegido”, questiona.

Mobilidade a pé é sustentável — e negligenciada

A mobilidade ativa, como caminhar, é apontada por especialistas como uma solução sustentável para o futuro das cidades. Além de não emitir poluentes, melhora a saúde física e mental da população. No entanto, a falta de políticas públicas voltadas ao incentivo da mobilidade a pé impede que mais pessoas adotem esse hábito com segurança e conforto.

Cidades com ruas seguras para pedestres são também mais inclusivas e humanas, atraem comércio local, reduzem a dependência de carros e melhoram a qualidade de vida. Mas isso só será possível com planejamento urbano que coloque o pedestre no centro das decisões.

Quem mais sofre?

Pessoas idosas, com deficiência ou mobilidade reduzida são as mais afetadas pela falta de infraestrutura adequada. A ausência de rebaixamento de calçadas, rampas ou sinalização tátil torna a travessia praticamente impossível — e perigosa — para quem mais precisa. Crianças também estão entre os principais grupos de risco, sobretudo nas proximidades de escolas, onde frequentemente faltam medidas efetivas de segurança.

O que pode (e precisa) mudar

Conforme o especialista, para mudar esse cenário, é preciso priorizar a mobilidade a pé nos planos de mobilidade urbana, com medidas como:

  • Implantação e manutenção de calçadas acessíveis;
  • Redução da velocidade em áreas de grande fluxo de pedestres;
  • Sinalização horizontal e vertical bem visível;
  • Faixas elevadas e tempos semafóricos adequados para travessias;
  • Campanhas educativas focadas em motoristas e pedestres.

Além disso, a fiscalização precisa ser reforçada para coibir práticas como estacionar sobre calçadas e faixas de pedestres, atitudes recorrentes que colocam vidas em risco.

Pedestres no trânsito não são obstáculos: são cidadãos

Enquanto campanhas de trânsito focam, muitas vezes, apenas em condutores e ciclistas, é hora de dar visibilidade a quem anda a pé.

“Pedestres não são obstáculos para o tráfego — são cidadãos com direito à cidade e à mobilidade segura. Neste Maio Amarelo, dar voz a quem anda nas ruas pode ser o primeiro passo para um trânsito mais justo e humano”, conclui.

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