Explosão de internações revela cenário crítico de violência no trânsito brasileiro
O dado alarmante escancara uma crise silenciosa que, conforme especialistas, exige ação urgente de governos e da sociedade civil.

Mais de 220 mil pessoas foram internadas em hospitais públicos apenas em 2024 após se envolverem em sinistros de trânsito no Brasil. O dado alarmante escancara uma crise silenciosa que, conforme especialistas, exige ação urgente de governos e da sociedade civil.
O levantamento, realizado pela Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego) em parceria com a Abramede (Associação Brasileira de Medicina de Emergência), mostra que o trânsito brasileiro continua a ferir, incapacitar e matar em escala epidêmica — e com alto custo. A cada dois minutos, uma nova vítima de sinistro viário dá entrada em uma unidade de emergência do SUS (Sistema Único de Saúde), onde permanece internada por cerca de seis dias, em média.
“O trânsito brasileiro é uma epidemia silenciosa. As emergências estão lotadas de vítimas de circunstâncias evitáveis, com um custo humano, social e econômico altíssimo”, alerta Antonio Meira Júnior, presidente da Abramet.
De acordo com o estudo, entre 2015 e 2024, o SUS registrou quase 1,8 milhão de internações por acidentes de trânsito, com gastos diretos que somam R$ 3,8 bilhões. Os motociclistas lideram as estatísticas de internações, representando 60% dos casos em 2024 — o dobro das vítimas hospitalizadas por outros modais, como pedestres, ciclistas e ocupantes de carros e ônibus.
A médica Camila Lunardi, presidente da Abramede, destaca o impacto dessa realidade nas unidades de saúde:
“Atuamos diariamente nas emergências e vemos o peso dessa tragédia nos hospitais. Isso exige resposta do Estado, da sociedade e de todos os atores do sistema de mobilidade”, afirma Lunardi.
Além da sobrecarga no sistema de saúde, o estudo chama atenção para o perfil das vítimas. Homens entre 20 e 39 anos representam quase metade dos casos. Crianças e adolescentes também aparecem de forma expressiva. Ou seja, 15% das internações ocorrem entre menores de 20 anos, muitas vezes pela ausência de equipamentos de segurança adequados. Já os idosos, apesar de representarem uma parcela menor dos atendimentos (9%), são os mais vulneráveis às complicações graves.
Regiões
O Sudeste, região com a maior frota do país, lidera em número de internações: 93 mil casos em 2024. O estado de São Paulo, sozinho, concentrou mais da metade das hospitalizações da última década.
Em pleno Maio Amarelo, campanha de conscientização sobre segurança viária, os dados reforçam a necessidade de transformar o trânsito em uma pauta prioritária. “Como médicos, estamos profundamente preocupados com a preservação da vida e da saúde dos brasileiros. Ver tantos recursos sendo consumidos por tragédias evitáveis no trânsito é frustrante”, reforça Meira Júnior.