Amarelo o ano todo
* Rovena Lopes Paranhos
Maio foi colorido de amarelo, e o foi porque mundialmente amarelo é a cor convencionada para as advertências. Embora seja essa uma convenção antiga, segue cada vez mais atual, dado que hoje a realidade da vida cotidiana tem imposto a todos, e em todos os cenários, advertências cabais, mas lamentavelmente, ao que parece, ignoradas ou menosprezadas.
No trânsito, essas advertências têm sido fatais. A estimativa, caso nada seja feito, é a de que se atinjam assustadoras 1,9 milhão mortes no trânsito em 2020 e 2,4 milhões em 2030 em todo o mundo. Representam a primeira causa de mortes na faixa etária entre 15 e 29 anos; a segunda na faixa etária entre 5 e 14 anos e a terceira na faixa etária entre 30 e 44 anos. O Brasil, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, é o quarto país com mais mortes no trânsito nas Américas; são 23,4 mortes por cada 100 mil habitantes.
Que motivos têm determinado essa escalada desenfreada de violência no trânsito? Porque as ações de prevenção têm sido pouco efetivas para o enfrentamento dessa questão? São esses acidentes, de fato, acidentais? Ou seriam eles em grande medida evitáveis?
São diferentes e diversas as motivações que podem ser identificadas como determinantes para a violência no trânsito. Muito já se sabe a respeito. Parece, todavia, que o exame de como essa violência poderia ser evitada, poupando, quiçá, milhares de vidas, ainda aguarda maior atenção.
A pressa constante, o sentimento de invencibilidade, a certeza da invulnerabilidade, a necessidade de poder, a falta de civilidade, a certeza da impunidade, a ausência de solidariedade, a inexistência de compaixão e o desrespeito por si próprio são circunstâncias reais que, não raro, concorrem para o comportamento violento no trânsito. Em que pesem óbvias, essas circunstâncias seguem veladas e não enfrentadas, mas são silenciosa e perversamente determinantes de comportamentos violentos no trânsito.
Desvelá-las e enfrentá-las talvez possa ser útil para tornar evitável esse triste cenário. O Maio Amarelo, que preconiza a atenção pela vida, é uma das iniciativas nesse sentido. E é precisamente a atenção pela vida que está esquecida. Essa atenção, por certo, requer menos pressa, mais civilidade, limites assegurados, consciência da vulnerabilidade, solidariedade, compaixão e respeito por si e pelo outro. Reafirmar e praticar esses princípios e valores talvez seja um caminho mais seguro e menos violento, que garanta a vida e não celebre a morte.
* Rovena Lopes Paranhos é Psicóloga e coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP/Fase-RJ)