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Pós-pandemia: como será a Primeira Habilitação?


Por José Nachreiner Junior Publicado 10/07/2020 às 11h11 Atualizado 02/11/2022 às 20h02
 Tempo de leitura estimado: 00:00

O comportamento dos seres humanos está se modificando e fará do pós-pandemia o “novo normal”. Como será a Primeira Habilitação nesse cenário? Leia a opinião de José Nachreiner.

Hoje vou recorrer aos jovens filhos e filhas dos meus ex-alunos(as), dos meus amigos(as) que me perguntam, por meio das redes sociais, como as coisas vão ser no pós-pandemia?  Igual? Diferente?  Novo normal?  São expressões veiculadas pela mídia, replicadas nas redes sociais (infelizmente muitas vezes na forma de fake news e prestando um desserviço à informação), para alertar a população do que acontece no dia a dia de forma “igual diferente” em meio a uma crise sanitária de proporções mundiais sem precedentes na história econômica e social.

É bem provável que o prudente leitor esteja lendo este artigo em sua própria casa, em isolamento social, uma das consequências desta pandemia.

A tecnologia existente para dispositivos como computadores, smartphones e tablets, bem como de softwares, hardwares e meios de transmissão por internet, nos ajuda no dia a dia a atravessar um período só comparável à epidemia da gripe espanhola.  Tudo se intensificou de forma exponencial. Uma rotina: pessoas trabalham, compram, se informam e estudam de casa.

Grande parte das empresas enviou seus funcionários para casa no cumprimento das normas sanitárias. O que já existia ganhou mais espaço. Em todo o planeta as empresas estão redesenhando seus organogramas, enxugando custos e descobrindo as potencialidades do trabalho remoto.  Um exemplo são as empresas que administram plataformas para “lives” que, velozmente, aumentaram esforços para o desenvolvimento de novas tecnologias para participação de muitas pessoas com imagem e voz em reuniões de trabalho, shows ao vivo e aulas remotas pela internet.

Saiba que sua Primeira Habilitação está muito próxima de ter, em definitivo, aulas teóricas remotas, misturando práticas de direção em simuladores de forma regular em todos os estados. Tudo ficará igual, mas diferente em termos de tecnologia.

O século XXI tem sido mais que um início de século de aprendizado contínuo. Aprendemos com esta pandemia, que nos pegou de surpresa, sem vacinas e remédios para combatê-la, a importância da ciência. Tivemos que nos adaptar as novas realidades do trabalho remoto, ir ao supermercado só quando precisamos, encontrar o comércio totalmente fechado, sem falar do turismo, dos bares e da vida cultural dos shows, salas de cinema e teatro. Aliás, quando podíamos entrar em um banco usando máscaras?

O jeito foi continuar tudo de dentro de casa, com o trabalho remoto, estudos por meio de ensino a distância, exercícios físicos, comidas solicitadas por aplicativos, jogos online, ou seja, igual, mas diferente, pois todas essas tecnologias já estavam a disponíveis aos seres humanos e o que fizemos foi intensificá-las.

O comportamento dos seres humanos se modifica de forma global e fará do pós-pandemia o tão propagado “novo normal”, ou seja, igual, mas diferente.

Um panorama que, por si próprio, forçará órgãos públicos como os Detrans dos estados a unificarem normas para que você prossiga no desejo de tirar sua Primeira Habilitação com aulas teóricas na modalidade remota. Porém, existe grande número de jovens e adultos que não optaram por tirar a CNH e também de pessoas que possuem a CNH, mas preferem se deslocar por meio de carros de aplicativos, carona compartilhada ou transporte público.

Benedito Costa Neto, professor, escritor e designer. Foto: Arquivo Pessoal.

Professor de várias disciplinas na área de humanas, em quatro cursos diferentes, mestre e doutor em Literatura pela UFPR, escritor e designer, nunca teve vontade de dirigir e afirma não ter se deixado levar pelo discurso de ter um carro.  Diz que em sua época os homens eram estimulados a dirigir e que vê seus alunos incentivados à dirigir e ter um carro, pois a ideia da conquista e do status é algo permanente.

Costa Neto, acredita ser uma exceção da sua geração, uma vez que o carro é uma função social, um símbolo de conquista social, no entanto prefere aplicativos. “O carro como bem cultural não diminuiu de valor nas famílias e continua sendo um bem a ser conquistado pelas famílias e jovens. O carro no Brasil tem um peso cultural muito grande mesmo em face dos grandes problemas de transportes coletivos.  Os meus alunos de faixa salariais mais baixas usam os aplicativos dividindo a conta entre amigos.  Por outro lado, alunas tem receio de se transportar por carros de aplicativo, principalmente, pelo perigo do assédio no transporte coletivo.  Muitos alunos utilizam aplicativos até pelo custo muito menor que os insumos necessários ao automóvel, IPVA, seguro, manutenção, combustível.  De qualquer forma, percebo que os jovens continuam desejando ter a CNH e sonham com a aquisição de um carro”, conclui Costa Neto.

Com a palavra os jovens da geração Y e Z: o automóvel ainda é um sonho a ser conquistado.

Nascidos após os anos noventa do século XX, os jovens da geração Y e Z são nativos da internet e cultuam mídias que há muito não são mais chamadas de “novas mídias”.   Agora falamos de uma complexidade tecnológica cultural bem diferente da evolução dos carros, (apesar da indústria automobilística construir carros e motos com a robótica e, notavelmente, repleta de hardwares e softwares capazes de desenhar preciosidades da engenharia), a internet e as redes sociais já possuem caminhos consolidados na história.

A internet e as mídias sociais interagem com o público individualmente, ao contrário, das mídias tradicionais como o rádio, o cinema e a televisão que podem ser ouvidos e assistidos de forma coletiva.

Mais intensas e representativas para a formação cultural individual e coletiva dos indivíduos, as mídias sociais influenciam grupos, gostos e prazeres semelhantes. Grande parte dos jovens, dependendo das camadas sociais, de alto poder aquisitivo, como as elites, buscam status e o prazer em adquirir automóveis esportivos. Em muitos países europeus, o prazer pela compra do automóvel movido a combustível fóssil vem mudando, rapidamente, em busca de soluções sustentáveis como os carros elétricos, patinetes e bicicletas.

Pedro Augusto Senem, 18 anos, estudante de
Odontologia na Universidade Positivo. Foto: Arquivo Pessoal.

Pedro Augusto revela que seu pai está lhe ensinando os primeiros passos do volante em áreas bem desertas para não ter problemas (mas todos sabemos que isso é uma hipótese frequente e que não faz parte do Código de Trânsito Brasileiro).

Estudante do primeiro ano de Odontologia, Pedro Augusto diz que “gostaria de tirar a CNH para não ter que ficar dependendo de horário do transporte coletivo para se deslocar na cidade e principalmente para ir até a universidade. Preciso pegar, às vezes, até 4 ônibus à noite.  Gosto de carros mas minha família não vai me dar nenhum automóvel, se eu quiser tenho que comprar um com o suor do meu futuro trabalho, até lá posso, no entanto, compartilhar o carro com os pais ou utilizar os carros de aplicativo”.  Para ele, o carro ainda é um meio de transporte seguro, mas nutre o sonho de adquirir um carro elétrico como os da Tesla.

Pedro Augusto afirma: “tenho amigos que já dirigem sem carteira (o que para o CTB é infração gravíssima) e outros que não tem vontade alguma de aprender a dirigir por preferirem bicicletas e patinetes elétricos”.

Marseille Marés Nachreiner, 27 anos
Analista de Marketing Digital do O Boticário. Foto: Arquivo Pessoal.

 

Marseille, tem formação em Marketing pelo Centro Universitário Curitiba, fez o curso de Formação de Condutores aos 19 anos e desde então procura não dirigir. Ela afirma ter dirigido poucas vezes.  Opta pelo deslocamento de carro por meio de aplicativos e diz que já sofreu assédio no transporte público de Curitiba que tem os mesmos problemas que outras capitais brasileiras, afirma.  Para Marseille, “a força da sedução por um carro dos sonhos é ainda para mim uma tentação estranha. Prefiro bicicletas, patinetes elétricos e quem sabe em um futuro próximo, já na qualidade de executiva bem-sucedida profissionalmente, comprar um carro elétrico, mas com um chofer dirigindo”.

Theo Anghinoni Leal, 17 anos,
estudante do ensino médio. Foto: Arquivo Pessoal.

Para o estudante do ensino médio, Theo Leal, ter um automóvel está nos seus planos e afirma já  ter dirigido algumas vezes mas foi apenas para ter experiência (neste ponto, reforço que a situação do Theo não está de acordo com o CTB). Theo Leal faz questão de complementar a ideia: “não sou apaixonado por automóveis reais, mas desde criança, gosto de jogos de corrida, então cultivei uma paixão pelos automóveis virtuais como os carros da Lamborguini. Procuro me deslocar com os carros de aplicativos, pois como não tenho carro é o melhor jeito de ir a qualquer lugar e na hora que preciso”.

Para Theo Leal, a ideia de ganhar um carro dos pais, passa longe dos seus desejos, pois prefere recompensas de outro valor como a amizade e o carinho os quais considera mais importantes do que qualquer bem material.

Maria Vitória Binder, 18 anos, estudante de Psicologia na UFPR. Foto: Arquivo Pessoal.

Maria Vitória é uma jovem estudante de psicologia na UFPR e afirma não desejar ter carro próprio. Diz Vitória: “Acredito que os gastos para cuidar de um carro pesam mais do que o conforto de poder ter meu próprio veículo. Prefiro me deslocar com veículos de aplicativos e por transporte coletivo, pois meus trajetos são curtos e fixos no dia a dia.

Eu moro perto da faculdade, me desloco bastante a pé, porém tenho vontade de aprender a andar de bike para me locomover. Ainda sinto medo, pois não tenho tanta prática e não me sinto bem para começar a pedalar sozinha”.

Maria Vitória afirma que sua formação de condutora não foi suficiente e que terminou as aulas muito insegura com a direção.

Em sua opinião, “há muitas tarefas que fazem diferença, são estranhas ao que é pedido no exame e não foram ensinadas no Curso de Formação de Condutores”.  Maria Vitória conclui: “sinto que isso faz muita falta para uma preparação satisfatória, principalmente hoje, em que há muitos veículos na rua, em todos os horários do dia, mesmo com a pandemia”.

Dirigir não é para qualquer um: a Primeira Habilitação

O sentido da expressão do subtítulo faz sentido, pois segundo o Especialista em Trânsito, Celso Mariano, “dirigir não é para qualquer um, não é um direito nato e deve mesmo funcionar como uma autorização temporária”.  É fato: o desejo de centenas de milhares de jovens em tirar a Primeira Habilitação é, primeiramente, uma autorização temporária e posteriormente uma permissão para dirigir.  Pois o motorista pode ter a CNH suspensa ou até mesmo cassada dependendo da infração que cometer.

Dirigir é ter prudência para se deslocar de um ponto a outro na cidade, para o litoral, no meio rural.  Dirigir é ter competência adquirida por meio de aulas teóricas e práticas de qualidade.

Ontem, hoje e sempre, dirigir não é para pessoas sem CNH, para exibicionistas, para a prática de “rachas”, infelizmente transmitidas nas redes sociais por alguns jovens que prestam um enorme desserviço à sociedade. A condução de veículos por seres humanos não tem lugar para o álcool e drogas.

A mudança no comportamento de muitos jovens que não desejam dirigir já é percebida nas estatísticas.  O igual, mas diferente da mobilidade urbana jamais será o mesmo no pós-pandemia e não é de agora que muitos habilitados, ou não, preferem se locomover em carros de aplicativos e cada vez mais por meio de transportes sustentáveis como carros elétricos, patinetes, bicicletas e transporte público movido a biocombustível ou elétrico, de qualidade, com a exigência do “distanciamento social” entre os passageiros.

Esta geração pós-pandemia já sai ganhando com novas ideias, comportamentos e evolui aderindo conceitos de sustentabilidade, economia e praticidade.

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