07 de dezembro de 2025

Motos precisam de mais espaço para parar


Por Gisele Flores Publicado 15/10/2013 às 03h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h42
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Acidentes com motos

Já vimos, infelizmente, várias vezes, um tipo de cena que nos assusta muito, a de um motociclista rodando atrás de um caminhão ou ônibus, quase colado, a fim de “pegar o vácuo”.

Esta maneira de conduzir é extremamente perigosa por vários motivos:

1º) O piloto da moto não tem absolutamente visão de nada do que acontece à frente na via, senão a traseira de um grande veículo;

2º) É uma pilotagem muito tensa, pois o piloto da moto não pode desviar a atenção nem um pouquinho sequer sem correr o risco de colidir com o veículo à sua frente;

3º) É proibido, nos termos do artigo 29, II do CTB, que determina:

    Art. 29. O trânsito de veículos nas vias terrestres abertas à circulação obedecerá às  seguintes normas:

II – o condutor deverá guardar distância de segurança lateral e frontal entre o seu e os demais veículos, bem como em relação ao bordo da pista, considerando-se, no momento, a velocidade e as condições do local, da circulação, do veículo e as condições climáticas;

4º) Nessas situações, normalmente, o piloto se situa no meio da faixa de rolamento, local onde há grande concentração de óleo que vaza de carros, caminhões e ônibus misturado com areia fina ou água, portanto um trecho muito escorregadio;

5º) É grande a probabilidade de, nesta posição, haver buracos, pedras soltas, pedaços de pneus, objetos diversos ou animais mortos que o veículo da frente passará por cima e dos quais o piloto da moto poderá não conseguir desviar;

6º) No caso de uma frenagem brusca, o piloto da moto não terá tempo nem espaço suficientes para conseguir deter o seu movimento sem colidir com o veículo da frente.

Sobre este último aspecto, fizemos testes de rodagem real para um fabricante de pneus e pudemos constatar, aproximadamente, quais as distâncias necessárias para efetivamente parar o movimento de uma moto.

As distâncias aqui apresentadas, por óbvio, servem apenas de referência, pois a distância exata necessária vai depender de vários fatores como tipo de moto, tipo de sistema de freio, carregamento da moto, habilidade do piloto, e condições climáticas, do pavimento e dos pneus, mas já dão uma boa noção do perigo que se corre.

Em condições de clima seco, pavimento em boas condições, motos de 125 cilindradas com um piloto de 75 Kg, freio a disco na roda dianteira e tambor na traseira, nas velocidades abaixo indicadas, sem uso combinado do freio motor, são necessárias as seguintes distâncias para se parar totalmente (grandezas arredondadas para facilitar a compreensão):

– 40 Km/h:

– Freios dianteiro e traseiro: aproximadamente 5 metros;

– Só freio dianteiro: Aproximadamente 8 metros;

– Só freio traseiro: Aproximadamente 15 metros.

– 60 Km/h:

– Freios dianteiro e traseiro: aproximadamente 9 metros:

– Só freio dianteiro: aproximadamente 14 metros;

– Só freio traseiro: aproximadamente 24 metros.

– 80 Km/h:

– Freios dianteiro e traseiro: aproximadamente 12 metros:

– Só freio dianteiro: aproximadamente 19 metros;

– Só freio traseiro: aproximadamente 32 metros.

Como se pode notar por estes testes, o espaço necessário é expressivo. Ainda é importante considerar que nós pilotos estávamos preparados para realizar uma frenagem brusca num determinado momento. Em uma freada pânica, quando o condutor tem de acionar o freio inesperadamente, ainda deve ser considerado o tempo humano de resposta, o que exigiria um espaço um pouco maior para efetivamente se parar o movimento.

A partir deste experimento, temos as seguintes conclusões:

1º) Não é mesmo recomendável andar atrás de um outro veículo sem guardar um distância segura frontal bem considerável;

2º) Este é mais um bom motivo pelo qual o tráfego de motos entre veículos não deve ser proibido, pois obrigar uma moto a andar atrás de um carro poderá gerar colisões em função das diferentes necessidades de espaços de frenagem entre um e outro tipo de veículo;

3º) É sempre importante procurar acionar os dois freios quando necessário. Como se pode verificar, o uso somente do freio traseiro é o menos recomendável, embora seja muito comum entre vários motociclistas;

4º) O aumento da velocidade gera a necessidade de um espaço bem maior para se conseguir parar a moto. De uma forma simplista e aproximada, um aumento de 50% na velocidade exige quase 100% mais de espaço de frenagem.

Enfim, esperamos não ver mais nenhum motociclista fazendo este tipo de manobra tão arriscada, pois não conseguimos perceber vantagem nenhuma neste tipo de conduta, só grandes riscos à vida do piloto da moto.

Gisele Flores

Gisele Flores é comunicadora de vários veículos de comunicação e incansável ativista por um trânsito mais seguro.Formada em Comunicação Social pela PUC-RS com especialização em Gestão Pública pela UFRGS e Direção Geral de CFCs pela Faculdade IDC, já foi a única mulher a competir em campeonatos oficiais de motovelocidade no Brasil, entre os anos de 2007 e 2009.Atualmente mantém várias atividades, dentre estas o ISM - Instituto Sobre Motos, uma OSCIP devidamente registrada no Ministério da Justiça, atuante na pesquisa e ensino para a segurança no trânsito e mobilidade viária e uma escola de pilotagem segura e defensiva para empresas e motociclistas. É pilota de testes de novos produtos para fabricantes e já foi jurada para avaliação de trabalhos sobre segurança no trânsito para a Abraciclo e Sincodive-Fenabrave de Santa Catarina.Já foi idealizadora de vários projetos para uma maior conscientização e melhor educação no trânsito. Em 2011 foi nomeada Delegada, com direito a voto, nas deliberações do Conselho de Segurança para o Trânsito do Rio Grande do Sul. Frequentemente é convidada para entrevistas, como participante de mesas de debate, fóruns e paineis e palestrante como especialista no assunto motos.Por sua destacada atuação de responsabilidade social já recebeu as distinções de “Honra ao Mérito” da ABRAM (Assoc. Brasileira dos Motociclistas) em 2008 , da AMO-RJ (Assoc. dos Motociclistas do Rio de Janeiro) em 2010 e, desde este ano até hoje, recebe anualmente da AMO-RS (Assoc. dos Motociclistas do Rio Grande do Sul).

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