08 de dezembro de 2025

Quem deve ensinar a dirigir carros com câmbio automático?


Por Márcia Pontes Publicado 19/04/2013 às 03h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h46
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Está aí, condutores! Considerando as dificuldades práticas de muitos motoristas para aprender a dirigir carro com câmbio de todos os tipos e também algumas manchetes na mídia de acidentes por imperícia ao volante de um desses carros, faço um convite à reflexão.

A última que eu soube sobre a teórica facilidade de dirigir um carro com câmbio automático veio de um condutor com 2 anos de habilitação que disse tranquilo: “É facinho, só coloca no D (de driver) e sai acelerando”. O resultado? Ele descobriu, na prática, que não era tão “facinho” assim como pensava.

Fazendo uma busca no Google sobre os acidentes causados por motoristas ao volante de carros automáticos cheguei ao caso de um manobrista que perdeu o controle do veículo, caiu de uma altura de 5 metros e foi parar no Hospital das Clínicas.

Mas também tem o caso de um frentista que perdeu o controle do automático que estava manobrando, se chocou contra a vitrine de óleo de motor e anda acertou um veículo que estava abastecendo. Isso sem falar em motoristas que avançam sobre calçadas e fachadas de lojas ou mesmo ladrões de veículos que se atrapalham e causam acidentes inusitados.

Será que dirigir carro de câmbio automático é tão “facinho” assim, bastando olhar o manual ou seguir as instruções dos “instrutores” da família?

Na Itália, um país que vem consolidando uma plataforma cultural voltada para a segurança no trânsito e redução de acidentes, quem aprende a dirigir em carro automático não pode dirigir carro de câmbio manual. Se no dia da prova prática escolhe o carro de câmbio automático vem escrito na sua futura “patente di guida”, a CNH deles lá na Itália: “Habilitado para dirigir câmbio automático”.

Da mesma forma, se no dia da prova prática escolhe fazer o teste de direção com um veículo de câmbio manual não poderá guiar um carro com câmbio diferente deste. Seria, então, o caso de pensarmos mais seriamente sobre o assunto sobre quem deve ensinar a dirigir carros com câmbio automático no Brasil?

Acredito que a mesma medida aplicada na Itália não se aplique aos motoristas brasileiros mesmo diante do aumento de vendas de automáticos. Por outro lado, especula-se se incluir a aprendizagem da direção de carros com câmbio automático ou hidramático no processo de habilitação não serviria para confundir ainda mais o aluno.

Exigir que exista a anotação na CNH de que fez um curso ministrado por instrutores de CFC para dirigir carros automáticos seria uma alternativa mesmo depois de habilitado para dirigir carros manuais, mas, de acordo com a realidade brasileira, será que não seria criar mais uma norma difícil de fiscalizar?

Enquanto isso, vai-se aprendendo a dirigir carros automáticos com o pai, com o tio, o amigo, com o vizinho, com todo mundo, menos com quem exerce a profissão de ensinar a dirigir. E para quem acredita que dirigir um automático ou hidramático é “facinho” e não precisa de curso e nem de instrutor, saibam que essa legião que dirige diariamente sem habilitação carros de todos os tipos pelas ruas de todo o Brasil também pensa dessa forma.

Márcia Pontes

Meu nome é Márcia Pontes, sou educadora de trânsito em Blumenau (SC), Graduada em Segurança no Trânsito na Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) e colunista de assuntos de trânsito do Portal de Notícias Blumenews. Sou pesquisadora do medo de dirigir e dos métodos de ensino da aprendizagem veicular pelo método decomposto, desenvolvido na Suíça e difundido em autoescolas italianas.Em 2010 iniciei nas redes sociais um trabalho de Educação Para o Trânsito Online (EPTon) utilizando a força das mídias sociais (Orkut, Facebook, Blog, MSN, Twitter, Youtube) com foco no acolhimento emocional, aprendizagem significativa e dicas de direção defensiva, ética e cidadania no trânsito.Escrevo o Blog Aprendendo a Dirigir voltado para alunos em processo de habilitação nos CFC e para motoristas habilitados com dificuldades e medo de dirigir. O foco deste trabalho voluntário reconhecido internacionalmente leva acolhimento emocional, aprendizagem significativa e fundamentos de ética, cidadania e humanização do trânsito para evitar acidentes, sobretudo por imperícia.No ano de 2012 publiquei o livro digital Aprendendo a Dirigir: aprendizagem pelo método decomposto para evitar traumas e acidentes durante a (re)aprendizagem da direção veicular. Em 2013 publiquei o livro Aprendendo a Dirigir: um guia prático de exercícios para quem tem medo de dirigir.Sou apaixonada por trânsito, respiro, pesquiso cientificamente e vivo o trânsito com compromisso existencial. A principal luta da minha vida: contribuir para rever e atualizar os métodos de ensino da direção veicular no Brasil substituindo o adestramento do aluno e a memorização pela construção de conceitos e de significados sobre o ato de dirigir defensivamente.

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