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02 de novembro de 2024

20 horas é pouco para ensinar a dirigir?


Por Márcia Pontes Publicado 10/06/2013 às 03h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h45
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Essa é uma pergunta frequente nas palestras de formação, paradas pedagógicas e rodas de conversa com Detrans, gestores de CFC e seus profissionais que revela uma preocupação constante, principalmente diante das cobranças da resolução 358/10 acerca dos índices de reprovação nos testes práticos.

Sabemos que a questão é ampla, complexa, visceral e que a compreensão dessa dificuldade no cotidiano dos instrutores de direção tem que ser analisada no contexto. Mas essa afirmação de um diretor de ensino essa semana no Blog Aprendendo a Dirigir soa preocupante porque atribui, de novo, e quase que exclusivamente a culpa da reprovação ao aluno:

“Posso garantir que a maioria absoluta das reprovações em exame são de responsabilidade dos alunos.” O diretor de ensino em questão explica que 90% dos candidatos vão para o exame logo após completarem a carga mínima exigida (20 aulas), mesmo tendo sido alertados pelo instrutor de que ainda não domina os fundamentos básicos exigidos no exame e, portanto, tem chances mínimas de aprovação. Como o aluno decide ser avaliado assim mesmo e o CFC não tem o poder de vetar o agendamento do exame, o candidato, na maioria das vezes, é reprovado. E faz a seguinte pergunta: “Que responsabilidade tem quem alertou e não foi ouvido?”

Assim como todos no processo de habilitação tem um papel e responsabilidades específicas, não é diferente com o aluno e aquele que insiste em ir para a prova despreparado mesmo depois de alertado tem sim, responsabilidade sobre a sua decisão e a sua reprovação. Mas, não são todos que se recusam a fazer mais aulas. Na maioria das vezes eles sempre pagam. E muitas aulas, mas continuam reincidentes na reprovação.

Quando digo que a questão das 20 horas é estrutural é porque quem determina essa carga horária é o Contran e quem ensina a dirigir não tem, em tese, o que fazer a não ser se virar nos 20 para tentar ensinar os comandos básicos do veículo neste tempo caso os alunos discordem de comprar aulas complementares.

A visão dos instrutores e dos diretores de ensino é de que 20 aulas é pouco para ensinar todos os comandos básicos de um ato tão complexo quanto dirigir a uma pessoa que nunca sentou no banco do motorista antes. É de que o aluno não está pronto para a prova, o instrutor alerta, aponta as falhas e o aluno se recusa a comprar mais aulas porque a habilitação vai ficar ainda mais cara. Daí, hipoteticamente, a culpa da reprovação passa a ser do aluno.

A visão do aluno é de que já pagou muitas aulas e não conseguiu aprender porque o instrutor não explica direito, não consegue entender as suas dificuldades, manda fazer os comandos sem explicar o sentido de fazê-los e como fazê-los. Aí o aluno vai comprando pacotes e pacotes de aula e continua patinando sem sair do lugar.

Como vemos, tudo se volta para o modo como se ensina e se aprende. Para a parte pedagógica, salvaguardados os demais fatores que implicam para a reprovação no âmbito das responsabilidades de todos os envolvidos no processo de habilitação.

Se 20 horas é pouco para um aluno aprender a dirigir, então que se busque uma forma séria de mobilização para fazer com que eles lá em cima entendam isso e aumentem a carga horária.

Mas, o fato é que se a aprendizagem não for significativa para o aluno, se ele não construir conceitos sobre o que está fazendo, se continuarem reproduzindo os métodos de adestramento, se não tiver qualidade didática e pedagógica nas aulas, podem aumentar para 100 horas/aula a parte prática que ainda assim o aluno não conseguirá aprender.

As pessoas não aprendem em tempos iguais: uns aprendem mais rápido, outros não. O ensino não é linear porque as pessoas não aprendem todas do mesmo jeito, da mesma forma, tem características e necessidades diferentes e isso precisa ser compreendido por quem ensina alguma coisa, principalmente por quem ensina a dirigir.

Em relação aos alunos que insistem em ir para a prova com dificuldades apontadas pelos instrutores, é uma questão de se trabalhar e se negociar com eles a necessidade de mais aulas: entender os seus motivos, esclarecê-los, ajudá-los a entender a necessidade de domínio dos fundamentos básicos, estimulá-los à autoavaliação, procurar ajudá-los em suas dificuldades.

20 horas/aula de aulas práticas é pouco? Quem ensina a dirigir diz que sim, o que aumenta o desafio: a qualidade das aulas práticas. É muito difícil despertar o interesse dos alunos para trabalharem com aquilo que não os provoca, que não os desafia, que não os interessa; para aquilo que eles ainda não encontraram o motivo para a ação de aprender. A motivação é do aluno, mas o incentivo vem do instrutor. Como estamos despertando nos alunos essa motivação no melhor estilo “se vira nos 20?”.

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