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Os patetas no trânsito e o discurso de indústria da multa


Por Márcia Pontes Publicado 28/09/2016 às 03h00
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Aquele filme “O Pateta no Trânsito” que quase todos que se habilitaram para dirigir assistiram durante as aulas teóricas completou 65 anos e parece que nunca deixou de ser atual. Afinal, os patetas no trânsito existem desde que se inventou a roda e o automóvel. Quem ainda não assistiu ou quer relembrar, está aqui o link:

https://www.youtube.com/watch?v=mz6AC8odx5Y

No filme, o Sr. Walker, estrelado pelo Pateta, de Walt Disney, mora em um bairro tranquilo, de pessoas decentes, é o típico homem comum, considerado bom cidadão e de inteligência razoável. É um homem gentil, amável, bom, pontual e honesto. Não machucaria uma mosca, tampouco uma formiga. Ele acredita em “viva e deixe viver!”. O Sr. Walker possui um automóvel e se considera um bom motorista. Mas, quando ele pega no volante acontece um fenômeno estranho e ele se transforma em “O Motorista”.

O sr. Walker se deixa levar pela forte sensação de poder, sua personalidade muda completamente e de repente ele se transforma em um monstro incontrolável: o motorista diabólico. O Sr. Walker é agora o Sr. Wheeler, o “motorista”.  Afunda o pé no acelerador, desrespeita a sinalização, as pessoas, xinga pedestres e motoristas que cruzam a sua frente, se acha o dono da rua e sai propalando o discurso de que é para isso que paga os seus impostos, como se nesse mundo só ele pagasse impostos e os outros não. “Paguei meus impostos, contribuí para as melhoria das ruas e eu vou usá-las como eu quiser!”

Não sabe dirigir devagar, acha que tudo no trânsito é planejado para os motorizados: as vias, os limites de velocidade e sempre dirá que eles estão errados, que os engenheiros de tráfego tiraram diploma por telefone e estudaram tanto para fazer lambança o tempo todo. “Saiam da minha rua, abram caminho, eu quero passar! Meu carro é mais novo, mais caro, mais potente, corre mais, paguei uma baba por ele e deveriam tirar essas carroças velhas da minha frente!”

O sr. Wheller também xinga os outros de lerdos, molengas e meia roda. Faz manobras arriscadas, corta a frente dos outros, ultrapassa onde é proibido, não dá seta porque se acha mais experiente e habilidoso do que os outros e se alguém buzina para alertar que quase causou um acidente faz gestos obscenos e manda os outros calarem a boca.

Há os patetas que dirigem seus carros lentamente pelas vias lotadas de outros veículos: “deixem que esperem”, “azar de quem está atrás do meu carro”. Parar no sinal então: Meu Deus, 30 segundos perdidos na vida! Ficam impacientes, acelerando, embicando, encostando o carro na traseira do outro que está a frente. Se o motorista da frente demora um pouquinho mais para sair está feita a fuzarca! Buzina, xinga, passa por ele cantando pneus!

Abriu o sinal e os patetas do trânsito posicionam-se como se estivessem no grid de largada da fórmula 1 e diz, ainda que mentalmente: na minha frente eles não passam, nem que o local e a sinalização permitam e dificultar a vida do outro motorista durante a manobra possa resultar em um acidente em que vai sobrar até para eles.

Na hora de estacionar o sr. Pateta do Trânsito mal deixa o outro motorista sair da vaga e já enfia o seu carro nela, pulando na frente de quem estava ali, pacientemente sinalizando e aguardando que o outro deixasse a vaga para ele entrar. Imagina, vagas são o pote de ouro dos motoristas e ele irá fazer de tudo para pegar uma vaguinha boa dessas!  Inclusive, ser mau educado.

Sem a sua armadura protetora, quando tem de sair do carro e largar o volante, os patetas do trânsito se transformam no Sr. Walker, o pedestre. Experimentam todo o tipo de abuso e desrespeito que cometem quando estão ao volante e reclamam dos outros motoristas que fazem o mesmo que ele. Muitos, chegam a ser atropelados pelos seus pares patetas até em cima da calçada. Melhor se refugiar na carapaça de lata do carro mesmo e dirigir como se estivesse guiando um tanque de guerra.

Peraí! E se for autuado e punido pelas infrações que cometem já têm na ponta da língua um discurso afiado de “indústria da multa”, que naturalmente não é o discurso de quem não dirige e nem se comporta como um pateta do trânsito. Esses não se cansam de lembrar da indústria dos infratores e dos patetas do trânsito.

E ainda que depois de sobreviver ao exercer o papel deste ser caminhante chamado pedestre e conhecer plenamente e sentir na pele como um pedestre se sente, o pateta do trânsito vai se abrigar em seu carro e tornar a se sentir o dono da rua. Novamente, ele vai voltar a se sentir confiante e poderoso e transformar-se mais uma vez em “O Motorista”.

Muitos patetas do trânsito vão quebrar o próprio brinquedinho e se sentirem injustiçados. Vão xingar, esbravejar, criticar, dizer que a culpa é deste, daquele, do poste que atravessou correndo na frente dele ou do pedestre que ele atropelou em cima da calçada.

Quando o sr. Wheeler for flagrado pela fiscalização e autuado, esbravejará e erguerá bandeiras pedindo o fim da fiscalização, das infrações, da punição, xingará todo mundo e rasgará parte do CTB.

Espero que todos voltem a assistir o filme, reflitam, revejam seus comportamentos e atitudes no trânsito e na vida. Depois disso, considere também a indústria dos infratores e qual a sua responsabilidade nisso tudo.

Porque já temos patetas demais por aí tornando o trânsito um caos, ferindo, matando e tornando tudo ainda muito pior.

 

 

 

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