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09 de outubro de 2024

Simuladores ou simulação da aprendizagem?


Por Márcia Pontes Publicado 04/04/2013 às 03h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h47
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A edição da resolução n. 420/2012, que altera os dispositivos da Resolução n. 168/2004 inova pela obrigação do ensino da aprendizagem veicular por simuladores de direção e representa uma esperança, em parte, de que os métodos pedagógicos para ensinar a dirigir também sejam revistos e atualizados no Brasil.

Mas o principal questionamento que se faz é: porque se teve de esperar tanto tempo para se preocupar com os detalhes da aprendizagem dos conceitos básicos sobre o ato de dirigir? Mesmo antes de positivado o primeiro Código de trânsito no Brasil foram editadas resoluções e mais resoluções no que se refere à aprendizagem da direção veicular, mas será que só agora caiu a ficha e resolveram se preocupar com as questões básicas como uso e aperfeiçoamento de pedais de embreagem, freio e acelerador? Só agora, na era da tecnologia e com foco na máquina (o simulador de direção), se pensou em como ensinar o aluno a conhecer os pedais, o volante, as marchas e a como passá-las em tempo certo?

Sinceramente, leitores, eu pensei que isso já vinha sendo feito ainda no tempo das autoescolas, bem antes de receberem a tarefa de FORMAR condutores. Sim, porque embora formar seja bem diferente de ensinar a dirigir, conhecer os pedais e saber usá-los em diferentes situações é um fundamento básico do ato de dirigir que dispensa simulador ou simulação.

Será que era a falta de especificações numa resolução que fez com que durante dois séculos desde a chegada do primeiro carro no Brasil não se tivesse assumido o compromisso com a aprendizagem significativa no ensino do ato de dirigir no nosso país? Será por isso que os índices de reprovação dispararam tanto?

É fato que a Resolução n. 168/2004 era uma das mais atualizadas antes de se pensar nos simuladores de direção, mas não discriminava o quê e como se deveria ensinar a dirigir, tampouco dava indicativos para que os diretores de ensino e instrutores elaborassem e gerissem o plano pedagógico.

Precisou introduzir o uso do simulador para se pensar que a aprendizagem poderia ser atualizada e significativa. Está lá, no preâmbulo da Resolução 420/12: “Considerando o interesse no aperfeiçoamento e modernização do processo de formação de condutores […] com a utilização de novas tecnologias desenvolvidas para essa finalidade;[…]”…

Mas também consta no preâmbulo da referida resolução: “Resolve: Art. 1º Disciplinar a nova estrutura curricular básica do curso teórico-técnico de formação de condutores […]”

Mas será que essa inovação vai resolver mesmo? Por exemplo, a mesma Resolução que determina os conceitos básicos para se trabalhar o aluno focam no conhecimento da máquina e deixaram de fora conceitos básicos como o de trânsito como um espaço compartilhado; a necessidade de regras de convivência e a mobilidade humana, além do próprio conceito do ato de dirigir. Conceito este que na cabeça dos futuros motoristas ainda é andar em linha reta com o carro em movimento e bem sabemos que dirigir é mais que isso!

A meu ver, pela lida diária com aprendizes de direção e com motoristas recém-habilitados, conhecendo bem as dificuldades que eles têm e o modo como se envolvem em acidentes por imperícia, não concordo que o simulador seja usado antes das aulas práticas.

É necessário que o aluno construa primeiro o conceito sobre dirigir, que compreenda o seu significado, que tenha tido os primeiros contatos de verdade com o carro para ir aperfeiçoando com o simulador os comandos que não consegue fazer nas aulas.

Para que o ato de dirigir se torne significativo para o aluno ele tem que dirigir da mesma forma que aprende a caminhar: primeiro engatinha, depois anda e depois aprende a mudar a marcha. Aprender primeiro no simulador para depois ter contato com o veículo não parece ser uma boa estratégia, mesmo porque no carro é diferente, existe o movimento, existe os estímulos do ambiente, a percepção da sensibilidade dos pedais em diferentes situações que o simulador dificilmente vai reproduzir com fidelidade.

Que fique bem claro que não sou contra os simuladores de direção, mas sim a favor da reflexão do processo pedagógico como um todo para identificar o melhor momento de utilizar essa ferramenta tão importante. Sem esquecer os aspectos humanos do ato de dirigir.

Só espero que essa percepção de que a aprendizagem da direção veicular no Brasil possa ser melhorada pelos simuladores não simule a aprendizagem significativa. Até porque a humanização que tanto se espera para o nosso trânsito depende da valorização das pessoas no processo de ensino e de aprendizagem. Em tempos de humanização no trânsito, há que se pensar a (super) valorização das máquinas que ensinam a dirigir como tábua de salvação para um processo pedagógico inteiro.

Mas se a mudança que tanto se espera pode vir por essas máquinas de aprender a dirigir (e aperfeiçoada permanentemente) que seja bem-vinda!

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