15 de novembro de 2025

A tecnologia está nos deixando antissociais. Será?


Por Rodrigo Vargas de Souza Publicado 10/02/2021 às 21h00 Atualizado 02/11/2022 às 19h58
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A tecnologia molda o comportamento, ou o comportamento molda a tecnologia? Leia o post de Rodrigo Vargas.

TecnologiaFoto: Divulgação autor.

Dia destes, enquanto navegava pelo LinkedIn, me deparei com uma postagem de uma Designer de Produto, especialista em Neurociência, chamada Carolina Cruz Perrone. Na postagem, ilustrada pela imagem a seguir, ela aborda de forma extremamente instigante esse que é um debate com o qual sempre me deparo quando o assunto é tecnologia. Ela questiona:

Em tempos de demonização do digital, fica a reflexão. A tecnologia molda o comportamento, ou o comportamento molda a tecnologia?


(Toda essa tecnologia está nos deixando antissociais)

Tal questionamento me remete a um artigo que escrevi há algum tempo sobre Haterstermo muito utilizado nos meios virtuais, ou seja, internet e redes sociais, para definir pessoas que costumam tecer duras críticas a pessoas, instituições ou mesmo situações. No entanto, não foi na Internet que esse tipo de discurso de ódio surgiu. Ela é apenas a ferramenta ou meio utilizado atualmente para a disseminação de uma prática que acompanha a humanidade desde as mais priscas eras!

Quem nunca ouviu falar naquela máxima da caneta que pode ser utilizada para furar os olhos do seu inimigo ou para assinar um tratado de paz com o mesmo?

Ora, a ferramenta é a mesma. O que difere é o uso que se faz dela. Agora, culpar a caneta pelas intermináveis guerras que a humanidade tem travado ao longo de sua existência me parece, no mínimo, insensato…

Seria sensato afirmar que os controles remotos nos deixaram mais preguiçosos? Que a Internet nos fez mais ansiosos? Ou ainda, que os veículos automotores nos tornaram mais sedentários? Isso, para mim, soa como afirmar que se a população mundial está com sobrepeso é por culpa das balanças!

Na já tão habitual “Terceirização da Culpa” humana, a bola da vez é a tecnologia. Parece que nesse divã de intermináveis negações e conflitos internos, a humanidade precisa começar a aceitar não só suas culpas, mas suas preguiças, suas ansiedades, seus sedentarismos e sobrepesos para, só então, quebrado esse espelho que reflete essa distorcida imagem narcisista de nós mesmos, começarmos a (des)construção do ser humano. Não aquele que queremos, mas aquele que de fato precisamos ser.

Rodrigo Vargas de Souza

Sou formado em Psicologia pela Unisinos, atuo desde 2009 como Agente de Fiscalização de Trânsito e Transporte na EPTC, órgão Gestor do trânsito na cidade de Porto Alegre. Desde 2015, lotado na Coordenação de Educação para Mobilidade do mesmo órgão.Procuro nos meus textos colocar em discussão alguns dos processos envolvidos na relação do sujeito com o automóvel, percebendo a importância que o trânsito, espaço-tempo desse encontro, vem se tornando um problema de saúde pública. Tendo como objetivos, além de uma crítica às atuais contribuições (ou falta delas) da Psicologia para com a área do trânsito, a problematização da relação entre homem e máquina, os processos de subjetivação derivados dessa relação e suas consequências para o trânsito.Sendo assim, me parece urgente a pesquisa na área, de forma a se chegar a uma anuência metodológica e ética. Bem como a necessidade de a Psicologia do Trânsito posicionar-se de forma a abrir passagem para novas formas heterogêneas de atuação, que considerem as singularidades ao invés de servirem como mais um mecanismo de serialização das experiências humanas.

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