Como “humanizar” o trânsito para condutores recém-habilitados
Rodrigo Vargas comenta sobre os incontáveis casos de condutores recém-habilitados que não se sentem seguros para conduzir seus veículos.
Existem diferentes tipos de pessoas e, por esse motivo, diferentes formas de aprendizagem. O processo de formação de novos condutores, inegavelmente, evoluiu muito ao longo dos últimos anos no país. Nem por isso quer dizer que ainda não tenha o que ser melhorado. Prova disso são os incontáveis casos de condutores recém-habilitados que não se sentem seguros para conduzir seus veículos.
Como forma de driblar o nervosismo que a acometia a cada vez que seu carro apagava e tentar despertar empatia nos demais condutores, evitando assim buzinas e xingamentos, a estudante de Psicologia de Caxias do Sul (RS) decidiu colar uma placa na traseira do seu carro com a mensagem “Recém Habilitada“.
Embora inusitada, a prática não é nenhuma novidade. Não é raro nos depararmos com placas semelhantes pela internet, às vezes até bem mais singelas, muitas vezes feitas até à mão.
Tanto é que, em meados de 2018, a Deputada Federal Christiane de Souza Yared (PL-PR) propôs em um PL (Projeto de Lei) tornar obrigatória uma placa que identificasse veículos dirigidos por condutores com habilitação provisória, a chamada PPD (Permissão para Dirigir).
No entanto, o que me chamou a atenção foi a frase em letras menores colocada logo abaixo da advertência em letras garrafais:
“Tenha paciência, se eu ficar nervosa o carro morre!“.
É evidente que o termo morre na frase tem a conotação de apagar, desligar. Mesmo assim, me pus a pensar nela num sentido denotativo, ou seja literal, por pura curiosidade semântica.
Obviamente que, em se tratando de um objeto inanimado, o carro não morreria literalmente. A menos que refletíssemos mais profundamente sobre o que ele (o carro) representa socialmente. Assunto que já venho estudando e escrevendo desde o Efeito Transformers em Trânsito, no qual exponho o fenômeno da humanização da máquina e a mecanização do humano.
Diante dessa breve reflexão, fico a me questionar o quanto a vida, não a do carro, mas do condutor (e mesmo as dos demais ocupantes do veículo) seria capaz de gerar a mesma empatia aos demais condutores. É claro, que para quem lê a placa de advertência colada na traseira do veículo, fica evidente se tratar de um apelo do condutor, de uma súplica por paciência diante da sua inexperiência e falta de habilidade, já que ser habilitado não significa necessariamente ser habilidoso. Mas o erro é algo eminentemente humano, ao qual todos estamos sujeitos, seja experiente, seja habilidoso ou não. Então será mesmo preciso a instalação de uma placa no nosso veículo para que sejamos dignos de paciência e compreensão para com os nossos erros no trânsito?
Em outro artigo eu já questionei se HUMANIZAR O TRÂNSITO: SERÁ REALMENTE A SOLUÇÃO?, por entender que o ser humano não é, nem de longe, medida para tolerância, empatia ou civilidade.
Ou estarei eu sendo demasiadamente pessimista com a nossa espécie?
Talvez ainda tenhamos a capacidade de, um dia, nos comportarmos no trânsito de uma forma digna de podermos adotar o termo “trânsito humanizado”. Não só no sentido conotativo, mas também no denotativo. Desde que o carro não “morra”, é claro!