No trânsito, compartilhar é a solução
Durante minhas últimas férias, tive contato com uma modalidade de compra de propriedades que vem crescendo em diversos lugares do mundo, conhecida como multipropriedade ou propriedade compartilhada. Essa denominação é atribuída ao sistema de propriedade compartilhada de bens móveis ou imóveis, no qual cada proprietário se transforma em dono de fração de tempo no qual poderá usar o bem durante determinado período do mês ou do ano. Usual nos Estados Unidos e na Europa, o modelo também é conhecido como “propriedade fracionada”. Normalmente, investindo bem menos do que precisariam para ter o bem apenas para si, os sócios dividem bens de luxo, como imóveis em destinos turísticos exclusivos, iates e aeronaves.
A ideia me pareceu bastante interessante, primeiramente no que diz respeito à economia, bem como à possibilidade que esta modalidade dá a pessoas que jamais imaginariam passar férias em um Resort, passearem em um iate ou mesmo dirigirem um carro, fazerem tais coisas. No Brasil, entretanto, o compartilhamento de veículos ainda é bastante tímido, principalmente devido às barreiras culturais. No entanto, a situação deve mudar rapidamente nos próximos anos, visto que 55% dos brasileiros, assim como eu expus no artigo CARRO QUE MUITO SE AUSENTA, UMA HORA DEIXA DE FAZER FALTA, já dispensam a compra do carro próprio, segundo a Global Automotive Consumer Study de 2016.
É interessante pensar que a maior empresa do ramo hoteleiro da atualidade, o Airbnb, não possui um hotel sequer. Bem como a maior empresa de transporte de passageiros do mundo, a conhecida Uber, que transporta milhões de pessoas diariamente sem nenhum carro na sua frota. No entanto, quando falamos em trânsito, o transporte individual de passageiros está longe de ser uma solução para os grandes centros urbanos. Quando falamos em mobilidade, o termo compartilhamento deve ter um alcance muito mais amplo, não se limitando apenas a serviços de car ou bike sharing, mas ao compartilhamento do espaço público como um todo.
Em praticamente todas as empresas nas quais palestrei até hoje, quando questionadas sobre uma possível solução para o trânsito da cidade, as pessoas, invariavelmente, respondem: alargamento de vias, construção de pontes ou viadutos e eliminação de semáforos. Soluções que são, em grande parte, benéficas ao transporte individual, mesmo que a grande maioria ali não utilize tal modal. O fato é que, todos que um dia precisaram utilizar o transporte público e reclamavam de sua ineficiência, na primeira oportunidade, cobraram o poder público por um transporte melhor, correto? NÃO! A maioria das pessoas, na primeira oportunidade que a vida lhes proporciona abandona o transporte público em detrimento do transporte individual. Ou seja, vai logo se “engarrafando” em um carro, ou se arriscando entre eles em cima de uma moto. Reflexo de uma sociedade individualista e egoísta.
Sendo assim, quando estiver “preso” dentro de seu carro em um daqueles intermináveis engarrafamentos, procure pensar: como eu estou utilizando esse espaço que é público? Porque, diferentemente do que pensa a maioria, o espaço público não é do governo, da prefeitura ou de ninguém! Ele é nosso e é assim que devemos tratá-lo.
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