O que o Brasil está fazendo para atingir as metas da Década?
Que o nosso país está há mil anos luz de todos os países desenvolvidos quando se trata do tema trânsito, segurança automotiva, estrutura e comportamento, nós já sabíamos, mas quanto o Brasil está se esforçando para cumprir as metas propostas pela ONU na criação da Década Mundial de Ações para a Segurança no Trânsito?
Vemos muitas campanhas sendo veiculadas Brasil afora, que têm como objetivo a mudança de comportamento da população, mas em relação a estrutura viária e automotiva brasileira, o que, realmente, na prática o Governo está fazendo?
Vou dar alguns exemplos que ilustram como estamos atrasados em relação a muitos países do mundo desenvolvido.
Na Holanda, foram inauguradas faixas de trânsito que brilham no escuro, é uma pintura especial que acumula energia durante o dia, e se mostram solução interessante e segura para a sinalização em trechos pouco ou nada iluminados. (Há alguns dias atrás viajei entre Jaraguá do Sul e Pomerode, numa estrada que mal se enxergava a faixa pintada na via).
A novidade na Europa também é um sistema único de infrações que liga todos os países europeus. Segundo dados recentes, com a diminuição de 17% desde 2010, a União Europeia está em boa posição para atingir o objetivo estratégico de reduzir para metade o número de mortos nas estradas entre 2010 e 2020.
O Japão quer chegar até 2030 com índice zero de acidentes no trânsito, como? O governo japonês já está se preparando para receber os carros autônomos. Segundo eles, a ideia é “facilitar a circulação do tráfego e tornar as estradas japonesas as mais seguras do planeta”.
Nos EUA, o órgão americano de segurança no trânsito (NHTSA) anunciou que todos os veículos, incluindo caminhões e ônibus, terão obrigatoriamente câmera traseira. A regra começa a ser aplicada em 2016 de forma gradual até 100% dos automóveis em 2018. Segundo levantamento, a cada ano 228 pessoas morrem a cada ano em acidentes com veículos dando ré – grande parte (44%) são crianças com menos de cinco anos. Em 2013, uma associação de pais processou o governo de Barack Obama pela demora na regulamentação após um casal atropelar acidentalmente os próprios filhos.
Esses exemplos de iniciativas demonstram o quanto existem países e governos empenhados em reduzir o número de acidentes no mundo. E aqui no Brasil, como estão as coisas?
Bom, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou ontem que houve 136 mortes e 2.726 acidentes nas rodovias federais do país entre a última quinta-feira (17) e esta segunda-feira (21), durante o feriado prolongado da Semana Santa e de Tiradentes. No ano passado, entre a quinta-feira da Semana Santa e o domingo de Páscoa, a PRF contabilizou 108 mortes e 2.429 acidentes nas rodovias federais. Os principais motivos, segundo a PRF, foram falta de atenção, velocidade incompatível e animais na pista. Sim, no Brasil ainda se morre devido a animais soltos na pista (parece piada com um país de terceiro mundo, mas infelizmente é a pura realidade).
Alguma coisa mudou de um ano para o outro? Segundo os cálculos da PRF, há três anos o órgão adotou o critério de calcular o número de acidentes, mortos e feriados por dia para cada 1 milhão de veículos, os resultados de 2014 apresentaram queda. Queda? Talvez sensível, mas nada considerável.
Para se implantar a obrigatoriedade do airbag e ABS nos carros brasileiros foi uma luta. Economia X segurança. Somos muito moles mesmo…
Afinal, então, o que está sendo feito de verdade em nosso país? Boas campanhas e só. Projetos isolados de Educação para o Trânsito nas instituições de ensino, aumento do rigor em leis (mas sem fiscalização, o que torna a lei um fracasso e a sensação de impunidade cada dia maior). Mas e na infraestrutura viária? As ultrapassagens não são a maior causa de mortes em rodovias do nosso país? E porque ainda existem tantas rodovias não duplicadas e em tão mau estado? O aumento da frota exacerbado? Aonde vamos parar? A falta de vagas em hospitais? Esses problemas citados estão além das mudanças de comportamento do cidadão, que certamente é grande responsável pelos acidentes, e a solução não tem como partir de nós, ela está nas mãos dos governos federal, estaduais e municipais.
Não podemos aceitar de modo tão passivo o massacre, ou melhor, a guerra que vivemos hoje no trânsito brasileiro. Nem nós, nem o nosso Governo.
Há muito que ser feito. A Copa está valendo para mostrar ao mundo e a nós mesmos, a situação lastimável e de atraso em que se encontra o Brasil perante o resto dos países. Como brasileira, me sinto envergonhada. Até o próximo post!