AUMENTANDO a velocidade, você CHEGA MAIS RÁPIDO ao destino?

Pelas leis da “Física Clássica”, quando se aumenta a velocidade de um corpo, obrigatoriamente ele irá percorrer determinada distância em menor tempo. (logo, para a mesma distância, se diminuir a velocidade, aumentará o tempo de chegada ao destino. Não há discussão, essa é a legítima verdade)
Mas, e nas vias públicas? Será que estabelecer “limite de velocidade” prejudica ou beneficia os condutores e a mobilidade urbana relacionada ao tempo de chegada ao destino?
A discussão sobre o tema redução dos limites de velocidade nas vias das capitais brasileiras, frequentemente, inflama debates, muitas vezes hostis, sobre os “porquês”, as “vantagens” e a “eficiência” deste propósito.
Muitas cidades do mundo também enfrentam esta hesitação, então devemos estar informados sobre a carência de fórmulas mágicas. (é prioridade estar disponível aos aprendizados, às simulações, às efetivações e às tentativas – tudo isso requer experimento; sugiro com a sociedade -, pois do contrário surgirão “desastrosos” efeitos).
Tenho usado investigações, leituras e observado as críticas…(são acusações e contra-acusações voando por aí, produzindo buracos no bom senso do cidadão)
Alguns salientam que diminuir a velocidade dos veículos nas vias públicas:
-…é uma forma de penalizar o motorista e força-lo a usar o transporte público e a bicicleta.
-…serve tão somente para aumentar o fluxo dos veículos nas vias mais movimentadas.
-…tem como objetivo básico, diminuir a incidência de acidentes.
Como não há fatos eternos, assim como não há verdades absolutas, quem sabe elenquemos algumas considerações?
01: ao dirigir, necessitamos manter distância segura do carro a nossa frente. Quanto maior a velocidade que trafegamos, maior deve ser esta distância, pois em caso de frenagem precisaremos de uma maior distância para frear, sem colidir com o veículo à frente. (concordam que essa atitude está cheia de prudência?)
02: usando cálculos matemáticos – não utilizados por mim -, chega-se a constatação de que diminuindo a velocidade cabem mais carros na via, originando menos congestionamentos e assim aumenta a velocidade média da viagem. (muito em razão do que explico no ponto 03)
03: quando os veículos transitam em menor velocidade, a probabilidade e a gravidade dos acidentes diminuem, logo a circulação dos veículos se torna mais contínua, reduzindo a possibilidade de mortes. (pelo menos é o que a estatística demonstra)
04: mas encontram-se outras opiniões para a melhora do fluxo dos veículos:
a) limites variáveis de velocidade nas vias, de acordo com o horário;
b) limites de velocidade que se ajustam à demanda em tempo real – calculando a velocidade ideal para aquele determinado fluxo.(em qualquer estudo as medições são importantes para averiguar a eficácia da medida, e a partir dos resultados encontrar melhorias)
05: será que os limites de velocidade salvam vidas?
Em determinadas situações, apesar da redução da velocidade, as mortes por acidentes podem continuar ocorrendo, e até crescendo. (para este caso – o aumento do número de mortes -, a redução da velocidade não é o elemento de risco fundamental. Muito provável que existam outras justificativas)
Em São Paulo, aproximadamente 50% das ruas analisadas apresentaram acréscimo no número de mortes apesar da redução na velocidade de circulação dos veículos.
Alguns atribuem esse aumento, ao desrespeito dos pedestres à sinalização da travessia, mas outros, contra argumentam que o semáforo de pedestre fica verde por apenas 25 segundos – tempo insuficiente para cruzar as pistas com segurança. (restou culpar quem é o responsável. A prefeitura da cidade)
Outra questão é a de que nas marginais em São Paulo, depois dos motociclistas, os pedestres são as maiores vítimas de mortes. (há especulação que o limite de velocidade não vai atacar a real causa deste problema, pois nas vias rápidas o que não deveria existir é o trânsito de pedestres – existente nos mais diversos locais -, para travessia da via)
OBS: o pedestre não presta atenção, ele surge mentalmente do entorno.
06: Reduzir os limites de uma via rápida também modifica a natureza da via, fazendo com que sua finalidade – que é justamente ser rápida-, seja anulada. (para um número significativo de condutores, isso produz um nível altíssimo de impaciência)
07: nos centros urbanos os números ainda não comprovam que a redução de velocidade salva vidas. (ao menos não na cidade inteira)
OBS: para as vias paulistanas, aquelas que tiveram redução do número de mortes com a redução do limite da velocidade, outros fatores contribuíram:
– à fiscalização, a redução no volume de tráfego, modernização das sinalizações, obras de desvio e ampliação das vias, e até mesmo as campanhas educativas promovidas pelas autoridades de trânsito – tanto para condutores como para pedestres. (por isso reitero que comparar simplesmente a queda no número de mortes, com a redução no limite de velocidade, não é suficiente para atestar que somente elas salvaram vidas)
OBS: Via mais estreita tende a acumular mais trânsito do que avenidas amplas?
– Bem, comentam que a incidência de congestionamento não está ligado à largura das vias, mas sim à capacidade das faixas de rolamento quanto ao volume de veículos em diferentes horários.
A ligação com outras vias também pode influenciar este cenário. (para diminuir impactos, o órgão fiscalizador deve fazer a manutenção do conjunto semafórico, a revitalização da sinalização horizontal para ordenação do trânsito e a implantação de sinalização vertical com placas)
Atualmente não há condições – algumas estruturais e outras financeiras -, para aumentar o tamanho das vias. (o que deve ser mudado é o modo de locomoção na cidade – usar o transporte público seria uma forma efetiva de locomoção?).
08: na Suécia – país referência no tema mobilidade urbana -, os critérios para definição de limites de velocidade são os seguintes:
– em lugares onde há possibilidade de conflitos entre carros e pedestres ou ciclistas, a velocidade máxima é 30 km/h;
– onde há interseções em nível e pode haver colisões laterais – colisões em T -, a velocidade máxima é 50 km/h;
– em lugares com a possibilidade de impactos frontais entre carros, a velocidade máxima é 70 km/h;
– em lugares onde não há a possibilidade de impactos frontais ou laterais entre carros, a velocidade pode variar entre 100 km/h e 120 km/h.
09: para alguns, a ideia de aumentar a velocidade para ganhar tempo não passa de uma ilusão, pois o ganho do tempo médio fica na faixa dos 3% – que é praticamente nada em termos de ganho real. (se o percurso leva “uma” hora, você chega 1 minuto e 48 segundos, mais cedo)
E um dos motivos é que quando aumentamos a velocidade este tempo ganho é contrabalançado pelo tempo perdido nas freadas – desacelera muito mais -, além de correr muito mais risco.
10: outro fator a considerar é que muitas vezes a redução da velocidade esbarra na ideia equivocada que pode haver aumento no tempo de congestionamentos, o que ocasionaria um maior tempo para o condutor chegar ao destino – dizem que o julgamento é falso.
OBS: há experimentos onde a velocidade foi reduzida de 60 km/h para 50 km/h e essa redução foi associada a um aumento dos tempos médios de viagem de apenas 9 segundos por deslocamento, ao mesmo tempo em que evitou quase 3 mil acidentes com vítimas por ano. (ou seja, as cidades podem reduzir os limites de velocidade sem aumentar os congestionamentos)
11: velocidade média
O que deve ser avaliado principalmente é a velocidade média, e não a velocidade máxima.
E por motivos óbvios – seja por questões de tráfego, pela necessidade de parar nos semáforos e outras questões de segurança viária -, é impraticável trafegar na velocidade máxima o tempo todo. (por isso, calcula-se a velocidade média. Determina-se um trecho ou trajeto, mede-se o tempo gasto e com isso temos a velocidade média)
12: algumas opiniões favoráveis
# “Ao diminuir a velocidade, você reduz o número de veículos na via. No caso das marginais de São Paulo, não vejo um impacto grande para horários de pico, pois a grande quantidade de carros deverá manter o fluxo naturalmente mais lento. Fora do pico, a velocidade menor aumenta o tempo de reação dos motoristas e, assim, tende a melhorar mais a segurança do que a fluidez”.
# “Algumas experiências mostram que também há impacto positivo no fluxo de veículos, pois a redução da velocidade máxima pode aumentar a velocidade média dos carros”.
# “Os veículos estão andando de maneira mais compactada, mas o trânsito está fluindo”.
# “A princípio aparentemente não tivemos impacto no trânsito. Tem lentidões que para o horário são absolutamente normais”.
# “Freadas bruscas” e o “anda e para” diminuíram com os novos limites”.
# “A expectativa nossa é positiva, não vai haver impacto, se tiver ele vai ser momentâneo, depois ele vai ser absorvido, porque a cidade é muito dinâmica, ela rapidamente se acomoda e as marginais vão fluir melhor”.
# “Principalmente de madrugada, essa redução é uma boa. Tem muita batida e atropelamento”.
# “Quanto menor a velocidade, menos a energia cinética é envolvida. A redução dos limites tem relação direta com a queda de acidentados. São menos mortes e menos sequelados na cidade”.
13: algumas opiniões contrárias
#. ”Não é diminuindo o limite que vai haver menos acidentes”.
# “A velocidade hoje já é adequada para a quantidade de carros que tem na rua”.
# “Sem um fundamento técnico, a medida acaba ficando fragilizada. Acaba até podendo aumentar o número de acidentes porque as pessoas podem frear bruscamente nos pontos com radar”.
# “No trânsito, a diminuição de velocidade não fez muita diferença. Está igual ou mais engarrafado ainda”.
# “Sem dados sobre o volume do tráfego, a quantidade de carros percorrendo as vias, não é possível concluir que a redução das velocidades seja o único fator para se chegar nesse resultado”.
# “Do ano passado para cá, entramos em um período de resfriamento da atividade econômica, o que resulta em menos viagens e, como consequência, volume menor de veículos”.
14: outros dizem que com a redução no limite da velocidade…vai “aumentar a emissão de poluentes”,
…origina um crescimento de roubos, furtos, assaltos à mão armada e até dos chamados arrastões – por causa de automóveis parados na marginal por conta do trânsito,
…produz “caos maior no tráfego”,
…os ambulantes – pelos congestionamentos – expõem sua vida e a dos motoristas em risco.
Sobra para a sociedade esperar os estudos preliminares realizados a respeito do impacto da redução de velocidade nas vias, tanto em associação a acidentes de trânsito, quanto ao congestionamento de veículos nas referidas vias. (é crucial que os gestores públicos esclareçam a todos, os estudos que definem a velocidade máxima adequada nas referidas vias)
E enquanto esperamos, acredito que seja preciso “erotizar” a cidade, as praças e as vias como um local de desejo. (e ética!)
Abraços