O ciclista idoso
Mais um capítulo da série ” O Idoso no Trânsito”. Dessa vez, Seu Antônio, um ciclista idoso, conta sobre as vantagens de usar a bicicleta como meio de transporte. Leia o post de ACésarVeiga.
Adivinhem quem vi circulando lépido e faceiro pelo bairro unido a sua bicicleta?
– Sim, Seu Antônio.
Quando nos vimos imediatamente estacionou próximo a um banco da praça
pois parecia também sedento para tomar um fôlego do passeio – estava encharcado de suor.
Com orgulho mostrou sua bike novinha em folha que acabara de ganhar da filha mais jovem.
– “Presente de aniversário” – disse ele.
Nos abraçamos e iniciamos um bate papo informal – sobre a “bice” é claro.
Com postura orgulhosa salientou que sua “magrela” era destaque como meio de transporte por não ocasionar poluição e trazer incontáveis benefícios à saúde. Tagarelou que esse hábito novo de locomoção pelo bairro estava funcionando como um fermento incontrolável para bons hábitos.
Animado relatou que havia aposentado o automóvel e finalmente havia encontrado essa ótima opção para escapar do trânsito congestionado. (o que evita aquelas aventuras pesadas e arriscadas – alegremente deu ênfase)
“César, agora estou cheias de ideias e atitudes sustentáveis”.
E enumerou:
– “Em breve vou adquirir uma bicicleta na versão “modelos elétricos”.
– “Quando desejo tele-entregas só chamo serviços de bici-entregas”.
– “Já coloquei meus dois netos em escolas que ensinam a andar em cima desse meio de transporte impulsionado por pedais”.
Também comentou que a internet ciumenta já disponibiliza fotos e endereços eletrônicos informando onde melhor estacioná-las e diversas coisitas a mais.
Disse que um idoso jovem – colega em comum nosso – optou por usar o ônibus juntamente com a bicicleta como locomoção diária de forma alternada ou conjunta quando deseja visitar o filho que mora no bairro vizinho.
“As pessoas estão vestindo essa coqueluche sobre duas rodas, amigo César”. (feliz da vida complementou)
Mas não querendo esfriar os ânimos do Seu Antônio quis também contribuir com o tema e procurei inserir outros pontos de vista:
– “Antônio, gostaria de saber se as cidades estão preparadas para esta explosão de locomoção sobre pedais?”
E não desejando qualquer progresso mais rápido, através de atalhos imediatistas, fiz algumas indagações:
– “Teremos ciclovias estruturadas e suficientes para uma maior demanda?”
– “Existirão locais adequados para estacioná-las?”
– “Os ciclistas estarão preparados para utilizar as vias específicas e respeitar ao mesmo tempo as regras gerais do tráfego?”
– “E os equipamentos de proteção – tanto os pessoais como para a bike?” (são necessários e imprescindíveis e isto deveria existir como saber comum)
Reforcei que a atitude de assumir a bicicleta como meio de transporte é genial, mas existem pré-requisitos essenciais que creio ainda faltar. Por vezes a arrogância e falta de ética – tanto dos condutores de automóveis quanto dos ciclistas -, acaba afastando também os aliados.
Sou muito discreto em tecer opiniões; pois são opiniões. (não são verdades)
Mas assumo a posição de torcedor, desejando que a sociedade e o poder público encontrem um caminho melhor com um diagnóstico abrangente e coeso para que este seja coerente e praticável…
…e que haja uma trégua nesta furiosa competição urbana entre a bicicleta e o veículo.
(são meus sinceros desejos)
Antônio, escutou tudo de forma carinhosa e solidária com os braços cruzados para depois dizer:
– “Peço licença amigo César, pois estou atrasado para um encontro. Vou para um passeio ao pôr do sol. De bicicleta é óbvio!” – finalizou.
…deixando abraços a todos os amigos ciclistas ou não.
Abraços