Trânsito, fenômeno social e de saúde pública
Quando daremos atenção real e objetiva para solução do transporte e do trânsito nesse país? Quem faz a pergunta é o colunista Dr. Dirceu Rodrigues Alves. Leia o texto!
Ações coordenadas do governo precisam de maior legitimidade. Leis complementares, resoluções, parecem desarticular o conjunto de necessidades para solução do problema.
A necessidade de mobilidade do ser humano o leva a situações conflitantes. Busca por todos os meios o transporte individual porque é privado do transporte coletivo diante do volume de passageiros, do “empurra empurra” para acessar um ônibus, um trem, van ou qualquer outro meio.
Ir e vir são direitos assegurados pela constituição, mas com muitas limitações na prática. O transporte é hoje nas grandes metrópoles a dificuldade maior. Perdem-se horas seguidas para o embarque, para transitar e chegar a um destino.
A gestão, o planejamento e projetos estão distantes do objetivo da sociedade como um todo.
Vítimas desse trânsito louco crescem de maneira assustadora. O último levantamento estatístico mostrou existirem 40 mil óbitos e 160 mil incapacitados. Não foram computados os óbitos tardios.
Parece incrível, mas nem nas estatísticas temos dados reais e atualizados. É mostrado um panorama assustador, caracterizando um problema de saúde pública, são 124 óbitos por dia. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) estimou em 40 bilhões de reais os custos com os acidentes de trânsito no Brasil.
O governo estimula a compra de veículos retirando impostos. Legaliza uma atividade de altíssimo risco quando libera a profissão de mototaxista. Tramita no parlamento a ideia de permitir que aos 16 anos o jovem possa ser portador da Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
Não são criados espaços para o trânsito dos veículos emplacados a cada dia. Milhares de novas carteiras são emitidas diariamente. Qual a intenção do governo, piorar o caos já existente, popularidade, aumentar conflitos, mostrar crescimento econômico? Mas o custo de tudo isso, atualizado, já alcança cifras que daria para construir quarenta estádios do Corinthians ou um milhão de casas populares.
O governo transita na contramão do fenômeno social e da saúde pública.
A formação do motorista é precária, com ensinamentos elementares para fazer o veículo andar e estacionar. Nada é feito com relação a treinamento para os riscos em condições adversas como as condutas a serem tomadas com chuva, névoa, neblina, na área urbana, na rodovia, dia, noite e outras situações. Como frear com freios comuns e ABS, com piso seco e molhado. Desviar de um obstáculo em emergência. Manipular todos os acessórios do veículo em situação normal, emergência e tantos outros. A direção preventiva, defensiva, evasiva parecem não ter importância.
A avaliação psicológica, com tempo limitado, não permitindo um estudo aprofundado do perfil do futuro motorista. Liberam-se indivíduos pouco responsáveis, compulsivos, com distúrbios comportamentais e até portadores de doenças psiquiátricas. Não vemos direcionamento para uma qualificação mais adequada e o impedimento para acessar uma atividade de risco na direção veicular.
Todos aos 18 anos querem portar a carta de motorista. Esse é o passaporte para a liberdade mesmo que não tenha condição para aquisição de um veículo. É a necessidade de portando tal documento ter “status” junto a sua galera. É o momento de poder dar uma voltinha no veículo de um colega.
E mal formado, desinformado, sem conhecer riscos, sem o aprendizado de situações de emergência, quer experimentar as emoções da velocidade, das frenagens bruscas, do cantar pneus, de chamar a atenção com som em nível alto, de fazer “pega” e muitas outras condições.
As autoridades são responsáveis por essa anarquia e precisam de atitudes severas para tornar a nossa mobilidade segura. A participação da sociedade se faz necessária.