13 de dezembro de 2024

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13 de dezembro de 2024

Uma mobilidade urbana mais FEMININA (o que acham?)…


Por ACésarVeiga Publicado 12/05/2017 às 03h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h20
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Mobilidade urbanaFoto: Freeimages.com

Um colega, professor de História, na Universidade foi certa vez taxativo:

– Não venham com esta “fábula” de que as sociedades primitivas eram matriarcais. As mulheres poderiam até obter certo prestígio, mas o comando…nem pensar. (confesso que julgava que eram os homens que nesta época ocupavam papel secundário. Engano!)

Mas sei que nas civilizações antigas – Egito, Grécia… -, o status feminino alcançou uma “melhorada”, pois passaram a ter veneração por deusas, sacerdotisas, sábias, filósofas, matemáticas, guerreiras…

Na Roma antiga, por exemplo, com a família em destaque, a mulher adquiriu um “tantinho mais” de valor hierárquico social – mesmo tendo de obedecer ao marido -, já que passou a ser vista como alicerce fundamental neste contexto, e o seu trabalho doméstico como uma virtude.

E sem demora, na Idade Média, conquistou acesso a grande parte das profissões, assim como o direito à propriedade. (podiam ser chefes de família – quando viúvas -, estudar nas universidades, fundar mosteiros e conventos, escrever peças de teatro, tornar-se rainha, poetisa, guerreiras e até jurista)

Bem, e quando chegaremos ao nosso Brasil?

– Agora, seu intolerante – risos.

Não era nada fácil ser mulher no século XVI – de 1501 a 1600 -, no país. Tiveram que enfrentar os preconceitos e os tabus trazidos pelos colonizadores portugueses, ignorantes dos nossos hábitos.

As que aqui viviam praticamente não conheciam o “casamento” como se entendia na Europa. (prevalecia o convívio com os homens no “concubinato” – união livre e estável sem legalidade jurídica)

Então houve a imposição dos padrões de conduta português através da Igreja e do Estado, que passaram a remodelar o papel da mulher na referida sociedade, tentando convencer a população das vantagens do casamento. (um recurso bem prático foram as altas multas que o Estado cobrava pelos “concubinatos”, em contraposição ao baixo preço dos casamentos celebrados pela Igreja)

OBS 01: até o século XVIII – de 1701 até 1800 -, era difícil achar alguém que se casasse sem antes ter tido relações sexuais. (naquela época ter filhos era muito importante. A mulher precisava provar ao homem que era fértil, engravidando antes do compromisso. Uma regra consentida por toda a comunidade — inclusive pela Igreja, desde que tudo terminasse em casamento)

OBS 02: vem daí, a expressão “vá se queixar ao bispo”. Quando o noivo fugia, deixando a donzela grávida ou já com filhos, esta ia reclamar ao “bispo”, que então mandava alguém atrás do “salafrário”. (o casamento era obrigatório mesmo se a mulher não tivesse filhos nesta tentativa pré-nupcial)

Aos apaixonadamente curiosos, repasso algumas preciosidades do assunto na época:

# a falta de filhos era problema exclusivo da mulher. (alguma estranheza?!)

# as relações sexuais excluíam o prazer e somente serviam para a “salvação” da alma. (o motivo desta redenção? Por trazer crianças ao mundo)

# certas posições sexuais – excluindo o tradicional e famoso papai e mamãe -, davam origem a crianças aleijadas. (gostaria de conceber como foram feitas as estatísticas para estas confirmações)

# o amor era um sentimento que se devotava exclusivamente a Deus. Ao marido, a mulher devia mera obediência, reverência e temor. O marido, por sua vez, deveria sentir apenas piedade da esposa. (uma tática religiosa utilizada era deixar as pessoas amarguradas e fazê-las se sentir culpadas)

# para a mulher a sociedade dividia-se em dois grandes grupos:

– ou pertencia ao tipo “santa mãezinha” ou aquele que “oferecia serviços pouco recomendáveis moralmente em troca de dinheiro”.(Viverá este arquétipo ainda na sociedade moderna?)

# nada de decotes ou panos transparentes sobre os seios. Nada de mostrar os dedos do pé – considerado muito erótico -, nada de perfume ou maquilagem.

Era vaidade condenável tanto sorrir demais e mostrar dentes bonitos, como sorrir de menos para não mostrar dentes ruins. Ficar à janela da moradia era coisa de “mulher melancólica”. (o que restava? Não fazer nada, não dizer nada e não ser nada)

# os castigos recomendados para os “desejos mais ardentes” iam de banhos frios à ingestão de ácidos, ou qualquer outra coisa que, no entender da Igreja, pudesse acalmar o “entusiasmo”. (em casos mais graves, permitia-se até a execução de “tocadelas” íntimas para evitar o pior: que a celibatária buscasse sexo fora do casamento)

E dito tudo isso, seria errado deduzir que esses diversos modos de vida tenham sido obrigados sem que a mulher resistisse como podia. Na verdade, entrincheirou-se no próprio lar — no qual, em decorrência desta realidade, estava de certo feitio presa.

Mas aí, foi adquirindo conhecimentos muito específicos: sobre doenças, erva curativas, parto, aborto e, enfim, sobre o seu próprio corpo. (não admira que isso lhe tenha consagrado, muitas vezes, a qualificação de “macumbeira” ou “bruxa”, pois esses conhecimentos contrariavam aos dos médicos, em particular, e aos dos homens, em geral. Mesmo porque, algumas das assim chamadas “mandingas” eram poções para conquistar os homens, fossem amantes desejados, ou maridos pouco fiéis)

OBS 03: Além disso, relatos criativos conferiam poder a mulheres capazes de fabricar poções mágicas, invocar orações secretas, rogar pragas ou determinar a cura de doentes.

OBS 04: tornavam-se mais atemorizantes porque se falava que utilizavam os mais terríveis ingredientes como cabelos, suores, sangue, líquidos íntimos e assim por diante.

A disputa com os médicos era menos direta, talvez, mas nem por isso menos intensa. (neste momento a popular figura da “parteira” fortaleceu-se)

No ambiente doméstico, nesta época, também a influência feminina poder ser vista no tratamento com a criadagem ou, até mesmo, na negociação de direitos e tarefas a serem delegadas ou permitidas pelo marido.

OBS 05: o lugar da mulher no ambiente do Brasil colonial foi mais diverso do que possamos pensar. (principiam na capacidade de fazer coisas novas e não simplesmente o que as suas outras gerações fizeram)

Ainda no século XVIII sabe-se que o número de mulheres envolvidas no comércio era bastante significativo. (em meados desse século, 75% do comércio da cidade de Vila Rica/MG era administrado por mulheres)

Mas também houve casos de mulheres que rompiam com a relação matrimonial e buscavam uma vida autônoma. (mas pagavam com a exclusão e à miséria social)

Então depois, mesmo com o Código Civil de 1916, a mulher ainda continuou a ocupar um papel de subordinação e opressão, assumindo contra gosto o papel de mero objeto. (quando solteira, era posse do seu pai e ao casar passava a ser propriedade do marido)

Mas com a promulgação da Constituição Federal de 1988, muitas conquistas foram formalizadas em texto de lei. (entretanto, tais leis não são efetivamente aplicadas e necessitam do reconhecimento imediato de seus direitos. Em resumo, pelo que parece, essa luta apenas começou e muito precisa e deve ser feito)

Pelo menos em determinada parte desta história, o tiro efetivamente saiu pela culatra, ferindo – lástima que não mortalmente -, os autoritários.

O “lar” transformou-se em território dominado pela mulher e da mesma forma o seu quartel-general, de onde “ela” saiu três séculos depois – século XXI –, para assumir novos espaços na sociedade. (ser inteligente é ser criativo)

Atualmente com a libertação feminina, este novo modelo de sociedade oferta as mulheres a oportunidade de galgarem melhores salários, poder e satisfação pessoal dentro do mercado de trabalho. (melhoras profissionais que foram “sempre” exclusividades masculinas)

Dizem alguns que esta tendência bem sucedida da mão de obra feminina não reside no fator competência superior da mulher, mas sim de que as mulheres estão muito mais motivadas para o trabalho do que os homens. (resumindo, na guerra entre os sexos é a garra feminina que está prevalecendo)

OBS 06: mas está existindo um empecilho…certas mulheres, mesmo atingindo o topo profissional permanecem com uma sensação de “vazio pessoal”. Muitas questionam as reuniões, negociações, mudanças de cenário de mercado, exigências cada vez maiores do sistema, competição etc.

Todo este estresse estará valendo a pena? (muitas questionam que abdicam o tempo para a família)

A forma como a mulher enfrenta o trabalho é diferente do homem e embora não desfrute certas competências masculinas, possui uma série de outras competências que podem ser tão ou mais importantes para o mercado. (agora não me pergunte quais seriam estes talentos, pois desconheço. Você está informado?) 

Mas e na Mobilidade Urbana, como estarão sendo tratadas nossas amigas?

Alguns da área de arquitetura e planejamento urbano afirmam, que a mobilidade e a acessibilidade atingem as mulheres de maneira mais intensa do que aos homens. (a sociedade precisa tratar as “feridas” motivadas por essas diferenças)

Agora quero estimular a sua consciência com exemplos:

 …todos devem saber que o “ir e vir do trabalho” é algo terrível.

Nesse caso imagine ter de além deste deslocamento, ir ao supermercado, levar os filhos à escola, ao médico, entre outras tarefas ligadas ao cuidado da família.

Mas existem outras informações interessantes que podem abastecê-los de mais percepção:

 – as mulheres fazem mais viagens urbanas do que os homens. (possivelmente para dar conta, tanto do trabalho formal, quanto dos afazeres domésticos)

– elas andam mais a pé e utilizam mais o transporte coletivo do que os homens.

– a proporção de mulheres que utilizam o carro é menor.

– é fato de que o trânsito urbano é perverso para quem tem mobilidade reduzida. Como exemplo sabemos dos idosos e cegos. (e as gestantes e mães que carregam filhos pequenos?)

– o descaso com o transporte das mulheres que moram na periferia das grandes cidades é gigantesco. (ser acompanhada pela tristeza é a melhor preparação para a vida triste)

– o assédio no transporte público ou em um simples trajeto a pé não é incomum para as mulheres nos dia de agora. (estamos repletos de “ruas desertas e sem iluminação adequada”, o que obriga a mudança de trajeto ou maior gasto com transporte para evitar situações favoráveis a assaltos e estupros)

Mas o que fazer?!

– As propostas são diversas e algumas até ingênuas, pois focalizam nos paliativos e descuidam do nascedouro do problema.

Podemos enumerar algumas destas sugestões:

…uma melhor iluminação pública, horários estendidos para os atendimentos em lugares considerados de travessia perigosa, aplicativos que mapeiam os locais onde há incidência de assaltos e assédio, calçadas mais largas, campanhas na mídia dos problemas enfrentados pelas mulheres…

Mas as discussões esbarram em impasses:

– um deles é a escassez de mulheres atuando nos governos e na gestão do planejamento urbano. (sem elas, as políticas públicas podem continuar sendo pensadas pela perspectiva masculina)

– a outra, é a disponibilidade de “recursos” para efetivar estas propostas. (o individualismo político e a corrupção são os principais agentes ocasionadores da “falta” do dinheiro)

Somos a espécie mais inteligente do Planeta, mas continuamos ignorando certas situações. Temos sido negligentes e mesmo assim nos consideramos seres sociais.

Viramos uma espécie individualista que contamina os outros com determinados preconceitos e não percebemos que a sociedade está faminta de “entendimento” e “coletividade”.

Se nos foi dada a capacidade de falar, pensar, criar, construir e ajudar, por que estamos calados diante do problema da mulher na sociedade?

Conseguimos feitos e conquistas fantásticas, mas não somos capazes de conquistar nossa própria conscientização.

Vivemos nesta sociedade que está equivocada em relação à questão das mulheres e inevitavelmente tombamos. Então é chegada a hora de levantar e corrigir este erro. (será que não sabemos o que deve ser feito?)

Desejo que a indiferença não vença a nós homens!

Venho de uma época de imposições políticas…mas posso afirmar que estávamos mais vivos do que estamos agora.

A falta dos princípios básicos de convivência disseminou-se tanto que tornou-se invisível e transparente.

A sociedade está triste e sem rumo…(ou sou somente “eu” que estou sentindo isso?)

Ouvi certo dia alguém dizer que educar um homem é educar um indivíduo, e que educar uma mulher seria educar uma sociedade. (isso foi escrito, pois necessito de inimigos recentes. Os antigos estão começando a gostar de mim – risos)

 Abraço

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