05 de dezembro de 2025

20 anos sem Ayrton Senna: um legado


Por Gisele Flores Publicado 05/05/2014 às 03h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h37
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Ayrton Senna e a segurança no trânsito

Neste 1º de maio, além do Dia do Trabalho, foram várias as homenagens, praticamente pelo mundo todo, pela passagem de 20 anos da morte de Ayrton Senna, o herói do Brasil.

Do muito que já foi dito sobre sua trajetória nesta vida, no esporte e no que este homem representou para o povo brasileiro, vale lembrar que, considerando nossa ênfase na segurança no trânsito, certa vez numa entrevista Ayrton declarou: “Todo piloto anda no seu limite e não é por que o meu limite é um pouco superior que eu sou imortal”.

Ayrton era um profissional da velocidade, o risco era sempre real e inerente à atividade que ele escolhera para se realizar como indivíduo produtivo e de destaque, mas, até mesmo por isso, ele levava muito a sério o exercício de sua profissão. Era uma das principais vozes a criticar os potenciais perigos à vida dele e de seus colegas pilotos.

Na fatídica prova de Ímola, após o grave acidente que envolveu Rubens Barrichelo e a morte de Ratzenberger, na noite de véspera da corrida, Ayrton teria declarado que não sabia se correria na manhã seguinte. Reginaldo Leme, em seu comentário em rede nacional na noite de 30 de abril, chegou a afirmar que tinha cem por cento de certeza que o nosso piloto não correria em sinal de protesto.

O respeito pelas suas palavras não advinha apenas de sua já alcançada notoriedade. Como ativista pela segurança, o comportamento de Ayrton era totalmente compatível com suas atitudes e seu desempenho. Segundo seu personal trainner, ele dormia de 8 a 10 horas por dia, mantinha seu condicionamento físico sempre “em dia”, mesmo em períodos de descanso, e nunca tomava bebidas alcoólicas. Tecnicamente, estudava muito a estratégia que adotaria em cada prova, o circuito, o seu carro, os adversários e repetia exaustivamente o quê deveria fazer durante uma corrida, enfim se preparava e treinava, treinava e treinava.

Mesmo com todo esse preparo físico e técnico, mas tenso com a pressão que sofria em decorrência dos maus resultados em duas corridas anteriores, visto que sua Willians não era estável como a Benneton do então jovem e promissor Michael Schumacher, e visivelmente abalado pelos acidentes acontecidos, surpreendentemente, Ayrton foi para a pista para superar as desvantagens com as quais lutava, para tentar superar a si próprio, mas acabou aniquilado pelo seu carro.

Então, se um atleta de altíssimo desempenho como Ayrton Senna não negligenciava aspectos físicos, técnicos e psicológicos antes de colocar a sua vida em risco, como podemos imaginar condutores debilitados ou doentes, mal preparados, transtornados e, em muitos casos, sob os efeitos de bebidas alcoólicas ou de substâncias que afetam a consciência?

Frequentamos inúmeros eventos motociclísticos e, como já afirmamos reiteradamente, trajar roupas e equipamentos caros e estar sobre potentes motos de luxo não tornam ninguém um “Valentino Rossi” ou um “ás das estradas”.

Quando vemos conhecidos beber o que flagrantemente não seriam doses recomendáveis e acelerar imprudentemente até velocidades não permitidas e incompatíveis com a segurança, infelizmente, lamentamos muito, oramos por proteção, mas, não raramente, enfrentamos a tristeza de receber más notícias, comumente relatando fatalidades, e nos sobrecarregamos com a incumbência que assumimos de, apesar de tudo isso, procurar difundir uma boa imagem do motociclismo perante a sociedade, notadamente atenta para casos de sinistros que venham corroborar a discriminação contra os motociclistas de forma generalizada.

Enfim, se mesmo para um homem dotado de um dom acima do comum como foi Ayrton Senna, para o qual segurança em todos os aspectos e alto desempenho sempre “corriam” lado a lado numa disputa sem favoritismos, por que, entre tantos legados que este “super homem” nos deixou, tantos motociclistas negligenciam a inegável fragilidade da vida e a dor que seus entes queridos podem vir a sofrer com atos que proporcionam apenas sensações efêmeras, se tudo der certo, e uma grande probabilidade de perda eterna, se qualquer coisa der errada?

O mês de maio está iniciando, sendo reconhecido como o “Mês das Mães”, símbolo maior da natalidade, da vida, então, se for pra correr em desvairadamente, que seja em defesa da vida.

Gisele Flores

Gisele Flores é comunicadora de vários veículos de comunicação e incansável ativista por um trânsito mais seguro.Formada em Comunicação Social pela PUC-RS com especialização em Gestão Pública pela UFRGS e Direção Geral de CFCs pela Faculdade IDC, já foi a única mulher a competir em campeonatos oficiais de motovelocidade no Brasil, entre os anos de 2007 e 2009.Atualmente mantém várias atividades, dentre estas o ISM - Instituto Sobre Motos, uma OSCIP devidamente registrada no Ministério da Justiça, atuante na pesquisa e ensino para a segurança no trânsito e mobilidade viária e uma escola de pilotagem segura e defensiva para empresas e motociclistas. É pilota de testes de novos produtos para fabricantes e já foi jurada para avaliação de trabalhos sobre segurança no trânsito para a Abraciclo e Sincodive-Fenabrave de Santa Catarina.Já foi idealizadora de vários projetos para uma maior conscientização e melhor educação no trânsito. Em 2011 foi nomeada Delegada, com direito a voto, nas deliberações do Conselho de Segurança para o Trânsito do Rio Grande do Sul. Frequentemente é convidada para entrevistas, como participante de mesas de debate, fóruns e paineis e palestrante como especialista no assunto motos.Por sua destacada atuação de responsabilidade social já recebeu as distinções de “Honra ao Mérito” da ABRAM (Assoc. Brasileira dos Motociclistas) em 2008 , da AMO-RJ (Assoc. dos Motociclistas do Rio de Janeiro) em 2010 e, desde este ano até hoje, recebe anualmente da AMO-RS (Assoc. dos Motociclistas do Rio Grande do Sul).

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