Seu Antônio viajou com um paraquedista dentro do ônibus (você acredita?)
Em mais um capítulo da série ” O Idoso na Mobilidade Urbana”, Seu Antônio conta seus desafios ao enfrentar um ônibus lotado. Leia o post de ACésarVeiga.
Existem dois momentos arrepiantes para depender do ônibus no bairro que Seu Antônio mora: um é na hora do almoço e o outro é no fim de tarde. (e tal acontecimento não depende de ponto de vista; é real em qualquer óptica).
Ainda não compreendo se a permissão para colocar este número exagerado de passageiros no mesmo ônibus depende do livre arbítrio do condutor do coletivo ou é algo que vem de cima?
(e não estou mencionando o “céu”).
Mas o entendimento integral é que as regras de aritmética – aquelas que aprendemos na escola -, se aplicadas nos coletivos…
…bem, elas não correm risco de cometermos qualquer tipo de engano. (“contamos mais passageiros do que o limite permitido por lei” – segundo Seu Antônio)
É similar ao andar diário sobre navalha, em virtude que o problema na superlotação nos ônibus urbanos é muito presente nos dias de hoje. (mas será que sempre foi assim?)
Se não ocorria, os gestores públicos responsáveis por soluções, deveriam encarnar aqueles do século passado. (mas sem enfatizar as metodologias e a organização que ainda fornicam com o século 19 – época que os ônibus já existiam no Brasil)
Mas Seu Antônio já sabe:
– “Aqui ou você pega o ônibus lotado ou não chegará tão cedo ao seu destino. E não acho que você queira ficar ali na parada do coletivo buscando aquele evento poético, pois nestes horários o que menos encontramos é “poesia”. (resta desse modo aceitar sem maiores problemas de consciência, pois o calvário não depende de você)
Bem, depois da espera…
… “ufa” enfim chegou seu ônibus…(Seu Antônio adverte: “fique atento, pois os furões de fila estão por toda a parte”)
Nos diz que naquele nicho provisório uma pequena quantidade de generosidade por vezes até faz moradia, mas na imensidão deste ritual o que vale mesmo é a regra popular:
– “Cada um por si e Deus por ninguém!”
Mas a prudência requer que você relaxe, pois após algumas mexidas, sacudidas, esmagar de pés e roçar sutis de corpos, chega-se à roleta. (neste espaço urbano desgraçadamente, por assim dizer, a demora – para alguns -, naquele corredor lotado tem um apetite delirante)
Mas nosso amigão Antônio arrisca contribuir com advertência:
– “Nesta situação o melhor é transformar o problema logístico em uma vantagem conservacionista.”
Sua sugestão é usar a paciência e “sorrir gentilmente” aos demais mal-educados e/ou sem educação.
E continua sua proposta:
– “Recuse experimentar a dita tarefa de sorrir – se de forma espontânea e sincera ela não tenha brotado lá do fundo do seu coraçãozinho. (na prática, o conselho é que você derrame um singelo “sorriso tibetano” aos demais viajantes, caso contrário aborte esse procedimento)
Nessa situação, a principal virtude é ir desviando entre as filas de passageiros que estão abarrotando o corredor, sem arrumar alguma hostilidade – entendeu? (“bem, depois não diga que não avisei” – disse Seu Antônio)
E prosseguiu:
– Encolha seu pneuzinho – domiciliado na barriga -, e sorrindo “amarelado”, vá se infiltrando…
…se infiltrando e se infiltrando. (como “tatuíra” na areia)
OBS1: “tatuíra” é uma espécie de crustáceo que habita praias arenosas e que faz escavações na areia.
Mas não se esqueça…
…se possível seja a “tatuíra” sorridente. E no decurso da “via crucis” se você encontrar estudantes com aquelas mochilas enormes e cheias – parecendo paraquedas -, não se estresse, pois você é do bem e está apreciando tudo isso numa boa. (sei que pode ser difícil e áspero nas primeiras tentativas, mas depois você vai pegando a prática)
E quando notar que seu ponto de descida está próximo, o conselho é ficar perto da campainha – disse Seu Antônio com aspecto temeroso:
– “É nesse instante que você aperta o botão ou puxa a cordinha.”
Suave ou intensamente? (perguntei)
– “Tudo dependerá do seu grau de paranoia, mas como este é o único momento somente seu; desfrute-o.” – culminou.
E assim você chegará ao seu destino!
A porta vai abrir e você será expelido como uma linda “meleca” – aquela mesma, similar ao do furúnculo maduro e gorducho. (aliviado e sorrindo falou!)
E olhando firmemente nos meus olhos complementou:
– “E aí estará você, com saúde, possivelmente inteiro e pronto para outra empreitada destas.
Viu… Não arrancou pedaços!” (Uuuuaaaahh! Foi o grito que Seu Antônio deixou escapar)
Particularmente Seu Antônio deixou o desejo que na próxima vez, quando você sinalizar na parada de ônibus, que o motorista de maneira rápida e gentil “recolha” você novamente
naquele “bat horário” e naquela “bat parada”.