Artigo – País do futuro
J. Pedro Corrêa faz um balanço positivo do ano de 2022 no trânsito e fala das perspectivas e das dúvidas relativas a 2023.
O ano de 2022 acaba com um jeitinho diferente daquele que começou. Fui reler minha primeira crônica deste ano, de 6 de janeiro, e senti um cheirinho tipo mais do mesmo, isto é, prometia um ano melhor, mas não oferecia razões sólidas para se acreditar. Era aquela história: fazer tudo do mesmo jeito, esperando resultados diferentes.
Desta vez temos boas razões para acreditar num 2023 melhor, mas ainda pairam grandes dúvidas para acreditar que “desta vez, vamos!” e o Brasil será o país do futuro. Agora temos o Pnatrans, um plano bem concebido, bem apoiado por atores importantes, mas também temos uma incerteza enorme pois não sabemos que lugar terá o trânsito neste terceiro governo Lula.
Creio que o ano de 2022 não será um ano para comemorar com grandes foguetórios, mas tampouco deve ser esquecido.
Julgo que este ano, a segurança no trânsito, mesmo sofrendo alguns revezes, principalmente por parte do governo federal, mostrou capacidade de resiliência e fez avanços em algumas áreas.
Para mim, a chegada para valer dos conceitos do Visão Zero ao Brasil ganharam mais fôlego com a
realização dos cursos de capacitação oferecidos, via Senatran, desde a Suécia pela Vision Zero Academy, do governo sueco. Isto tem um benefício enorme pois dissemina conhecimentos entre os participantes brasileiros que, por sua vez, irão divulgá-los junto a outros grupos de interessados pelo país afora. Sem dúvida, esta foi uma das melhores notícias do ano.
De grande relevância também foram os trabalhos para colocar em pé o Pnatrans, cujo plano foi montado pela Senatran com a ajuda de centenas de voluntários do trânsito de todo o país.
Além dos trabalhos estruturais do plano, a ação de maior peso foi a formalização dos acordos operacionais entre a Senatran e as instituições estaduais que se comprometeram com as operações nas 27 unidades da Federação. Um trabalho de fôlego, mas que ainda continua incompleto pois falta a parte essencial: ver, nos municípios e nos estados, tudo que foi preconizado no Pnatrans. Sair do plano para a prática. Para isto, estados e municípios necessitam recursos financeiros que, por enquanto, não se sabe de onde virão.
Enquanto isto no âmbito das cidades pode-se dizer que houve progressos que possivelmente se espalharão por outros municípios do país.
Grandes cidades que já contavam com consultoria internacional, da Bloomberg, WRI Brasil, etc., continuaram suas marchas levando adiante seus planos de ação.
Cidades como Recife, Salvador, Campinas, São Paulo, Fortaleza (agora sozinha) puseram grande ênfase no combate à velocidade, um dos maiores vilões da violência do trânsito brasileiro.
Outra ação importante foi tentar conter os sinistros e mortes de motociclistas, hoje a categoria com mais fatalidades no país. Um dos benefícios adicionais destes programas é que geralmente promovem reações em cidades vizinhas que optam por copiar suas ações. Um dado importante que merece ser comemorado: Fortaleza consegue reduzir o número de fatalidades na cidade pelo 8º ano seguido, o que é um feito e tanto.
Também merece registro o comportamento da mídia na cobertura das atividades da segurança no trânsito durante 2022.
Durante a pandemia, cresceu bastante o número de veículos – tanto da imprensa quanto da mídia social – que passaram a dar especial atenção ao trânsito. O número de interessados que se dedicaram a cobrir o trânsito brasileiro é expressivo, o que significa que suas mensagens estão chegando a outros segmentos da sociedade que até então desconheciam a problemática do trânsito.
Na minha visão, estes e outros fatores justificam um entusiasmo moderado e fortalecem a crença num crescimento nos próximos anos. É preciso, contudo, reconhecer que continuamos tendo problemas estruturais complexos e de difícil solução que impedem comemoração maior. O trânsito continua não tendo a prioridade necessária pelo governo; nossas lideranças ainda não entenderam o papel importante que ele pode desempenhar no crescimento das cidades e do país e a própria sociedade ainda precisa de mais informações para fazer pressão por um trânsito melhor.
Países desenvolvidos chegaram a melhores resultados no combate à violência no trânsito ao longo de várias décadas, muitos esforços e investimentos pesados. Aqui, ainda não fizemos os esforços necessários e muito menos os investimentos que o trânsito requer. Assim, temos de prosseguir a jornada, na esperança e na certeza de que os resultados virão. A velocidade e a intensidade dos benefícios dependerão do que fizermos por merecer.
Brasil: país do futuro?
Desde que era pequeno ouço falar do Brasil como país do futuro. Me pergunto se este futuro já chegou e é este que está aí ou tem um outro, melhor, que um dia ainda chegará? Torço para que este outro, ainda mais promissor, esteja a caminho, mas tenho consciência de que ele só virá se fizermos o nosso dever de casa. Oxalá consigamos apressar o passo em 2023 para darmos um salto mais significativo na busca do resultado que tanto esperamos.
O colunista deve voltar no final de janeiro. Bom ano novo a todos!
* J. Pedro Corrêa é consultor em programas de segurança no trânsito.