22 de junho de 2025

Sinistros com trens: quando a sinalização falha, o risco aumenta

Cruzamentos entre trilhos e vias públicas representam um ponto crítico de conflito no trânsito.


Por Mariana Czerwonka Publicado 15/05/2025 às 08h15
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Exemplo de cruzamento de via urbana com linha férrea em Curitiba. Foto: Levy Ferreira/SMCS

Um grave sinistro envolvendo um trem, um caminhão, uma motocicleta e dois carros na Região Metropolitana de Curitiba, na última quinta-feira (8), reacendeu o alerta sobre os riscos dos cruzamentos entre linhas férreas e vias urbanas. O caso, que resultou na morte de um motociclista, poderia ter sido evitado — e infelizmente, está longe de ser uma exceção.

Cruzamentos entre trilhos e vias públicas representam um ponto crítico de conflito no trânsito. A cena que se repete em diversas regiões do Brasil inclui sinalizações insuficientes, sincronia falha entre semáforos e alertas de trem, e o fator humano, muitas vezes pressionado por decisões rápidas e, nem sempre, seguras.

Conforme Celso Mariano, especialista e diretor do Portal do Trânsito, deslocar o tráfego ferroviário de carga para circuitos perimetrais seria o ideal, mas a realidade é que isso exige investimentos altos e tempo. Enquanto essa reestruturação não acontece, ele alerta: é urgente melhorar ao máximo os recursos que já existem, como sinalizações, semáforos e sistemas de alerta.

“Se não há sincronia entre o semáforo de veículos e o sinal de trem, e ainda há problemas no funcionamento das luzes de alerta, estamos induzindo o condutor ao erro”, ressalta.

Infraestrutura deficiente e sinais conflitantes

No caso ocorrido em Pinhais, há indícios de que as luzes vermelhas que deveriam alertar para a presença do trem não estavam funcionando corretamente. Além disso, a posição da sinalização e o desenho da via — com uma curva de 90 graus antes do cruzamento com a linha férrea — criam um cenário confuso, especialmente para motoristas que não conhecem a região.

A análise do especialista aponta para um ponto sensível: há locais onde os motoristas podem parar obedecendo ao semáforo, sem sequer avistar a sinalização da linha férrea, ficando assim expostos ao risco de sinistros com trens. “É o tipo de situação onde, mesmo sem intenção, a estrutura da via empurra o usuário para o erro. E o resultado, como vimos, pode ser fatal”, afirma Celso.

Comportamento de risco e efeito manada

Outro fator comum em sinistros envolvendo trens é o comportamento dos condutores. A pressa, a distração e o chamado “efeito manada” — quando um motorista segue outro acreditando que a travessia é segura — são atitudes recorrentes. Em muitos casos, a presença de um caminhão ou ônibus iniciando a travessia serve como “sinal verde” para outros veículos, mesmo quando os sinais indicam o contrário.

Além disso, há o agravante da familiaridade com o trajeto: condutores que passam diariamente por cruzamentos ferroviários podem se tornar menos atentos aos sinais, confiando apenas na rotina. Por outro lado, quem passa pela primeira vez pode ser surpreendido por uma sinalização pouco visível ou mal posicionada.

Dados e desafios nacionais sobre sinistros com trens

De acordo com dados da ANTT e de concessionárias ferroviárias, cerca de 80% dos acidentes em passagens de nível ocorrem por falha humana, mas grande parte desses incidentes está associada à ausência ou à má qualidade da sinalização. Em muitos casos, nem mesmo há cancelas automáticas, e o alerta se limita a placas fixas ou focos piscantes — que, como no acidente de Pinhais, podem falhar.

A reestruturação do sistema ferroviário urbano e a implantação de tecnologias mais eficientes de alerta são soluções a longo prazo. No curto prazo, é fundamental revisar os pontos críticos, integrar os sistemas de semáforos e investir em campanhas educativas voltadas à prevenção em passagens de nível.

Caminho possível

Enquanto o país busca soluções estruturais para tornar o trânsito mais seguro, medidas imediatas podem fazer a diferença. Melhorar a sinalização existente, ampliar a manutenção dos sistemas de alerta e, principalmente, rever os cruzamentos com desenho viário confuso são passos fundamentais para evitar novas tragédias.

Como lembra Celso Mariano, “se já sabemos que o local é perigoso, não basta esperar a próxima vítima. É preciso agir com o que já está ao nosso alcance”.

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