Instrutor motivado = aluno motivado?
Como motivar uma geração de alunos que está conectada o tempo todo, geração que já nasceu vivenciando a tecnologia em todo o mundo, obtendo informações de maneira muito rápida, com acesso a todo tipo de conteúdo, e que obtém respostas de vários níveis antes mesmo de chegar ao CFC?
Não há uma única resposta. Pode-se partir do princípio que é necessário conhecê-los bem para poder dar o melhor a eles, e ter certeza de que irão entender a mensagem e buscar informações. É preciso entender a importância de despertar neles a vontade de questionar, querer saber, querer aprender e, aceitar isso. Eles precisam acreditar que são capazes.
Hoje já não é o bastante ter domínio do conteúdo. Por muito tempo acreditou-se que para ser um bom Instrutor bastava apenas ter conhecimento na sua área de atuação. E, por se tratar de um ensino de jovens e adultos, não seria necessário que esse processo fosse realizado de forma contextualizada e didática.
É preciso se enquadrar à realidade que se apresenta, ter envolvimento e comprometimento com a aprendizagem dos alunos, entender que, ainda que muito deles não demonstrem o respeito e dedicação que deveriam, há outros que tem interesse e acabam sendo prejudicados pela desistência e acomodação.
Muitos alunos vão ao CFC sem a menor noção do que os espera, a maior preocupação não é a formação e sim o “produto final”: ter a sua CNH em mãos, é um rito de passagem, é a última fronteira a ser ultrapassada para ser considerado um adulto. Esse é o pensamento da grande maioria do público atendido pelos CFCs. Algumas exceções, claro. Um fator muito importante a se considerar na preparação das aulas: em nenhum outro local que se dedica à educação, à formação, tem público tão heterogêneo.
Independente da faixa etária, todos chegam com muita expectativa ao CFC, e muitos se frustram: seja porque imaginam que poderiam de alguma forma realizar seu grande sonho mais rapidamente, seja porque acreditam que já sabem tudo o que está sendo apresentado. O início é um marco e dará o tom de como será o curso: se os alunos, ainda que decepcionados (ainda bem que nem todos) forem motivados adequadamente, deixarão de lado todas as suas suposições e, com certeza, poderão aproveitar muito o curso.
A responsabilidade do Instrutor vai muito além de ensinar, de apresentar o conteúdo. Certamente é o foco principal, mas buscar ferramentas para produzir a vontade de saber, a preocupação com o aprendizado e buscar soluções para reverter o quadro de uma possível não aprendizagem é o que o diferencia dos que não se importam.
O Instrutor é o responsável pela mudança de um aluno, ele que tem o poder de tornar essa mudança positiva.
E ao Instrutor ainda pesa a carga de que o aluno é um cliente e, com certeza, uma reprovação onera o processo para obtenção da CNH. Muitas vezes, é nesse momento que a concorrência apresenta atrativos que, no início do processo não eram tão interessantes, mas diante de uma reprovação, podem interessar, não para o aluno que já está cursando, mas a propaganda negativa em futuras indicações.
Algumas estratégias de aprendizagem podem ser utilizadas para melhorar a organização do conhecimento de jovens e adultos:
Aulas expositivas dialogadas têm um grande valor
Ao contrário das aulas simplesmente expositivas, em que os alunos ficam passivos, as aulas expositivas dialogadas são, estrategicamente, mais eficientes para o aprendizado dos alunos, pois permitem que interajam com o Instrutor e com os seus colegas de curso, contextualizando e construindo o conhecimento de uma forma coletiva. Com esta estratégia é possível estimular os alunos e articular com eles o processo de construção do conhecimento. O ponto forte dessa estratégia é o diálogo que se estabelece e a participação ativa de todos no decorrer das aulas com a construção da aprendizagem.
Aulas práticas (não aulas práticas de direção) são excelentes para a aprendizagem
Pela prática, o Instrutor consegue aproximar o conteúdo da vivência dos alunos e fazer com que visualizem em seu dia a dia aquilo que está sendo estudado. Além disso, com as práticas os alunos se deparam com resultados e são desafiados a questioná-los, o que instiga sua imaginação e raciocínio. Embora aulas práticas sejam consideradas uma boa estratégia para a efetivação da aprendizagem, elas necessitam estar diretamente relacionadas com os conteúdos que estão sendo trabalhados, para que assim possam auxiliar no melhor entendimento da parte teórica e tenham um resultado eficaz.
Discussão em grupo
Proporciona a participação de todos os alunos no processo de resolução de dúvidas e questionamentos, o que torna a busca pelas respostas um processo de aprendizagem mais interessante. Tem o potencial de promover uma aprendizagem mais ativa por meio do estímulo ao pensamento crítico, ao desenvolvimento da capacidade de interação, negociação de informações e resolução de problemas, o que está diretamente ligado ao seu futuro como condutor. Durante as discussões o aluno é direcionado a dar a sua opinião a respeito do assunto, concordando ou não com os demais, fazendo com que, assim, sejam expostos conceitos e concepções diferenciados que juntos constroem e organizam o tema discutido. A partir dessa estratégia, o conhecimento é construído de forma coletiva e a ele são incorporadas ideias e novos conceitos.
Mapa conceitual
É uma estratégia de ensino que há pouco tempo começou a ser utilizada e tem cada vez mais espaço entre os recursos utilizados na educação. O uso de mapas conceituais instiga o aluno a refletir, pesquisar, selecionar e elaborar o conhecimento de uma forma diferenciada e significativa. São dinâmicos, o que acaba sendo bem aceito pelos alunos. Não é uma estratégia com metodologia fixa, ou seja, à medida que novos conhecimentos surgem, as novas informações podem ser inseridas nesse mapa conceitual, fazendo com que o aluno visualize tudo e assim interprete de uma melhor forma a sua produção, conhecimento anterior e reelabore. O aluno organiza o seu conhecimento, resume, revisa e incorpora a ele novos conhecimentos com maior eficiência.
Seminários
Podem ser desenvolvidos individualmente e possibilitam uma boa aquisição de conhecimento. Podem ser utilizados para diferentes propósitos, entre eles a identificação de problemas; a análise de diferentes aspectos; a apresentação de informações relevantes; a apresentação de resultados aos membros do grupo; os comentários, críticas e sugestões dos colegas e do Instrutor. Por intermédio das pesquisas para a elaboração do seminário os alunos estimulam sua autonomia e se deparam com diversas informações que necessitam sintetizar e organizar. Desta forma, é possível que os alunos aprendam mais realizando a busca pelas informações e expondo-as posteriormente para os demais colegas e para o Instrutor. Essa é uma estratégia de maior dificuldade de aplicação no CFC devido ao tempo de duração do curso de 1ª Habilitação, contudo, pode ser adaptada e utilizada.
Utilização de TICs (tecnologia de informação e comunicação)
É uma das mais importantes estratégias de ensino. Quando o aluno visualiza e interage com o que está estudando, torna-se mais fácil o entendimento. O uso dessas ferramentas torna as aulas mais atrativas, apoiando Instrutores e alunos na construção do conhecimento. As TICs apresentam-se sob diversas formas: internet, softwares, jogos eletrônicos, blogs, recursos audiovisuais, entre tantos outros. Os alunos já levam toda a tecnologia em seu celular para sala de aula, por que não aproveitar essa ferramenta para a aprendizagem? Esses recursos diferenciados propiciam o acesso a diferentes informações que contribuem para o aprendizado dos alunos que se sentem mais motivados e atraídos pela aula por utilizarem ferramentas que dominam, o que faz com que a aprendizagem aconteça mais facilmente
Estar em sala de aula, com alunos mais motivados e interessados é muito mais gratificante do que observá-los bocejar, digitar em seu celular ou olhar para as paredes. Por estas e outras que há a necessidade de o Instrutor variar as suas metodologias e tentar fazer com que seus alunos tenham uma aprendizagem significativa.
As estratégias sugeridas podem ser utilizadas de maneira mais simplificada, adaptadas à realidade que o Instrutor vivencia em sua turma. O importante é o compromisso com a aprendizagem do aluno. Na realidade atual, não cabe mais o modelo de “adestramento” que prepara para a aprovação nas provas do DETRAN. Há que se tratar da aprendizagem dentro dos CFCs com responsabilidade, pois estes mesmos alunos que estão em sala de aula hoje, estarão no trânsito amanhã e o que levarem de conhecimento fará uma grande diferença para a segurança de todos no trânsito.